Histórias e Sonhos

O SONHO
O relato do sonho pode ser extraído diretamente das palavras do paciente, que
após um período de vários tratamentos em diversas vertentes, acaba por publicar
sua história, levando à público sua identidade e vivendo de certo modo da
notoriedade do “personagem” que restou por criar.
“Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama. (Meu leito tem o pé da
cama voltado para a janela: em frente da janela havia uma fileira de velhas
nogueiras. Sei que era inverno quando tive o sonho, e de noite.) De repente, a
janela abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos brancos
estavam sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete
deles. Os lobos eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães
pastores, pois tinham caudas grandes, como as raposas, e orelhas empinadas,
como cães quando prestam atenção a algo. Com grande terror, evidentemente de
ser comido pelos lobos, gritei e acordei. Minha babá correu até minha cama, para
ver o que me havia acontecido. Levou muito tempo até que me convencesse de
que fora apenas um sonho; tivera uma imagem tão clara e vívida da janela a abrirse e dos lobos sentados na árvore. Por fim acalmei-me, senti-me como se
houvesse escapado de algum perigo e voltei a dormir. A única ação no sonho foi à
abertura da janela, pois os lobos estavam sentados muito quietos e sem fazer
nenhum movimento sobre os ramos da árvore, à direta e à esquerda dotronco, e
olhavam para mim. Era como se tivessem fixado toda a atenção sobre mim. —
Acho que foi meu primeiro sonho de ansiedade. Tinha três, quatro, ou, no máximo,
cinco anos de idade na ocasião. Desde então, até contar onze ou doze anos,
sempre tive medo de ver algo terrível em meus sonhos”.
O paciente inclusive acrescentou um desenho que confirmava exatamente a
descrição do que surgiu em seus sonhos, imagem esta que se tornou emblemática
nos vários estudos sobre o tema que se desenvolveram e se desenvolvem até
hoje.
O primeiro sinal de evidência do interesse de Freud pelo caso surge exatamente
ai, no outono de 1912, onde ele se mostra claramente estimulado pelo sonho do
paciente, sendo que a interpretação do sonho em questão passa a ser o centro do
caso clínico. O próprio Freud deixa isso bem claro, quando afirma:
“Ficaria satisfeito se todos os meus colegas que se preparam para ser analistas
coligissem e analisassem cuidadosamente quaisquer sonhos de seus pacientes
cuja interpretação justifique a conclusão de que aqueles que os tiveram tenham
sido testemunhas de um ato sexual nos primeiros anos de vida. Uma sugestão é
sem dúvida suficiente para tornar evidente que tais sonhos são de um valor muito
especial, em mais de um aspecto. Apenas esses sonhos podem, é claro, ser
considerados como indicativos de que ocorreram na infância, e são lembrados a
partir desse período”.
A princípio indaga-se o porquê dos lobos serembrancos. Lembra-se que quando
era pequeno, o paciente costumava ir com o pai, ver as ovelhas que viviam
próximas à vizinhança, e isso o deixava extremamente feliz. Porém, o fato das

ovelhas foi marcante, porque houve um período em que ocorreu uma epidemia
entre as ovelhas, resultando assim na morte das mesmas, mesmo depois da
aplicação de medicamentos nelas.
O fato de os lobos estarem em cima da árvore, deve-se ao fato de que quando era
pequeno, ele havia ouvido seu avô contar-lhe uma historia sobre um homem, que
havia sido atacado por um lobo, que entrara pela janela de seu quarto. Na tentativa
de se defender do lobo, ele corta o rabo do mesmo com um bastão. Porém, certo
dia, enquanto caminhava pela floresta, avistou uma alcateia de lobos. Estes o
viram e foram atacá-lo, porém, o homem correu e subiu em uma árvore a fim de
defender-se dos lobos. Aquele que havia perdido a cauda resolve criar uma
estratégia, e assim, começam a formar uma torre que chegasse até o homem, que
estava na árvore. Porém o homem se safou após gritar que se apanhasse o lobo
sem cauda e assim este correu com medo. Daí considerou-se a fonte da questão
dos lobos na árvore.
O número sete, correspondente à quantidade de lobos na árvore, foi um pouco
mais complicado de se chegar a um veredito. Porém, o paciente havia relato ter
ouvido a história da chapeuzinho vermelho, mas nessa história não havia o
número sete. Já na história do lobo e os sete cabritinhoshá, e por isso, esta deve
ter sido a fonte de tal conteúdo. A cor branca também aparece nessa história, uma
vez que o lobo utiliza o branco para disfarçar a cor cinzenta de suas patas. Nas
duas histórias o lobo perece, há presença de árvore e do ato de comer.
Tudo aqui mostra uma relação com um trauma, no caso, da foto do lobo que a
irmã costumava utilizar contra ele, a fim de fazê-lo ficar quieto.
Visto o paciente ter um certo medo de seu pai, este último pode ter sido
representado no sonho como sendo o lobo. E o fato de ele estar correndo o risco
de ser atacado pelo lobo, também pode ter uma certa relação com brincadeiras, ou
“ameaças” afetuosas feitas pelo pai, tais como vou te morder, te engolir, etc.
Porém, numa questão geral, o que mais chamava a atenção do paciente, era o
fato dos lobos ficarem muito quietos e atentos a ele. E isso contribuiu bastante
para aumentar a sensação de realidade do sonho.
Para que um sonho permaneça ou tenha um sentido real para nós, ele deve ter
alguma relação com o conteúdo presente na nossa memória. No caso do homem
dos lobos, nota-se que de certo modo as histórias que foram contadas a ele,
quando ainda era criança, tiveram uma importância, ou seu conteúdo teve algum
efeito sobre ele.
Posteriormente, o paciente contou outros detalhes sobre o sonho, que levou Freud
a analisar, por exemplo, o aspecto dos lobos estarem com um olhar atento,
podendo significar na verdade poderia ser elemesmo quem estivesse olhando
atento. E o fato das janelas se abrirem repentinamente, poderia na verdade ser os
olhos dele abrindo repentinamente, ou seja, ele acordou repentinamente e viu na
frente dele uma cena de movimento violento, para qual olhou tenso e atentamente.
No primeiro caso a distorção consistiria num intercambio de sujeito e objeto, de
atividade e passividade: ser olhado em vez de olhar. No outro caso consistiria em
transformação no oposto; imobilidade no lugar de movimento.
Um outro dado, foi possível estabelecer a data do sonho, a árvore era uma árvore
de natal, teve o sonho um pouco antes do natal que também era a data do seu

aniversário, foi imediatamente antes do seu quarto ano, lhe trazendo expectativa e
ansiedade indo dormir com a expectativa que o dia daria a quantidade dupla de
presentes. A criança antecipa o natal e vê seus presentes pendurados na árvore,
mas ao invés de presentes transformam-se em lobos. O sonho termina com ele
dominado pelo medo de ser comido pelo lobo e fugindo para ser acolhido pelos
braços da babá. Dos desejos envolvido o mais poderoso deve ter sido o de
satisfação sexual que aspirava obter do pai. A repressão do impulso mediante o
desejo e consequentemente uma fuga do pai para os braços menos perigosos.
Além dessas questões acerca do sonho Freud pede para que os leitores levem em
consideração a cena primária do pai ereto e a mãe encurvada no momento do
coito como umanimal. Olhando para a ilustração da história “o lobo e os sete
cabritinhos” achou que a postura do lobo na ilustração poderia ter lhe recordado o
pai na cena primaria. O lobo do qual tinha medo sem duvida era o pai, mas o medo
do lobo era condicionado pelo fato de a criatura estar numa posição ereta.
As etapas na transformação do material, cena primária, história do lobo, conto dos
sete cabritinhos reflete o progresso dos pensamentos do sonhador durante a
construção do sonho, desejo de obter do pai satisfação sexual, a compreensão de
que a castração era uma condição necessária para isso, medo do pai. Somente
neste ponto podemos considerar o sonho de ansiedade desse menino de quatro
anos estando exaustivamente explicado.
Freud deflagra seu entendimento sobre todo o quadro do “homem dos lobos” a
partir da imagem resgatada de uma cópula entre os pais, em circunstâncias
consideradas inabituais e que favoreciam particularmente a observação.
Teria então o pequeno homem dos lobos uma idade que foi estabelecida em
aproximadamente um ano e meio. Na época estava sofrendo de malária e tinha
um ataque todos os dias a um determinado período do dia, em geral por volta das
cinco horas. Freud acreditava que era provável que justamente por causa dessa
doença ele estivesse no quarto dos pais. Como era período de verão e
considerando-se que ele nascera no dia de Natal, presumir que sua idade fosse
não mais do que 18 meses.
Estaria então eledormindo no seu berço, no quarto dos pais, e acordou, talvez por
causa da febre que subia, à tarde, possivelmente às cinco horas, um horário que
anos mais tarde seria marcado como o ponto culminante de sua depressão.
Freud acreditava que, quando o menino acordou, presenciou um coito a tergo [por
trás], repetido três vezes e de sua posição privilegiada no quarto, podia ver os
genitais da mãe, bem como o órgão do pai; e compreendeu o processo, assim
como o seu significado.
A postura em que viu seus pais adotarem durante a relação poderia ter sido
vivificada em sua memória posteriormente pela semelhança que guardava com a
submissão animal? — o homem ereto e a mulher curvada, como um animal. Já
sabemos que durante seu período de ansiedade, a irmã costumava aterrorizá-lo
com uma figura de um livro de contos infantis, na qual o lobo era mostrado em
posição vertical, com os pés em posição de movimento, as garras a descoberto e
as orelhas em pé. Durante o tratamento, ele se dedicou com perseverança
incansável à tarefa de vasculhar os sebos até encontrar o livro ilustrado da sua
infância, reconhecendo o seu mau espírito numa ilustração da história de ‘O Lobo

e os Sete Cabritinhos’. Talvez até mesmo isto explicasse a quantidade de lobos na
árvore, que ele jamais soube precisar se eram seis ou sete.
Possivelmente, ele achou que a postura do lobo nessa gravura poderia ter-lhe feito
recordar a postura adotada pelo pai no coito a tergoobjeto da cena primária. Em
todo caso, a ilustração tornou-se o ponto de partida para suas manifestações
posteriores da ansiedade.
As etapas na transformação do material; cena primária — história do lobo — conto
dos ‘Sete Cabritinhos’, refletem o progresso dos pensamentos do paciente durante
a construção do sonho: A representação do fato pode ser tida da seguinte
maneira:
Desejo de obter do pai satisfação sexual.
Compreensão de que a castração era uma condição necessária para isso —
Medo do pai.
O homem dos Lobos desenvolve por volta dos quatro anos uma profunda
ansiedade, possivelmente um repúdio do desejo de obter do pai satisfação sexual
— tendência à qual se deve a formação do sonho na sua cabeça. A forma
assumida pela ansiedade, o medo de ‘ser devorado pelo lobo’, era apenas a
transposição (como saberemos, regressiva) do desejo de copular com o pai, isto é,
de obter satisfação sexual do mesmo modo que sua mãe. Seu último objetivo
sexual, a atitude passiva em relação ao pai, sucumbiu à repressão, e em seu lugar
apareceu o medo ao pai, sob a forma de uma fobia ao lobo.
Desde a sedução, seu objeto sexual havia sido passivo, de ser tocado nos
genitais; mas transformou-se, então, por regressão ao estado mais primitivo da
organização anal-sádica, no propósito masoquista de ser espancado ou castigado.
Para ele era indiferente a questão de atingir esse objetivo com um homem ou com
uma mulher. Descobriu a vagina e osignificado biológico de masculino e feminino.
Compreendia agora que ativo era o mesmo que masculino, ao passo que passivo
era o mesmo que feminino. Seu objetivo sexual passivo deve ter sido então,
transformado em feminino, expressando-se como ‘ser copulado pelo pai’, em vez
de ‘ser por ele espancado nos genitais ou no traseiro’. Esse objetivo feminino, no
entanto, sujeitou-se à repressão e foi obrigado a deixar-se substituir pelo medo do
lobo.
Para apreciação adequada da fobia aos lobos, acrescentaremos apenas que tanto
o pai como a mãe transformando-se em lobos. Sua mãe assumiu o papel do lobo
castrado, que deixava os outros subirem sobre ele; o pai assumiu o papel do lobo
que subia. Entretanto, seu medo, conforme o ouvimos assegurar-nos, relacionavase apenas com o lobo ereto, isto é, com seu pai. Ademais, deve-nos surpreender o
fato de que o medo com o qual o sonho terminava tivesse um modelo na história
do avô. Porque nesta, o lobo castrado, que deixara os outros treparem em cima,
dele, tomava-se de medo tão logo era lembrado do fato da sua falta de cauda.
Portanto, parece que ele se identificou com a mãe castrada durante o sonho, e
agora lutava contra esse fato. Resumindo, um claro protesto da parte da sua
masculinidade!
Para refletirmos no complexo de castração precisamos nos apoiar no pensamento
inicial, a neurose obsessiva com base numa constituição anal sádica. O sadismo
do paciente e suas transformações e o que dizrespeito ao erotismo anal. Freud

relaciona o interesse pelo dinheiro ao prazer excretório. Seu paciente na época da
sua enfermidade adulta ficara muito rico graças à herança do pai e do tio. Sua
perturbação intestinal estava ligada a sua neurose infantil que representava o
pequeno traço característico da histeria que se encontra regularmente na raiz de
uma neurose obsessiva. Quando ainda criança com quatro anos e meio durante o
dia numa crise de ansiedade sujou as calças, no momento disse “não posso
continuar a viver desse jeito” estava repetindo a fala de sua mãe que a
pronunciava nas suas idas ao médico reclamando de suas dores e hemorragias,
esse lamento ele repetiu inúmeras ocasiões durante a doença posterior. Tinha
significado de identificação com a mãe.
Com a ansiedade causada pelo sonho, fruto da cena primária chegou a conclusão
de que sua mãe estava doente pelo que seu pai fez a ela, o medo de estar doente
era sua recusa de identificar-se com ela nesta cena sexual. Mas o medo era
também uma prova de que na sua elaboração da cena primária se colocou no
lugar da mãe e invejara essa relação com o pai. O órgão pelo qual sua
identificação com as mulheres, sua atitude homossexual com os homens, estava
apta a expressar-se, era a zona anal.
Presumindo então que no processo do sonho o menino, compreendeu que as
mulheres são castradas, que em vez do órgão masculino ela tem uma ferida que
serve para as relações sexuais eque essa castração é a condição necessária para
feminilidade, fomos levados a supor que a ameaça dessa perda induziu-o a
reprimir a sua atitude feminina em relação aos homens e que ele despertou do seu
entusiasmo homossexual em estado de ansiedade.
A criança interrompeu finalmente a relação dos pais fazendo cocô, o que lhe deu
uma desculpa para gritar. O fato de que o nosso menino evacuou como sinal de
sua excitação sexual, deve ser considerado como uma característica da sua
constituição sexual congênita, assumindo uma identificação com as mulheres do
que com os homens.
Num estágio posterior ao desenvolvimento sexual, as fezes adquirem o significado
de um bebê. Pois os bebês como as fezes nascem através do ânus. O significado
de dádiva das fezes admite prontamente essa transformação. Quando mais tarde
chego a descrever sintomas do meu paciente, o modo pela qual a perturbação
intestinal se colocara a serviço da corrente homossexual e dera expressão a sua
atitude feminina em relação a seu pai, torna-se mais uma vez evidente. Entretanto
mencionaremos outro significado que nos levará a uma exposição do complexo de
castração.
Inicialmente nosso paciente rejeitava a castração e se apegava a sua teoria de
relação sexual pelo ânus. O significado da frase é ele não teria nada a ver com a
castração, no sentido de havê-la reprimido. Tal atitude, no entanto, pode não ter
sido a atitude final, mesmo na época da sua neurose infantil.Encontramos uma
subsequente, evidência nítida de que tenha reconhecido a castração como um
fato. Conquanto as ameaças ou sugestões de castração com que se deparou
tenham emanado de mulheres, esse fato não poderia retardar em muito o
resultado final. Apesar de tudo foi de seu pai que ele veio a temer, afinal, a
castração. Nesse aspecto a herança triunfou sobre a experiência acidental; na préhistória do homem, era indubitavelmente o pai que praticava a castração como um

castigo, e que o suavizou, depois na circuncisão. Quanto mais o paciente
avançava na repressão a sensualidade durante o desenvolvimento da neurose
obsessiva, tanto mais natural se deve ter tornado para ele atribuir essas más
intenções a seu pai, que era o verdadeiro representante da atividade sensual.
A identificação que fez de seu pai com o castrador, tornou-se importante como
sendo a fonte de uma intensa hostilidade inconsciente contra ele e de um
sentimento de culpa que reagia contra essa hostilidade. Então de repente, em
conexão com um sonho, a analise emergiu outra vez no período pré- histórico e
induziu-o a afirmar que durante a cópula, na cena primária, ele observará o pênis
desaparecer, que sentira pena do pai por causa disso e que se alegrara com o
reaparecimento daquilo que achara que estava perdido. Ali estava por tanto, um
impulso emocional recente, partindo uma vez mais da cena primária.
Segundo Freud, são as perguntas pueris sobre a origem dosbebes que servem de
ponto de partida para a investigação sexual das crianças, dando origem a suas
teorias sobre a sexualidade.
Através das respostas por ela adquiridas, a criança vai montando pela
confrontação de informações suas próprias teorias, atribuindo a todas as pessoas
um pênis, por exemplo, ou imaginando que um bebê possa ser evacuado pelo
ânus, criando uma concepção sádica do coito.
Freud acreditava firmemente que era a construção destas teorias que fomentava a
constituição das neuroses e seus sintomas; é com fundamento nestas discussões
e nos conflitos subsequentes que a criança demonstra uma “predileção pulsional”,
opondo-se a teoria sustentada pelos adultos e deflagrando o conflito entre o saber
do corpo e o saber do Outro, fazendo eclodir uma sexualidade com característica
traumática havida pela ruptura psíquica que constitui o cerne da neurose.
Assim, o material do qual é constituída a neurose, certamente pode ser definido
como aquele ligado a satisfação própria da vida sexual infantil, que
fragmentadamente tem estrutura ficcional sobrepondo-se a organização libidinal da
criança, ligando-se a sua pulsão na medida em que esta se interrelaciona entre a
sexualidade e o seu psiquismo.
A criança, então futuro neurótico, vai inventando um saber e dele constituindo a
sua neurose, através de seu saber fragmentário e inconsciente, próprio da sua
recuperação do outro.
O tratamento durou inicial durou de fevereirode 1910 a julho de 1914. O paciente
voltou a Viena na primavera de 1919, e Freud tratou-o novamente de novembro de
1919 a fevereiro de 1920, Freud relata que após esse segundo tratamento o
paciente continuou a morar em Viena e de modo geral conservou a sanidade
embora com interrupções ocasionais, esses episódios foram Tratados pelos seus
discípulos, a Dra Ruth Mack Brunswick, ela própria informou detalhes do
tratamento que durou de outubro de 1926 á fevereiro de 1927. Depois houve um
breve relato do paciente em 1940. É um relato posterior falando das dificuldades
que o paciente enfrentou depois da segunda guerra mundial, e a sua reação a
essas

dificuldades, depois o paciente fez a sua autobiografia intitulada The Wolf Man and
Sigmund Freud (1971) editado pela Muriel Gardiner.
Termos Psicanalíticos
Neurose Obsessiva: Tem como origem um conflito psíquico infantil e uma etiologia
sexual caracterizada por uma fixação da libido no estádio anal. No plano clínico
manifesta-se através de ritos conjuratórios de tipo religioso, sintomas obsedantes e
uma ruminação mental permanente, na qual intervêm dúvidas e escrúpulos que
inibem o pensamento e a ação.
A partir dos quatros anos de idade a mãe do Homem dos Lobos começa a contar
história da bíblia com esperança de distraí-lo e animá-lo, que foi extremamente
bem sucedida, porém seus sintomas de ansiedade foram substituídos por
sintomas obsessivos. Precedida por uma fase em que tinhareceio de dormir, por
medo de pesadelos, sentia-se agora obrigado a beijar todas as imagens sagrada
que havia no quarto, a dizer orações e a fazer incontáveis vezes o sinal da cruz,
em sim mesmo e sobre a sua cama antes de dormir.
Cena originária ou cena primária: Cena de relação sexual entre os pais, observada
ou suposta segundo determinados índices e fantasiada pela criança, que é
geralmente interpretada por ela como um ato de violência por parte do pai.
O menino dos lobos estava doente, nesse período estava dormindo no quarto dos
pais; quando
estava no berço ele acordou e presenciou os genitais da mãe, bem como órgão do
pai;e possivelmente, ele achou que a postura do lobo na gravura do livro “O Lobo e
os Sete Cabritinhos” poderia ter-lhe recordado a postura adotada pelo pai no coito
a tergo, objeto da cena primária. Que tornou-se o ponto de partida para suas
manifestações posteriores da ansiedade.
Complexo de castração: o complexo é centrado na fantasia de castração na
presença ou ausência de um pênis, colocara para criança. Essa diferença é
atribuída á amputação do pênis na menina. A estrutura e os efeitos do complexo
de castração são diferentes no menino e na menina. O menino teme a castração
como a realização de uma ameaça paterna em resposta ás suas atividades
sexuais, surgindo dai uma intensa angústia de castração. Na menina uma
ausência de pênis é sentida como um dano sofrido que ela procura negar,
compensar oureparar.
No sonho a mãe assumiu o papel do lobo castrado, que deixava os outros subirem
sobre ela; o pai assumiu o papel do lobo que subia em cima, entretanto, seu medo,
conforme o ouvimos assegurar-nos, relacionava-se apenas com o lobo ereto, isto
é, com seu pai.
O medo com qual o sonho terminava tivesse um modelo na historia que o avô
contou. Porque nesta, o lobo castrado que deixara os outros treparem em cima
dele, tomava-se de medo e tão logo era lembrado do fato da sua falta de cauda.
Portanto,
parece que ele se identificou com a mãe castrada durante o sonho, e agora lutava
contra esse fato. Resumindo, um claro protesto da parte sua masculinidade.
Fase-sádico- anal: Freud diz que a segunda fase da evolução libidinal, pode ser
situada aproximadamente entre dois a quatro anos; é caracterizada por uma
organização da libido sob o primado da zona erógena anal; a relação de objeto
está impregnada de significações ligadas a defecação ( expulsão-retenção) e ao
valor simbólico das fezes.
A respeito ao erotismo anal, Freud relaciona o interesse pelo dinheiro ao prazer
excretório. Seu paciente na época da sua enfermidade adulta ficara muito rico
graças à herança do pai e do tio. Sua perturbação intestinal estava ligada a sua

neurose infantil que representava o pequeno traço característico da histeria que se
encontra regularmente na raiz de uma neurose obsessiva. Quando ainda criança
com quatro anos e meio, durante o dianuma crise de ansiedade sujou as calças,
no momento disse “não posso continuar a viver desse jeito”, estava repetindo a
fala de sua mãe que a pronunciava nas suas idas ao médico reclamando de suas
dores e hemorragias, esse lamento ele repetiu inúmeras ocasiões durante a
doença posterior. Tinha significado de identificação com a mãe.

Apreciação Critica
O texto que nos foi proposto, intitulado “O homem dos lobos”, parece ser muito
mais complexo
do que a análise que se fez dele. Apesar de Freud discorrer sobre um histórico
completo da sua enfermidade, do tratamento, e recuperação o objetivo principal
era falar sobre a neurose infantil. A fragmentação de material retirado no período
da análise e também a distância do fato coloca a história na perspectiva de
pressupostos. Uma análise de um distúrbio da infância por meio da recordação de
um adulto intelectualmente maduro está livre de algumas limitações da criança,
mas, é preciso que levemos em conta a distorção e a reelaboração as quais o
passado de uma pessoa está sujeito, quando visto da perspectiva de um período
posterior.
A análise conduziu a origem dos sintomas até esses traumas sexuais infantis, as
experiências sexuais passivas nos primeiros anos da infância. Freud começou
elaborando um esquema explicativo da etiologia da neurose na relação entre a
sexualidade e o traumatismo, a chamada teoria da sedução. A criança sofre da
parte do adulto um assédio sexual, mas semexcitação sexual, por falta de
condições somáticas de excitação e das representações para integrar esse fato.
Posteriormente na puberdade, ocorre uma segunda cena que evoca a cena
traumática da infância, deflagrando uma excitação sexual, levando o sujeito a
recalcar a lembrança.
Ao diferenciar o conceito de realidade psíquica do conceito de realidade material,
atentando para o fato desta ser dirigida pelo
Princípio do Prazer, compreende que é nesta interpretação da fantasia que o
aparelho psíquico passará a funcionar. Utilizando-se das fantasias com o intuito de
encobrir a atividade auto-erótica, os primeiros anos da infância, e atribuir-lhe um
caráter mais enobrecedor. Porém, toda a fantasia tem como pano de fundo a
representação da vida sexual que se pretende não vir à tona. A análise caminhará
junto da fantasia como “realidade psíquica” na busca da análise de sua estrutura.
As fantasias inconscientes participam do remanejamento do conteúdo manifesto
do sonho, constituída pela elaboração secundária, e a inconsciente inscreve-se na
origem da formação do sonho.
As fantasias originárias podem ser redesenhadas neste conceito como “tesouro de
fantasias inconscientes que a análise pode descobrir em todos os neuróticos e,
provavelmente em todas as crianças” e são definidas também como fantasias
originárias ou fantasias filogenéticas, numa busca da origem da história individual
do sujeito. No caso do Homem dos Lobos, Freuddesenvolve um extenso e
profundo tratado sobre a teoria psicanalítica abordando pontos relevantes para a
compreensão de como os mecanismos da relação analítica atuam no processo de
reconstrução do sujeito e de sua história psíquica.
Maior destaque atribui-se a relevância dada por Freud ao fantasma constituído ao
redor da cena primitiva, quer seja para a

compreensão de todos os sintomas do paciente, quer seja para o desenvolvimento
de todo o percurso analítico.
Freud fala do veto ao dizer ao paciente sobre suas fantasias e da impossibilidade
da abreviação do tratamento, mas pautar a analise no real significado das
fantasias e da importância destas para o entendimento do quadro real da vida do
paciente naquele momento de vida.
Freud adverte quanto aos equívocos que podem ser cometidos por psicólogos
inexperientes ou avessos a sua técnica e no que se refere à abreviação do
tratamento quando a ciência das suas fantasias ou eventos traumáticos em se
tratar de fantasias e dar o paciente como curado diante dessa ciência, nesse
momento.
O caso o Homem dos lobos foi o mais longo e como dito pelo próprio Freud
também foi o mais complexo, posto que em virtude da necessidade de se tratar o
paciente em dois tempos de sua vida: A criança e o Adulto seja natural a
resistência do adulto em falar das fantasias infantis e daí a complexidade do
tratamento.

Referencia Bibliográfica:
FREUD, Sigmund – Uma neurose infantil e outros trabalhos, Vol.XVII, Ed.Imago,
São Paulo, 1996
LAPLANCHE, J. – Vocabulário da Psicanálise, Martins Fontes, São Paulo, 2000.
Roudinesco, Elizabeth e Plon, Michel – Dicionário da Psicanálise 1 edição Editora
Zahar Ano 1998.

Quem é o Homem dos lobos?
O caso do homens dos lobos é um dos casos clássicos de Freud e já fomentou
muitas discussões sobre os aspectos analíticos do próprio Freud e sua capacidade
de lidar com o que o paciente trouxe ao seu setting. O caso do homem dos lobos
foi escrito em 1914, mas foi publicado apenas em 1918 por resguardar o paciente
e pesar de forma mais contundente se o relato seria proveitoso para o avanço da
psicanálise. Não discutiremos, no presente trabalho, as direções tomadas por
Freud em sua análise com o homem dos lobos, mas traremos dos apontamentos
feitos pelo criador da Psicanálise reflexões e questionamentos importantes sobre a
perspectiva do fazer clínico, quanto se guiado pela lógica do inconsciente, da
emersão do sintoma como uma mensagem a ser decifrada que se revela por tentar
esconder-se e como tal disposição o afeta e o faz retornar as suas primeiras
relações.
Mas quem de fato é o homem dos lobos? Seu nome é Sergei Konstantinovitch
Pankejef, mas Freud inicia o relato de sua experiência com o homem do lobos
falando sobre ter o cuidado de não expor demais o seu analisando por motivações
éticas e tendo como objetivo sempre salvaguardar o espaço clínico, a relação de
transferência construídodentro dessa clínica e o próprio sujeito que se expõe e se
mostra na clínica psicanalítica. Mas algumas das informações do paciente, que
inicialmente devem ter sido atentadas meticulosamente pelo analista, devem ser
ressaltadas: O homem dos lobos era um jovem de mais de 20 anos quando
procurou com Freud e a clínica psicanalítica. Nascido na Rússia, o que levou
alguns desafios quanto a análise pois, sendo Freud austríaco e tendo o alemão
como língua corrente, a estrutura e uso da linguagem do homem dos lobos eram
estranhos a Freud e, muitas vezes, se mostravam como pedra angular do sintoma
apresentado. Sua queixa inicial era que, desde uma crise de gonorreia
desencadeada alguns anos antes, quando tinha apenas 19 anos, sentiu-se
desmotivado a viver. Mesmo com a doença curada o analisando ainda não se
sentia motivado. O paciente contava que os dez anos anteriores a doença, dos 9
aos 19 anos, ele teria vivido de forma saudável, sem maiores problemas psíquicos
ou físicos. Casos anteriores relatados que são anteriores a essas crise que se
seguiram à afecção gonorréica, apontando para o período de sua tenra infância,
temos o relato do paciente de uma zoofobia muito forte, um medo de lobos,
principalmente os antropomorfizados, como nas fábulas antigas que o avô contava
para ele. Zoofobia essa que sempre se relacionava, sendo trazido à tona a relação
entre os dois por meio da análise, com um sonho que relatava o analisandodormindo em um berço quando, acometido por um mal súbito acorda-se e vê pela
janela subitamente aberta violentamente por outrem que existe uma árvore com 6
ou 7 lobos em seus galhos. Tais lobos se assemelham a raposas por terem rabos
felpudos e a cães por suas orelhas levantadas. Os lobos olhavam Sergei com
atenção e ser observado dessa forma trazia ao analisando uma sensação de
angústia. Somente quando o paciente traz esses conteúdos pode-se, de fato,
aprofundar-se no caso.

Lobos em uma árvore: Cena primária e trauma no homem dos lobos.
A cena primária é a cena fonte de todos os sintomas dos neuróticos, é de onde
vem a certeza inequívoca de que a castração existe e que dela o sujeito também é
suscetível Essa cena normalmente vem em dois momentos diferentes: no primeiro
momento o sujeito se depara com a inegabilidade da diferença sexual.
Principalmente para o menino, o encontro com a diferença sexual representa uma
angústia de perder o que lhe foi dado, de ser castrado, e, a partir dessa angústia
que o menino vai se posicionar na tríade mãe-pai-filho, ou, como Freud dizia,
entrar no complexo de Édipo. Como que herdeiro desse complexo se apresenta a
estrutura do supereu que tem como dupla função: tanto nos faz próximos de uma
representação ideal quanto nos repreende e desencoraja a tentar alcançar essa
perfeição ideal. Todo esse processo é pesaroso, mesmo que necessário na
formação do sujeito, e acaba se esquadrinhando como oprimeiro conjunto de
traumas da pessoa. Se distanciar de uma condição, mesmo que ilusória, de
completude com o ser que representa a mãe ou esse cuidado maternal é muito
penoso para o sujeito, mas é condição fundamental para seu desenvolvimento.
Num segundo tempo, (segundo encontro com o sexual) quando, por meio de
reinterpretação, retoma o conteúdo da primeira cena e, sob o medo da castração,
recalca os conteúdos e os modifica de forma a que possibilite o sujeito a lidar de
forma mais branda com essa diferenciação.
O caso do homem dos lobos exemplifica bem como a cena primária pode permear
todo o processo da análise sendo, normalmente, trazida à tona apenas quando se
aproxima de seus últimos momentos. A cena primária se encontra no centro
topográfico do sintoma, de onde emerge a forma de lidar com o mundo do sujeito.
A criança que ainda se encontra numa organização psíquica muito arcaica, ainda
muito atrelada aos movimentos pulsionais narcísicos, depara-se com o sexual em
sua forma mais crua, a inevitabilidade da diferença sexual. Encontro esse que,
principalmente para os homens, se torna, durante muito tempo, insustentável. O
menino e a menina num momento inicial se perguntam se todos tem o falo, que
num primeiro momento é representado pelo pênis. Só quando toma-se consciência
de que nem todos tem o falo, que os sujeitos são diferenciados, podem se
diferenciar da mãe, que no inicio era tido como parte do sujeito e fontede sua
pretensa unicidade, o sujeito pode se desenvolver como pessoa. O encontro com o
traumático da diferença sexual nos revela uma realidade que não estávamos
preparados para lidar: a falta do falo. A falta que se impõe primeiramente na falta
do pênis na mãe e suas derivações vai se refletir na forma que a criança vai lidar
com o mundo. Frente a essa falta, a criança se posicionará a suprir ou não essa
falta materna e atrelando-se a mãe ou não de forma mais ou menos fixa seja
servindo como complemento a mãe para desmentir a falta, como no caso da
perversão, ou como tomando a culpa pela falta, como no caso da neurose ou
ainda foracluindo essa falta e sendo tomado pelo desejo da mãe, como no caso da
psicose. O encontro com o traumático é penoso ao ser, mas é a pedra angular
onde vai se fundar o sujeito.
Temos bem claro, na escrita de Freud sobre o caso em questão, a definição dos
dois momentos da cena primária no homem dos lobos: Primeiro, se seguirmos o

tempo em que o analisando apresenta suas elucidações sobre o assunto, temos o
sonho recorrente dos lobos em cima da árvore e sua zoofobia subjacente. A fobia,
mesmo não sendo o primeiro fato na vida do sujeito que é relacionada ao sintomas
apresentados, pode ser tomada como ponto de partida para nossa discussão, pois
ela se configura como o ponto que amarra todo o resto dos acontecimentos. Não é
por acaso que é o primeiro sintoma a ser trazido pelo analisando que irá,a partir
das intervenções do analista, remontar toda a “pré-história” do sujeito desejante. A
fobia por lobos é anunciada por um sonho: o paciente se encontra dormindo e
acorda no sonho, as janelas se abrem, ele dorme de frente as janelas, e ao longe
pode-se ver um grupo de lobos agrupados em uma árvore, um pinheiro no caso.
As caudas dos lobos eram mais fofas que o normal e quando perguntado sobre a
quantidade de lobos ele aponta que existiam seis ou sete. Os lobos não o atacam
nem se mexem apenas o encaram e isso traz uma angústia muito grande ao
paciente. Junto ao analista, o paciente vai desarticulando cada aspecto do sonho:
1) o fato de se acordar de supetão e tal como a abertura das janelas é uma
metáfora da abertura dos olhos, motivada por fatores externos; a imobilidade do
grupo de lobos chama a atenção:
2) se não havia a movimentação dos lobos em sentido de atacá-los por que então
que a angústia toma o sujeito? O que na plácida observação dos lobos traz ao
paciente que o toma de assalto? Só se o fato da imobilidade dos lobos apontarem
para algo diferente daquilo que se mostra: que a imobilidade representada,
principalmente, pelos lobos na árvore representem, como questionado e validado
pelo analisando, na verdade seu oposto: uma movimentação brusca e rápida que
em forma de defesa do eu foi representado por seu oposto.
3) Se esse aspecto da imobilidade teria sido representada em oposto, que outros
elementos nãoestariam representados da mesma forma?
4) A árvore que aparece nos sonho se mostra de forma específica: é um pinheiro.
A especificidade da árvore demarca uma pista que é trazida do próprio analisando:
não se trata de uma árvore qualquer, é uma árvore de natal.
Cabe, agora, fazermos um parênteses e darmos algumas explicações sobre o
paciente: seu aniversário é no dia de natal e em todos os anos, no dia de natal, o
paciente recebia dois presentes. E no ano em que completa 4 anos e algum tempo
após de ter tido o sonho que se transformaria em fobia houve uma queixa muito
grande sobre os presentes que ele havia recebido no natal, algo que era inédito
para ele. A partir desse acontecimento ele passou de uma criança ordeira e bem
educada para uma mais agressiva e pouco temente as leis, mas discutiremos isso
a seguir.
Continuando com a temática do sonho do paciente temos já a ideia de ser uma
árvore de natal, o que nos traz a ideia de que o que o sonho esteja se remete
aconteceu num dia de aniversário dele ou próximo ao tempo de natal. Agora sobre
o fato de serem lobos: em primeiro lugar a quantidade não é aleatória, sete lobos
são retirados de uma lenda que seu pai contava ao paciente quando criança, a
historia do lobo e do alfaiate. Essa é a história de um alfaiate que por descuido
corta a cauda de um lobo que o persegue até que o alfaiate sobe em um a árvore.
O lobo com a cauda cortada chama mais 6 lobos para que eles possam,montando
uns nos outros, alcançar o alfaiate. Como o lobo que foi cortado o rabo era o mais

velho e o mais forte foi ele que ficou na base e quando o alfaiate viu o que os lobos
queriam com tudo aquilo, ele gritou ao lobo de baixo sobre seu rabo e o lobo fugiu
em vergonha, desfazendo a torre que iria atacar o alfaiate. Então por que os lobos
nessa quantidade? Seis eram a alcatéia que foi chamada pelo lobo “castrado” e
sete era a alcatéia com o lobo castrado. A questão da castração do rabo é tão forte
que vem em excesso no sonho como uma compensação: os lobos todos tem
rabos muito felpudos. O lobo em si representava tanto o medo de ser castrado
pelo pai, quanto a ideia que o pai poderia agir como os lobos das fábulas e comêlo, tomá-lo para si. E trazendo à tona a questão do lobo pra uma ótica mais
próxima temos a questão da fobia se um tanto específica quanto a imagem que
despertava pavor no sujeito desejante: era uma ilustração dessa mesma lenda que
foi contada pelo pai em que aparece um lobo andando em uma posição ereta. O
fato de estar em uma posição “humana” o apavorava pois aproximava mais a ideia
do pai poder consumi-lo, e junto com a ideia de que o pai, quando filho era menor,
brincava com ele dizendo que iria comê-lo só o fez se aproximar mais e mais a
representação do lobo com a representação do lobo que iria consumir seu corpo e
usar dele. Então para não ser consumido o paciente decide então se afastar dessapulsão dirigida ao pai. Outro, e talvez mais importante, aspecto desse sonho é que
remonta a cena primária do paciente em que o filho com apenas um ano e meio e
sofrendo de malária, que mesmo em seu corpo era colocado como um
componente estranho e externo que o fez acordar, o paciente presencia uma cena
de coito dos pais em que eles estão a tergo, ou na posição bestial.
Herdeiro dos lobos: Estruturas superegóicas como proteção do aparelho psíquico.
Como já dito, Freud define o Supereu como o herdeiro do complexo de Édipo,
como aquilo que vem quando é instaurada a Lei do pai em detrimento a imaginária
relação de completude com a mãe. O supereu seria uma instancia de regulação do
aparelho psíquico responsável, primeiramente, pela regulação dos conteúdos
recalcados e controle do fluxo energético do inconsciente a consciência(Freud, o
inconsciente, 1915).
No sonho apresentado pelo analisando temos uma clara demonstração da ação
superegóica como uma forma de proteção do sujeito desejante. O primeiro aspecto
trazido à tona que pode ser considerado e que permeia toda a representação do
sonho é o fato do deslocamento do sujeito de sujeito que faz a ação para sujeito
que sofre a ação possivelmente retirando o peso da culpa de ter procurado
ativamente saber o que se passava com os pais e, em tese, se deparar com uma
visão que lhe provocasse uma tomada de consciência de algo tão forte como a
ideia da diferença sexual.
Como outrocomponente temos a modificação de significantes do sonho que se
ligam diretamente ao conteúdo da cena primária: os lobos. A própria
representação do lobo, redirecionada dos contos infantis que o avô contava
quando criança, é um desvio dessa imagem paterna passível de consumição do
sujeito assim como pode consumir a mãe, que deveria ser completa e inabalável.
O corpo do lobo também sofre modificações que defendem o sujeito de sua própria
possível castração: suas caudas, que no conto original o lobo alfa da matilha havia

sido castrado de sua cauda, aparecem felpudas e grandes como de raposas
tentando equalizar a falta proeminente do sujeito exacerbando o que foi retirado e
prevenindo a perda.
Contrapondo alguns escrito que colocam o supereu como apenas algoz do eu e
interpolação do externo ao sujeito com a realidade interna, podemos relatar que a
ação do supereu também visa uma proteção do eu que, quanto mais forte; mais
exacerbada, possibilita, por meio de uma relação de revela por meio de tentar
esconder portanto da resistência a alguns conteúdos, a ação da psicanalise.
Para entender o caso de uma forma mais coesa vamos retornar a primeira infância
do paciente e, daí, seguir conforme a linha de tempo conforme os sintomas vão se
apresentando na vida do paciente e fazendo as ressalvas temporais necessárias.
Lembrando que essa é uma forma de organizar o caso, mas não a única. O autor
mesmo decidiu-se por usar os fatos quese emergem como o analisando os trouxe,
se importando mais com a ordem das emersões do que mesmo a ordem
cronológica.
A mãe e a repetição de objeto: as mulheres do homem
Sobre a repetição, Freud (Recordar, repetir, elaborar, 1914) nos fala que o
analisando, muitas vezes, não esta consciente de que repete algumas situações.
Mesmo pode vir a notar a repetição e sofrer com a mesma, mas não mas não a
reconhece como sua. A este estado Freud nos diz que é próximo ao estado
hipnótico, pois lida com algumas emersões do inconsciente sem trazê-lo à tona,
sobre esse estado:
“…, é lícito afirmar que o analisando não recorda absolutamente o que foi
esquecido e reprimido, mas sim o atua. Ele não o reproduz como lembrança, mas
como ato, ele o repete, naturalmente sem saber que o faz.”(FREUD, 1914, pagina
149)
E, seguindo nesse mesmo escrito, Freud(1914) nos diz que mesmo as pulsões
que mais sofrem resistências são as que mais decaem para essa atuação sem
consciência. Com essas considerações como guia, voltemos ao texto.
Deparamo-nos, então, com uma reflexão interessante: onde esta a representação
da mãe? Até agora, e por todo relato do paciente, temos uma grande referência ao
pai como esse grande castrador que engolirá se o paciente não desistir de sua
pulsão homossexual dirigida ao pai e lutar para se tornar como ele. A mãe tem, no
discurso do paciente, dois momentos de influência direta em sua vida: um aos 3
anos e 3 meses, que serámais ilustrativo nesse momento e outro muito posterior
ao caso de zoofobia que será um desdobramento do da primeira infância: quando
o paciente ainda estava na primeira infância, um período ainda entre a cena
primária e o sonho em que ele estava em plena pesquisa sexual, a mãe lhe leva
para ver um médico pois ela, a mãe, sofria de muita cólicas e no caminho ela teria
dito que não poderia viver dessa forma. Essa questão de como poderia viver dessa
forma e as dores abdominais o influenciaram tão fortemente que ele formulou uma
teoria sobre o nascimentos dos bebês por um tipo de cloaca: como se o reto
pudesse dar a luz a um filho. Com o choque traumático do sonho, compreendendo

que as genitálias do homem e da mulher são, de fato diferentes, e com toda carga
emocional e se deparando com a castração, mesmo assim, como uma forma de
proteção narcísica, ele não larga a ideia de que pode dar um filho-fezes ao pai pelo
reto. Essa representação, ao passar do tempo, se modifica, mas nunca é de fato
esquecida.
O outro momento em que a mãe ganha um papel de destaque na vida do paciente
é quando ele reclama a mãe o uso do dinheiro, que é um substitutivo do filho-fezes
do e para o pai, dizendo que ela não o amava e não cuidava dele. Esse reclame
do filho não nascido para a mãe é tão somente o reclame do filho que ele não
pode dar ao pai e que ela poderia, a qualquer minuto, substitui-lo.
Concorrente a todas essas representações temosas relações do pacientes com as
mulheres que viriam a ser um tipo de base de como lida com as mulheres de ali
em diante, temos em ordem: Groucha, Nânia, a governanta inglesa e sua irmã.
Groucha foi sua primeira babá e, de certa forma, seu primeiro amor depois da
mãe. Foi com ela que o paciente teve sua primeira excitação, quando nem mesmo
ele sabia o que isso ainda representava: Groucha estava lavando o chão com um
balde e uma escovinha numa posição parecida com a que sua mãe estava no
momento em que ele a observou no coito com seu pai. Vendo essa cena ele teve
uma vontade muito grande de mijar-se e acabou fazendo no mesmo chão que sua
babá estava limpando, esta reagiu de forma a reiterar a ideia da castração dizendo
que cortaria seu pênis se fizesse de novo. De certa forma esse acontecimento
acabou por definir sua indefinição frente ao desejo: a excitação que o fazia sentir
ativo, próximo ao pai, viria sempre com a lembrança de uma passividade possível.
Sua atividade como homem viria sempre com o risco da castração. Esse risco o
marcou tanto que uma das fobias, fora a dos lobos que já foi discutida, era de uma
borboleta que apresentava faixas pretas e amarelas. Só com muitas
representações que o paciente pode então juntar o significante da borboleta com a
Groucha, cujo o nome vem de uma pera que apresenta as mesmas faixas. Outro
fator decisivo de sua vida trazido por esse episodio foi sua escolha objetal de
amor: elesempre escolhia mulheres camponesas de poder muito abaixo do dele,
com as ancas largas e ele só encontraria o prazer simulando a mesmo posição
que ele viu os pais.
A relação com as três últimas foram mais lidadas de uma forma mais consciente,
por serem após o sonho e o paciente já ter conseguido elaborar alguns dos
conteúdos apresentados. Nânia, de certa forma, herdou o posicionamento de
Groucha, isso pode ser visto na confusão inicial que o paciente fazia quando
lembrava de uma das duas quando afirmava, primeiramente que Groucha não
existia, talvez como uma forma também de se proteger de todo as representações
que vinham com a primeira babá, e em um segundo momento trocando uma pela
outra. Mas Nânia, ao contrário de Groucha, incitava não só a ação do analisando,
mas também de sua irmã que em sua própria pesquisa sexual usa o que,
aparentemente, observava com Nânia fazendo com os homens da casa e testava
fazer o mesmo com seu irmão. Tal relação, tanto com a irmã quanto com Nânia
marca profundamente o analisando, pois de novo temos aqui a dicotomia
passividade/atividade influenciando de uma forma, em um certo grau, destrutiva,
pois temos a irmã muitas vezes violentando o irmão e culpando a Nânia dessa

violência dizendo que a babá costumeiramente fazia coisas como pegar no pênis
dos homens da casa que, não o pai, e ficando de cabeça pra baixo. O paciente
mostrava que queria culpar Nânia e a irmã pela violência, mas, aomesmo tempo
aceitava tal invasão e chegou a pedi-la por algum tempo pra irmã. Inclusive tal
manejo com a violência acabou se direcionando para duas saídas: a
transformações masoquistas-anais em sádicos-orais no momento de seus quatro
anos, talvez causando a transformação da “criança ordeira” para a “criança
problema” que os pais criticaram e colocaram casa a fora a governanta inglesa
pensando que ela fosse causa dessa mudança e, bem mais tarde, as lavagens
intestinais que retirava o “véu” que se punha entre o paciente e o mundo, véu esse
que remonta a condição de como foi o nascimento do paciente, que nasceu
encoberto com uma fina camada de pelica. A governanta inglesa serviu, apenas
como barra entre o paciente e Nânia, fazendo ele confessar seu amor a ela
quando a governanta estava xingando e brigando com a babá.
Com o tempo e a proximidade, a babá foi aos poucos “doutrinando” o garoto
usando-se da religião Nânia conseguiu acalmar o paciente e de certa forma trazer
de forma o menino ordeiro que ele um dia foi, mas com muito mais rituais de cunho
religioso: toda noite o menino, de agora, 5 anos e meio tinha que todas as noites
antes de dormir dar uma série de voltas ao redor dos santos e beijar-lhes os pés. A
proximidade com a religião também o fez questionar muito a posição dúbia de
Deus, que tanto queria maltratar seu filho quando cuidar dele. O paciente se via
muito na figura de Cristo, como um filho atormentado de umpai dúbio, que varia
de ódio e amor numa única via crucies. Foi também nessa nova fase religiosa e
com essas identificações que o paciente traz algumas situações que lhe deram
muita angustia como no caso do Deus-fezes, quando em um passeio com a mãe
vira 3 montinhos de fezes de cavalo e não conseguia não pensar sobre a
santíssima trindade, ou quando relacionou a ideia de Deus com os porcos quando
pensou na passagem bíblica de como os Jesus teria pegado espíritos ruins e
jogado aos porcos que se jogaram de um penhasco. O paciente, de novo
relacionado com a imagem de Cristo, viu-se podendo enviar sua irmã, que para ele
era claramente um espírito ruim, para a carne de um porco e fazê-la se jogar de
um penhasco. Será que ele estava tentando se proteger de sua irmã apenas ou de
toda sorte de mulheres que invadiram sua vida? Era de sua irmã ou do feminino
como um todo que o paciente se defendia?
Defender-se parecia ser a palavra de ordem do paciente, mas como defender-se
de algo se não se aprisiona a rede lógica da razão e se engrandece e, de tempos
em tempo, nos toma o corpo de assalto? O paciente quando se liga ao significante
de Deus, buscando no pai antes totêmico e agora, vindo da mesma fonte(Freud
1918); mas de relação totalmente diferente. O paciente se colocava em certos
rituais específicos antes de se livrar de alguns comportamentos danosos que se
relacionavam a significantes específicos: como da vez que, querendo selivrar do
comportamento de matar pequenos animais, organizou uma última grande
matança e nunca mais retornou a matar animais. Esse ritual de exacerbação de
um significante antes de deixá-lo de uma vez o seguiu por toda a vida. Mas um
desses significantes foi mais difícil de se livrar que as outros: o significante que
representava a falência do próprio Falo. Quando limpando o estábulo da velha

propriedade em que morava, a situação econômica da família ia muito ruim por
causa da doença de seu pai, ele viu o seu dedo mindinho da mão ser decepado e
ficar pendurado apenas pela pele. Ficou algum tempo em choque com a imagem e
nem conseguiu chamar a Nânia, mesmo podendo vê-la. A experiência foi
angustiante e talvez tenha representado a falência do falo do pai, acometido pela
doença e a própria impossibilidade sentida pelo paciente nessa situação.
Com o agravamento da situação do pai do paciente, a família, que tinha duas
propriedades, se vê obrigada a vender uma e se mudar para a outra. E com a
mudança veio também o professor alemão que viria a ser um substituto ao pai.
Esse professor era aficionado por guerras e militarismo e de pouco em pouco o
paciente passa da religiosidade da mãe e da Nânia para a lei militar do professor.
E em um sonho icônico ele muda sua fobia de lobo, totem do pai agora moribundo,
para o leão, totem do professor.
Antes da morte do pai, o paciente ainda o visita uma vez e o encontra em situaçãodeplorável, com dificuldade de respirar. É a morte da possibilidade de alguma
retomada da lei do pai biológico sobre o paciente. Ao contrário, o paciente
desenvolve uma repulsa aos mendigos que de alguma forma lembrem o pai.
Associando a respiração com o ato de separar-se do pai ele adquiri um novo ritual
de expirar ou inspirar ruidosamente ao ver um mendigo e não respirar até que
tenha passado dele.
Com o tempo, o paciente foi primeiro se aproximando de sua irmã na
adolescência, mas com a maturidade a distância se fez entre os dois. Quando sua
irmã faleceu, não se permitiu ficar feliz ou triste, mas em seu íntimo estava feliz por
ter se livrado de uma divisão nas finanças que seu pai tinha deixado. Somente
meses depois que o paciente se deixou levar pelo sentimento de luto de sua irmã.
Não pela imagem de sua irmã, mas por um poeta que a lhe representava. A irmã
fazia, quando o pai era vivo poesias que o pai comparava ao do poeta. O paciente
foi, levado por um intenso sentimento de luto, para o mausoléu do poeta e chorou
sua morte, mesmo o poeta ter morrido a quase um século antes. A relação entre o
poeta e a irmã foi desmascarada exatamente em um ato falho recorrente do
paciente em que ele dizia que a irmã havia se matado com um tiro, o que na
verdade ela usou um veneno e o poeta que morreu em um duelo de
armas(FREUD, 1918).
Das mulheres ao gozo: A dor do homem dos lobos.
Como introdução a discussão do gozo no homem dos lobosde Freud(1918) é
fortuito que nos detemos num reflexão como a ideia de gozo e repetição se
entrelaçam. Freud em seu escrito “Alem do princípio de prazer”(1920) esquadrinha
o que viria ser posteriormente definido por Lacan como gozo, inicialmente no
seminário 7 “A ética da psicanalise”(1959-60) e mais profundamente no seminário
20 “Mais, ainda”(1972-73). O autor da psicanalise nos traz em seu escrito que, ao
contrário do que acreditava, não é o desejo de satisfação que nos guia, mas sim
uma pulsão que nos devora e atormenta, que se dá quando a satisfação tende a
se dar em seu extremo em que o corpo, fatigado por suportar tanta energia
liberada começa por não mais sentir o prazer que havia sentido, mas uma dor que

aponta a morte do sujeito que a sente, por isso pulsão de morte. Por definição,
então, sem uma lei que barre o livre fluxo da pulsão por satisfação inserida, de
forma estrutural, no momento denominado por Freud de complexo de Édipo toda
pulsão é uma pulsão de morte. O aparelho psíquico tenderia a se estabilizar em
sua inércia o que acometeria, psíquica ou fisicamente, na morte do sujeito. Lacan
foi mais a fundo no conceito de gozo, definido como gozo por ele mesmo
utilizando-se do significado jurídico para o termo. Usou-se do gozo jurídico, termo
relacionado ao usufruto nos termos da lei, para relacionar as disparidades do fazer
a que esse termo se remete sendo ele, o gozo, tanto uma forma útil ao
inconscientesinalizando, por meio da repetição que o assinala, o conteúdo
recalcado e remetendo ao gozo, agora por forma do gozar que direciona ao de
trazer uma satisfação, desse mesmo conteúdo. Tal conteúdo apontaria para uma
falta primordial que define o ser com partido, o objeto a . Esse falta que se
encontra no centro do sujeito assujeitado ao inconsciente seria tido tanto como
objetivo imaginário, pois quando alcançado tornaria o sujeito completo, quanto
como uma repulsa, pois como descendente da pulsão de morte iria causar a total
inércia do sujeito, o desejo seria sanado e não haveria mais o que desejar.
No relato do caso homem dos lobos podemos perceber em alguns momentos
nuances que nos apontam possíveis correlações com os conceitos de pulsão de
morte, demonstrado por Freud, e de gozo, de Lacan. Detetemo-nos naquelas que
mais nos aprofundamos: o sonho que remete a cena primária do paciente e a
escolha objetal de amor, a Groucha e as mulheres que se sucederam. Diante do já
apresentado sobre o assunto, elucidaremos apenas os pontos mais marcantes de
cada recorte, trazendo à tona o que mais se destaca e relacionando com os
conceitos.
No sonho sintomático temos primeiramente a repetição da cena primária origem de
todo sintoma apresentado pelo sujeito o que já nos aponta uma correlação do
sintoma com o traumático. A repetição nunca se configura como uma reprodução,
não é para o sujeito como uma retomada a uma experienciaanterior, mas age
como uma reformulação que indica um conteúdo passado. Como no caso do
homem dos lobos em que o sonho não se mostra como um reencenamento da
cena primária, mas uma nova situação que tanto revela quanto oculta suas
ligações com o processo jogando com significantes da cena para se tornar ao
sujeito uma visão sustentável: o que era observado agora observa, o que foi
gradual se torna de súbito, o que era ativo no sonho se torna passivo. Mas, mesmo
se formando o conteúdo inconsciente anseia representação mesmo que
abrandada, o que se revela-esconde no sonho do homem dos lobos ainda o causa
angustia e aponta para seu objeto caído, a possibilidade de despojar como a mãe
do pai e dar a ele um filho que o completaria e em contrapartida essa posição
aniquilaria sua possibilidade como homem.
No caso das mulheres do homem dos lobos temos bem explicito, mesmo pelo
analisando a repetição que se figura. No relato Freud(1918) descreve que a
tomada de consciência de tal repetição parte do analisando no momento do
setting, quando retoma a cena descoberta do sexual com Nânia e como esta
definiu seu primeiro objeto de amor que se repete por toda sua vida. Tal
posicionamento do gozo nos mostra sua questão também com o feminino, como,

mesmo com o encontro traumático com o sexual, o paciente ainda se dirige seu
desejo ao feminino que cuida, que está próximo.
Do inconsciente ao papel: o homem dos lobos e a escrita clínica
Faz-senecessário a discussão sobre a forma de apreensão da experiência da
clinica por meio da escrita do caso clínico. Na psicanálise temos como ponto
central a emersão das representações do campo inconsciente sendo
representadas pelo desejo do sujeito, dentro da escrita do caso clínico o ponto
central não poderia, então, ser outro que não o desejo do analisando. Seria
impraticável e um tanto perigoso pra pratica psicanalítica que se devesse reproduz
tal qual o discurso do analisando se mostra na clínica pela escrita: tanto se
perderia muito pela parte do analista quanto da emersão do desejo do
analisando(Freud,1918). Sem falar que tal forma de apreensão iria contra a regra
áurea do setting psicanalítico que é o estado de associação livre que o analisando
tem de estar para que possa haver um mínimo de transferência e a emersão dos
conteúdos inconscientes. E como a apreensão do caso clínico dessa forma,
reprodutível e visa apenas a consciência, não se pauta sob a lógica do
inconsciente tal forma de relato seria impraticável para nossos fins. O escrito seria
muito longo e muito pouco acessível quanto ao conteúdo. Por isso se é
normalmente feito com os principais significantes apresentados pelo próprio
analisando que traz de seu desejo o que puder, mantendo-se ,assim, a ética que
move a psicanalise, a ética do inconsciente.
Não posso escrever a história de meu paciente em termos puramente históricos
nem puramente pragmáticos. Nãoposso oferecer uma história do tratamento nem
da doença; vejo-me obrigado a combinar os dois modos de apresentação. Sabe-se
que ainda não se achou um meio de transmitir no relato da análise, de alguma
forma que seja, a convicção que dela resulta. Protocolos exaustivos do que
acontece nas sessões não serviriam pra nada, certamente; e a técnica do
tratamento já exclui sua confecção. Logo, analises como esta não são publicadas
para despertar convicção nos que exibiram descaso ou descrença. Esperamos
apenas transmitir algo de novo aos pesquisadores que já adquiriram convicções
por experiências própria com os doentes. (FREUD, 1918, pag 20-21)
Ter como centro o inconsciente do sujeito que é tomado pela angustia muda não
só a forma como lidar com o sujeito e seus conteúdos, mas também como relatar
tais experiências. Como já dito uma reprodução do que foi dito na clínica não
supre, de forma alguma, o objetivo proposto pela psicanálise. É preciso que o
sujeito que escreve não só aponte fatos, mas se envolva na escrita de forma
análoga ao envolvimento do analisando com o a analise. É preciso, muitas vezes,
dar-se ao texto de forma a tentar preencher as lacunas que as questões
levantadas nos trazem, mas sempre tendo como perspectiva que tais lacunas
nunca serão totalmente preenchidas.
E é por isso que se faz necessário entrar em contato com escritos de outros
autores: não para que eles sejam usados como nortes absolutos ou verdadefechada sobre o assunto, mas como fonte inquietações e novos questionamentos.
Tais produções escritas, mesmo não servindo como nortes absolutos, possibilitam,

em sua discussão, a produção de novos escritos e novas visões sobre o conteúdo.
Dessa relação de entrar em contato com os escritos e com os conteúdos próprios
do sujeito que se propõe em trilhar o caminho tortuoso da psicanálise que nasce a
teoria psicanalítica. Não lidando com a verdade, mas com a perspectivas de
verdades de cada sujeito, seja esse sujeito o de quem se fala ou o que está
falando. O sujeito, esse assujeitado pelo inconsciente, está em todas as linhas do
escritos de base psicanalítica.

Conclusão.
Quando se tem a lógica do inconsciente como guia não se espera fechar um
pensamento, mas poder possibilitar novas reflexões frente ao que foi apresentado.
Trazendo à tona as questões referente ao caso homem dos lobos podemos
discutir como conceitos de supereu, repetição e gozo se entrelaçam utilizando-se
do famoso caso do homem dos lobos de Freud(1918) como plano de fundo e
história principal de nossa discussão.
Dando continuidade a nossa narrativa: Depois das elucidações pela analise,
Freud(1918) determinou a alta do analisando, meses antes da grande guerra
começar. Ele, talvez sobre ainda influência de seu professor alemão, foi direto a
guerra e o analista não soube mais seu paradeiro. As questões levantadas pelo
caso do homem dos lobos são de vitalimportância pois nos põe novas questões:
como por exemplo a questão do diagnostico proposto por Freud e o do proposto
por Lacan: como um homem que se defende da feminilidade, o que todos nós
fazemos até certo ponto, mas também se defende da masculinidade que quer
engoli-lo pode ser considerado neurótico obsessivo compulsivo? E podemos dizer
que o paciente entrou de fato com uma lei masculina antes do seu professor
alemão? O que pode-se dizer sobre o que é masculino no pai do paciente? Ou o
que é de Lei do Pai em seu discurso? Reflexões pra um futuro próximo.

Referencias.
FREUD, Sigmund. História de uma neurose infantil (” o homem dos lobos”). Trad.
DE SOUZA, Paulo César. In: Obras Completas, vol. 14, São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. Comunicação de um caso de paranoia que contradiz a teoria
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FREUD, Sigmund. O Inconsciente . Trad. DE SOUZA, Paulo César. In: Obras
Completas, vol. 12, São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. Recordar, Repetir e elaborar. Trad. DE SOUZA, Paulo César.
In: Obras Completas vol. 10, São Paulo: Companhia das Letras, 2010
LACAN, Jaques.. O Seminário, livro 20: mais, ainda (2ª edição revista). Editora
Zahar, Rio de Janeiro, 1985.
LACAN, Jaques. O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Editora Zahar, Rio de
Janeiro, 1997.

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