Cartas Chilenas

 

Cartas Chilenas é uma obra escrita pelo poeta árcade Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). Trata-se de uma das obras satíricas mais emblemáticas desse período.

Ela é composta por diversos poemas que ficaram conhecidos na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), Minas Gerais, no contexto da Inconfidência Mineira.

Por esse motivo, os textos que circulavam na cidade no final do século XVIII, foram marcados pelo anonimato de seu autor. Durante muito tempo, foram analisadas as cartas para saber quem era o real escritor.

A obra recebe esse nome pois Critilo (pseudônimo do escritor) é morador da cidade de Santiago no Chile, que na verdade é Vila Rica, em Minas Gerais.

Essa troca de nomes surge também em outros trechos, donde Espanha seria Portugal, e Salamanca, Coimbra.

Estrutura da Obra

Composta de 13 cartas, as Cartas Chilenas foram escritas por Tomás Antônio Gonzaga, através do pseudônimo Critilo.

Ele escreve para seu amigo Doroteu, que na realidade é o escritor árcade Cláudio Manuel da Costa.

A obra é composta de versos decassílabos (dez silabas poéticas) e brancos (sem rimas). A linguagem utilizada é satírica, irônica e, por vezes, agressiva.

Personagens da Obra

Critilo é a emissor das cartas, e Doroteu o receptor. Além deles, o texto faz referência ao Fanfarrão Minésio: governador do Chile.

Análise da Obra

Cartas Chilenas revelam por meio de um tom satírico problemas relacionados com o contexto em que foram escritas.

Assim, a obra aponta temas que estavam evidentes no período da Inconfidência Mineira.

São eles: injustiça, corrupção, tirania, abusos de poder, administração do governo, cobrança de altos impostos, narcisismo dos governantes e casos de nepotismo.

O foco central da obra é revelar a corrupção de Luís da Cunha Meneses, governador da Capitania de Minas Gerais. Ele governou o Estado entre os anos de 1783 e 1788.

Nas cartas, ele é referenciado como o “Fanfarrão Minésio”.

Resumo das Cartas

Seguem abaixo os subtítulos (em itálico) e o resumo dos temas encontrados em cada carta:

Carta 1.ª: Em que se descreve a entrada que fez Fanfarrão em Chile. Descrição da chegada do governador.

Carta 2.ª: Em que se mostra a piedade que Fanfarrão fingiu no princípio do seu governo, para chamar a si todos os negócios. Descrição sobre a centralização dos negócios do governo.

Carta 3.ª: Em que se contam as injustiças e violências que Fanfarrão executou por causa de uma cadeia, a que deu princípio. Descrição das injustiças governamentais.

Carta 4.ª: Em que se continua a mesma matéria. Descrição de injustiças e violências do governador.

Carta 5.ª: Em que se contam as desordens feitas nas festas que se celebraram nos desposórios do nosso sereníssimo infante, com a sereníssima infanta de Portugal. Festa de casamento do governador.

Carta 6.ª: Em que se conta o resto dos festejos. Descrição sobre as confusões causadas na festa de casamento.

Carta 7.ª: Sem subtítulo, a sétima carta aponta sobre as decisões do governador fanfarrão.

Carta 8.ª: Em que se trata da venda dos despachos e contratos. De maneira irônica, o autor descreve sobre as corrupções do governador.

Carta 9.ª: Em que se contam as desordens que Fanfarrão obrou no governo das tropas. Descrição das desordens do governo.

Carta 10.ª: Em que se contam as desordens maiores que Fanfarrão fez no seu governo. Como sequência da nona carta, o autor descreve as maiores desordens do governo.

Carta 11.ª: Em que se contam as brejeirices de Fanfarrão. Descrição dos métodos maliciosos do governador.

Carta 12.ª: Sem subtítulo, a décima segunda carta aponta para o nepotismo do governo, ou seja, o favorecimento de pessoas próximas ao governador.

Carta 13.ª: Sem subtítulo, a última carta ficou inacabada. No trecho existente, o autor escreve sobre o sistema e a perversidade do governo.

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do pdf aqui: Cartas Chilenas.

Trechos da Obra

Para compreender melhor a linguagem utilizada por Tomás Antônio Gonzaga, confira abaixo alguns trechos de cada uma das Cartas Chilenas:

Carta 1

“Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta.”

Carta 2

“As brilhantes estrelas já caíam
E a vez terceira os galos já cantavam,
Quando, prezado amigo, punha o selo
Na volumosa carta, em que te conto”

Carta 3

“Que triste, Doroteu, se pôs a tarde!
Assopra o vento sul, e densa nuvem
Os horizontes cobre; a grossa chuva,
Caindo das biqueiras dos telhados”

Carta 4

“Maldito, Doroteu, maldito seja
O vício de um poeta, que, tomando
Entre dentes alguém, enquanto encontra
Matéria em que discorra, não descansa.”

Carta 5

“Tu já tens, Doroteu, ouvido histórias
Que podem comover a triste pranto .
Os secos olhos dos cruéis Ulisses.
Agora, Doroteu, enxuga o rosto,
Que eu passo a relatar-te coisas lindas.”

Carta 6

“Eu ontem, Doroteu, fechei a carta
Em que te relatei da igreja as festas .
E como trabalhava, por lembrar-me
Do resto dos festejos mal descalço.”

Carta 7

“Há tempo, Doroteu, que não prossigo
Do nosso Fanfarrão a longa história.
Que não busque cobrí-los com tal capa,
Que inda se persuada que os mais homens”

Carta 8

“Os grandes, Doroteu, da nossa Espanha
Têm diversas herdades: uma delas
Dão trigo, dão centeio e dão cevada,
As outras têm cascatas e pomares,
Com outras muitas peças, que só servem,
Nos calmosos verões, de algum recreio.”

Carta 9

“Agora, Doroteu, agora estava
Bamboando, na rede preguiçosa
E tomando, na fina porcelana,
O mate saboroso, quando escuto
De grossa artilharia o rouco estrondo.”

Carta 10

“Quis, amigo, compor sentidos versos
A uma longa ausência e, para encher-me
De ternas expressões, de imagens tristes,
A banca fui sentar-me, com projeto.”

Carta 11

“No meio desta terra há uma ponte,
Em cujos dois extremos se levantam
De dois grossos rendeiros as moradas;
E, apenas, Doroteu, o sol declina.”

Carta 12

“Aquele que se jacta de fidalgo
Não cessa de contar progenitores
Da raça dos suevos, mais dos godos;
O valente soldado gasta o dia
Em falar das batalhas, e nos mostra
Das feridas, que preza, cheio o corpo;”

Carta 13

“Ainda, caro amigo, ainda existem
Os vestígios dos templos suntuosos
Que a mão religiosa do bom Numa
Ergueu o Marte e levantou a Jano.

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