REVOLUÇÃO MILITAR DE 1930

 

http://www.eb.mil.br/image/image_gallery?uuid=1261c95f-ad2a-4849-85e4-fc5163605856&groupId=10138&t=1333476833087 O Dr. Washington Luís assumiu o poder em 15 de novembro de 1926. A tensão política logo se agravou quando ele recusou anistia aos revolucionários.

 

Em São Paulo, morrera o Presidente Carlos de Campos, sucedendo-lhe Júlio Prestes, que assumiu a presidência do Estado em 14 de junho de 1927. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Presidente de Minas Gerais, resolveu seguir outra orientação; de conservador tornou-se liberal, deixando entrever sua ambição de chegar à presidência da República.

 

Era praxe antiga, quebrada apenas pela ascensão de Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa, São Paulo e Minas Gerais alternarem-se nas sucessões presidenciais. Pela ordem natural caberia desta feita a Minas Gerais fazer o Presidente da República. Washington Luís, entretanto, prestigiou Júlio Prestes, demonstrando antipatia pelo governante mineiro e aproximando-se dos gaúchos.

 

Os mineiros, por seu turno, procuraram apoio no Rio Grande do Sul, com o propósito de afastar o candidato paulista, mesmo que importasse na renúncia de Minas. De um entendimento entre o Secretário do Interior de Minas Gerais. Francisco Campos, e o líder da bancada gaúcha, João Neves da Fontoura, nasceu a Aliança Liberal, em 17 de junho de 1929, com a indicação dos nomes de Getúlio Vargas ou Borges de Medeiros para candidatos. O primeiro, evitando desgastar-se, procurou não estabelecer áreas de atrito com o poder central. Em duas cartas secretas a Washington Luís, uma de dezembro de 1928 e outra de maio de 1929, afirmou apoiar o governo. Mas, para a perplexidade de Washington Luís, Vargas aceitava, em julho de 1929, a sua candidatura à presidência pela Aliança, tendo João Pessoa, Presidente da Paraíba, como companheiro de chapa. Em 15 de agosto, a Comissão Executiva da Aliança Liberal lançou a candidatura Getúlio Vargas – João Pessoa.

 

Os tenentes revolucionários foram abordados pela ala radical da Aliança, onde figuravam, entre outros líderes, Virgílio de Melo Franco, João Neves da Fontoura e Flores da Cunha. No Rio Grande do Sul, Siqueira Campos aproximou Luís Carlos Prestes de Getúlio, que lhe ofereceu o comando revolucionário, garantindo apoio em dinheiro e armamento. Prestes não estava acreditando no movimento, achando-o “competição de oligarquias”. As suas tendências para a esquerda causavam desconfianças.

 

O delegado Laudelino de Abreu detetou a conspiração em janeiro de 1930.

 

http://www.eb.mil.br/image/image_gallery?uuid=f8102b04-c840-4d13-9054-733775688764&groupId=10138&t=1333476867422 A rebelião crescia também nos meios políticos paulistas. Alguns oficiais revolucionários seguiram para São Paulo, conduzidos por Siqueira Campos e Djalma Dutra. A polícia paulista localizou-os em uma casa da rua Bueno de Andrada e esperou que saíssem. Ao se retirarem do referido prédio foram recebidos à bala. Siqueira Campos reagiu a tiros, conseguindo escapar. Djalma Dutra e Correa Leal foram presos, sendo remetidos para o Rio de Janeiro. Caio Brant estreitava as ligações com Minas Gerais. No Rio de Janeiro atuavam os conspiradores Tasso Tinoco, Eduardo Gomes, Delso Fonseca, Adir Guimarães e Cordeiro de Farias. No Nordeste, a conspiração também ia ganhando corpo.

 

A polícia apertou o cerco; a 11 de janeiro, Juarez Távora foi preso na Fortaleza de Santa Cruz. O Chefe de Polícia da capital. Dr. Pedro de Oliveira Sobrinho, acompanhava de perto os passos dos revolucionários e teve conhecimento de que Juarez planejava uma fuga. Mesmo assim ele conseguiu evadir-se (28 de fevereiro) com alguns companheiros. Miracema era o ponto de concentração de Estillac Leal e outros. Dezoito dias depois Juarez se juntaria a eles, após restabelecer-se de alguns ferimentos ocasionados pela fuga.

 

Aproximaram-se as eleições e as caravanas partiam para as campanhas eleitorais. A tônica dos discursos era a critica arrasadora à plataforma de Júlio Prestes e aos atos de intolerância do Presidente Washington Luís.

 

Com as manifestações, exasperavam-se os ânimos da população, João Neves, diante das reações do auditório do Teatro Princesa Isabel em Recife, Pernambuco, antecipou:

 

“Vamos para as urnas na expectativa de um pleito liso e límpido. Mas jamais, pernambucanos, aceitaremos como boa a sentença da fraude ou nos renderemos à imposição da violência oligárquica. (…) Ide, pernambucanos, para os comícios, confiantes no Direito que nos assiste. (…) Mas, se a 1º de março os donatários do Brasil tentarem apagar no mar morto da trapaça o pronunciamento da Nação, levantemo-nos então em armas por amor ao Brasil!”

 

Nem sempre as caravanas encontravam receptividade. Batista Luzardo, em Garanhuns, embora conseguisse sair ileso na fuga de um comício, teve o carro várias vezes perfurado a balas. Em Vitória, Espírito Santo, quando discursava o Senador Félix Pacheco, irrompeu um tiroteio que provocou mais de 100 vítimas, entre mortos e feridos.

 

Foi nesse clima de agitada campanha eleitoral que chegou o dia 1º de março. Além das várias sondagens sobre as possibilidades eleitorais feitas por Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor e Joaquim Sampaio Vidal, seguiam paralelamente as providências para o movimento armado. Na época era comum a fraude eleitoral.

 

Júlio Prestes, ostentando boa margem de votos, foi aclamado pelos conservadores, inclusive pelo Presidente da República. E, em navio do Lloyd, embarcou para os Estados Unidos.

 

Vários próceres do Rio Grande do Sul opinavam que o melhor caminho seria o reconhecimento da vitória do adversário, acatando o resultado das urnas. Todavia, a reação dos extremados foi imediata. Não aceitavam a capitulação. Assis Brasil dizia que o Partido Libertador iria, com seus aliados, até às últimas conseqüências.

 

A conspiração cresceu e, a 20 de março, Batista Luzardo dirigiu-se a Epitácio Pessoa para pedir colaboração, afirmando que o Rio Grande do Sul estava pronto e à espera do apoio de Minas e da Paraíba. Oswaldo Aranha planejou a distribuição das armas trazidas da Tchecoslováquia.

 

O Norte ficara a cargo de Juarez Távora, que se evadira da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, a 28 de fevereiro de 1930, e viajara para a capital da Paraíba, instalando-se na casa do Tenente Juracy Magalhães; São Paulo, de Siqueira Campos; por Minas responderia o Capitão Leopoldo Nery da Fonseca. Intensificaram-se as articulações.

 

O quadro revolucionário alterou-se com a declaração de Luís Carlos Prestes, que se convertera ao comunismo. Siqueira Campos e João Alberto rumaram para Buenos Aires, no início de maio, a convite de Prestes, onde lhes afirmou ainda não ser a revolução em marcha a que ele desejava. A reforma do Brasil, segundo ele, só seria alcançada com o regime marxista ao qual ele havia se convertido. Não foi possível demovê-lo de sua posição radical, colocada de público com o lançamento do seu Manifesto, nesse mesmo mês de maio. Na viagem de retorno, a 9 de maio, utilizaram um avião “Laté-28” monomotor que caiu no Rio da Prata, morrendo quatro passageiros, inclusive Siqueira Campos, mas João Alberto conseguiu sobreviver.

 

No dia 22 de maio, Júlio Prestes foi proclamado Presidente e a 1º de junho Getúlio lançou um manifesto que, censurando o resultado do pleito, aceitava no entanto a derrota como fato consumado. Oswaldo Aranha demitiu-se da Secretaria do Interior do Rio Grande do Sul. João Pessoa encontrava-se às voltas com os jagunços de José Pereira Lima, que dominava a cidade de Princesa. Era difícil conseguir armamento. O governo federal negava à Paraíba recursos para aparelhar a polícia. O Estado estava na iminência de sofrer intervenção federal. E a imprensa ligada a João Pessoa excedeu-se contra o advogado Dr. João Duarte Dantas, filho de Franklin Dantas, aliado de José Pereira. O ódio de João Dantas cresceu com a publicação de papéis particulares apreendidos em sua casa pela polícia. Jurou vingança. E às 17 horas do sábado 26 de julho de 1930, entrou na confeitaria Glória, em Recife, onde se encontravam em uma mesa o Presidente João Pessoa, Agamenon Magalhães e Caio Lima Cavalcanti e descarregou três tiros em João Pessoa. O crime teve muita repercussão no campo político; era um novo impulso dado à revolução.

 

http://www.eb.mil.br/image/image_gallery?uuid=1efe6ffa-19d8-41e7-9be9-4cc05d80710a&groupId=10138&t=1333476907559 Virgílio de Melo Franco, sem perda de tempo, reativou contatos com Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em São Paulo o Capitão Ricardo Hall assumiu o posto de Siqueira Campos, mas, descoberto, teve de fugir. Os irmãos Etchgoyen foram designados para Mato Grosso. Juarez reativava o Norte.

 

Em agosto, veio o apoio de Borges de Medeiros, resultado do esforço de Oswaldo Aranha. O movimento recebeu a adesão de outros oficiais do Exército. O Tenente-Coronel Pedro Aurélio de Goes Monteiro foi escolhido chefe do estado-maior revolucionário. A eclosão estava preparada para o dia 3 de outubro.

 

3 de outubro em Porto Alegre

 

O Grande Hotel, em Porto Alegre, transformara-se no quartel-general dos revolucionários, onde Oswaldo Aranha coordenava as ligações. “Olha, o doente piorou muito; seu estado é grave, exige intervenção cirúrgica que vai ser praticada logo à tarde”, era a senha transmitida pelo telefone, normalmente com voz feminina.

 

Às 14 horas do dia 3 de outubro, os colégios suspenderam as aulas, com recomendação para que os alunos se recolhessem às suas casas. O comércio cerrara as portas. Parecia que a população adivinhava o que se ia passar.

 

Um radiograma transmitido para o General Gil Antônio Dias de Almeida, Comandante da 3ª Região Militar, informava que o edifício dos Correios fora ocupado por civis armados, às 17 horas. As comunicações começaram a entrar no ritmo frenético que antecede as grandes convulsões sociais. O General Gil alertou o 8º Regimento de Infantaria, de Passo Fundo, e procurou contactar o General João Simplício Carvalho, Secretário da Fazenda, e Getúlio Vargas.

 

Novos radiogramas chegados ao Comando da 3ª Região Militar, provindos das guarnições de Bagé, Alegrete e Passo Fundo, revelavam indícios de levante armado iminente. Getúlio, Presidente do Estado, laconicamente transmitiu ao Comandante da 3ª Região Militar por intermédio de um oficial, a mensagem: “Diga ao general que as providências serão tomadas”.

 

Às 17:25 horas ocorreu uma primeira ação contra o Quartel-General da 3ª Região Militar. Seu objetivo era capturar o general. A hora foi estudada com cuidado. O quartel-general tinha uma guarda reduzida e a maioria dos oficiais e praças já havia saído, por término do expediente.

 

http://www.eb.mil.br/image/image_gallery?uuid=8135deba-5b1b-44cd-adc7-365d723366ed&groupId=10138&t=1333476941855 Inicialmente, 50 homens da Guarda Civil simularam a rotineira passagem pelo portão. Seguiu-se o grupo de choque que se encarregou das sentinelas. Oswaldo Aranha, Flores da Cunha e o Capitão Agenor Barcelos Feio dirigiram as ações. O sucesso do ataque deveu-se ao perfeito planejamento. Nos edifícios vizinhos havia metralhadoras instaladas para bater o prédio do quartel-general. A pretexto de conserto nos encanamentos, abriram-se valas nas ruas Riachuelo e Canabarro, nas proximidades do quartel-general, que foram ocupadas por combatentes disfarçados de operários. Vários soldados da guarda, solidários com o movimento, além de deixarem seus postos retiraram os percussores das armas.

 

O General Gil foi preso. Um ataque comandado por Elpídio Marins forçou a rendição do Arsenal de Guerra. Exatamente às 17:30 horas subiu do Morro do Menino Deus o foguete que anunciava a deflagração do movimento revolucionário.

 

Desde setembro a guarnição de Porto Alegre dispunha de reforços – eram o 8º e o 9º Batalhão de Caçadores, comandados, respectivamente, pelo Tenente-Coronel Galdino Esteves e pelo Coronel Toledo Bordini, e também uma seção de artilharia. O efetivo da tropa era de 1.500 homens, o que preocupava os revolucionários. O primeiro aderiu e o segundo ofereceu resistência, mas foi logo dominado e preso com alguns de seus oficiais.

 

O 4º Esquadrão, depois de pequena resistência, rendeu-se; alguém na unidade retirara os percussores das armas de fogo. A 2ª Companhia de Estabelecimentos, depois de intensa reação, cedeu, o mesmo ocorrendo com o Contingente da Carta Geral 43. O 7º Batalhão de Caçadores, comandado pelo Coronel Benedito Marques da Silva Acavan, cunhado do General Flores da Cunha, estava reduzido de um terço de seu efetivo, pois cerca de 200 homens desertaram. Somente três metralhadoras dispunham de percussores. Mas só pela manhã do dia 4 aceitava os termos apresentados por Goes Monteiro.

 

As ações em Porto Alegre resultaram em 19 mortos e quase 100 feridos.

 

O 8º Regimento de Infantaria (Passo Fundo) do Coronel Estêvão Leitão de Carvalho fora cercado pelos revolucionários e resistiu durante algum tempo. Outras unidades no Estado aderiram.

 

No mesmo dia 5, os revolucionários invadiram Santa Catarina; uma coluna, comandada por Miguel Costa, dirigiu-se para União da Vitória; outra, sob o comando de Trifino Correia, marchou pelo litoral. O Tenente Alcides Etchegoyen seguiu-lhe os passos, com 2.800 homens. A revolta já havia começado em Curitiba na madrugada do dia 4 e, vitoriosa, pôde receber os que vinham do sul; Vargas foi recebido em triunfo em Curitiba. Os chefes revolucionários deslocaram-se, com seus homens, para o limite com o Estado de São Paulo, projetando invadi-lo em Itararé.

 

Resistência heróica do 12º Regimento de Infantaria

 

http://www.eb.mil.br/image/image_gallery?uuid=8fa624dd-1348-4e40-8fda-0d3a8c083e18&groupId=10138&t=1333476171085 Lindolfo Collor foi o porta-voz revolucionário a Olegário Maciel, que a 7 de setembro substituíra Antônio Carlos Ribeiro de Andrada na presidência do Estado de Minas Gerais. A 3 de outubro,o comandante interino da 5ª Brigada e comandante efetivo do 12º Regimento de Infantaria, Coronel José Joaquim de Andrade, foi preso na sua casa pelo seu colega do Exército, o Coronel Aristharco Pessoa. Outros oficiais foram detidos e conduzidos para o quartel do 5º Batalhão.

 

As repartições públicas foram logo ocupadas. Após 17 horas, como era normal, os quartéis ficaram apenas com o pessoal de serviço. Os oficiais, alvo principal dos revolucionários, foram caçados nas ruas ou em suas residências. O plano de Odilon Braga surtia efeito – mas não se contava com a reação do 12º Regimento de Infantaria. O oficial de dia do regimento, Tenente Rui Brito Melo, reuniu os elementos de que dispunha, 385 homens, e preparou-se para defender o quartel. O Major Pedro de Campos assumiu o comando da unidade e resistiu até o dia 7, quando houve forte bombardeio. No dia seguinte, solicitada uma trégua por causa de mortos e feridos, a guarnição do 12º Regimento de Infantaria soube do que se passava no restante do pais pela comunicação do seu comandante preso e resolveu render-se. Os soldados maltratados pela dilatada resistência, entraram em forma e saíram do quartel marchando, de cabeça erguida.

 

Olegário Maciel apressou-se a informar:

 

“É com o maior júbilo que comunico a V. Exa. que está vencida mais uma etapa e um obstáculo da sagrada campanha em que nos empenhamos, com a rendição do 12º Regimento de Infantaria. (…)”.

 

O quartel-general revolucionário mineiro transferiu-se para Barbacena. O 11º Regimento de Infantaria, de São João del Rei, cedeu às forças de Aristarco Pessoa e o 4º Regimento de Cavalaria Divisionária, de Três Corações, atacado pelo Tenente Coronel Luís Fonseca, com 300 homens, no dia 11, caiu a 15, morrendo em acidente de tiro o revolucionário Djalma Dutra.

 

Juarez Távora subleva o Norte

 

http://www.eb.mil.br/image/image_gallery?uuid=24b95082-1f01-483a-8e83-00ecf06dca62&groupId=10138&t=1333477015425 A revolução irrompeu na Paraíba com atraso, pois houve um equívoco quanto à hora de deflagração do movimento.

 

O General Alberto Lavenère Wanderley e o Coronel Maurício Cardoso, comandantes militares locais, não tinham conhecimento das comunicações urgentes e cifradas recebidas, pois o Tenente Agildo Barata encarregou-se de furtá-las.

 

Às 3 horas de 4 de outubro, os civis conduzidos por Antenor Navarro juntaram-se a Agildo Barata e partiram para o assalto ao 22º Batalhão de Caçadores, aproveitando-se da colaboração do revolucionário Juracy Magalhães, que era oficial de dia. Houve um cerrado tiroteio no quartel, sendo atingido o General Lavenêre, que veio a falecer pouco depois. Foram ocupadas a Escola de Aprendizes Marinheiros e a Capitania dos Portos, onde o Tenente Jurandir Bizarria Mamede impediu que o navio Muniz Freire zarpasse do porto.

 

As instalações públicas foram tomadas de assalto. O 25º Batalhão de Caçadores sublevou-se e em pouco tempo a Paraíba estava envolvida em delirantes vivas à revolução.

 

Organizaram-se imediatamente as colunas para marcharem sobre Recife, Campina Grande, Natal e Fortaleza.

 

No Recife, a revolução mostrou-se indecisa, tal manifestava-se a resistência do 21º Batalhão de Caçadores, assaltado pelo Tenente Heli Coutinho, Agapito Soares e muitos civis, utilizando as armas do Tiro 333. Informado do que se passava, Juarez Távora deslocou-se para o Recife com reforços, ocupando o quartel da Soledade. A revolução cresceu entre a população civil; o Major Manoel Gomes abandonou o 21º Batalhão de Caçadores e o Presidente do Estado, Estácio Coimbra, seguiu para Tamandaré em um rebocador, passando-se para Salvador e, desta cidade, para o Rio de Janeiro. No dia 5, o Coronel Wolmer da Silveira entregou o quartel do Derbi. O povo ovacionou os revolucionários.

 

Pedro Ângelo

 

O 23º Batalhão de Caçadores, de Fortaleza, deslocara-se para Souza, na Paraíba. Intimado pelos oficiais revolucionários a render-se, o comandante do 23º, Tenente-Coronel Pedro Ângelo Correia, revidou a tiros e resistiu no seu posto de comando, instalado em uma das casas da localidade e cercado pela tropa rebelada.

 

De início o comandante contava com alguns homens. Por fim ficou sozinho e tentou explodir a munição que se encontrava no posto de comando.

 

“Tudo o que de então por diante se passou – escreveu Gustavo Barroso – tem um sabor de tragédia grega. É como se um herói da Ilíada ressurgisse em pleno sertão nordestino, armado com arma de fogo, em lugar de brandir a lança e a espada. Abandonado, ferido, exausto, o Tenente-Coronel Pedro Ângelo surgia nesta ou naquela janela apontando e disparando a pistola ou o mosquetão. Duelo impressionante de um homem sozinho contra um batalhão em revolta. O fuzil antepondo-se à metralhadora. Repetição da resistência de Carlos XII numa casa de Bender contra as hordas otomanas. Os atacantes assombrados bradavam:

 

– Basta, comandante! Não lute mais!

 

Ele replicou, fora de si:

 

– Não morrerei acuado como um cão! Vou morrer no campo da honra!

 

E saiu. Uma descarga súbita colheu-o junto ao portão de ferro. Tombou morto de frente, a parabelum na mão crispada, o rosto sobre o chão sertanejo. Eram 7 horas da manhã. Os vivas à revolução saudaram o triunfo de um batalhão contra um homem…

 

Quando um emissário da cidade de Souza foi a Fortaleza notificar a esposa do bravo comandante o que se havia passado, a fim de preparar-lhe o espírito para a triste nova, disse que ele estava preso; a corajosa mulher, que o conhecia intimamente, voltou-se para os filhos e falou:

 

– Meus filhos, botemos luto porque vosso pai morreu.”

 

Em 1931, o bravo mineiro de Alfenas foi promovido a coronel, post mortem. Em 1963, honrando mais uma vez sua memória, o Congresso Nacional aprovou projeto de lei promovendo-o a general-de-divisão.

 

Na pessoa de Pedro Ângelo, o governo e o Congresso homenageavam o espírito de sacrifício dos militares legalistas de todos os tempos mortos no cumprimento do dever.

 

Assumiu o governo da Paraíba José Américo de Almeida.

 

Com a adesão do Nordeste, Juarez Távora reuniu os correligionários e infletiu sobre a Bahia, onde o General Antenor Santa Cruz pretendia vencê-los contando com o 19º Batalhão de Caçadores, Polícia estadual e sertanejos de Franklim de Albuquerque e Horácio de Matos.

 

Forças revolucionárias ocuparam Vitória, capital do Estado do Espírito Santo; o Capitão Punaro Bley assumiu a junta governativa local.

 

Barreira de Itararé

 

http://www.eb.mil.br/image/image_gallery?uuid=c3d3107b-53f1-408e-bb9d-525154ac1927&groupId=10138&t=1333477124069 Em São Paulo havia um grande problema a resolver. Itararé era uma barreira intransponível, a julgar pelo otimismo de Washington Luís.

 

O General Felipe Portinho invadira Santa Catarina, partindo de Erechim e passando por Marcelino Ramos; cooperara na tomada de Herval, aprisionando o General Cândido Rondon.

 

O 13º Regimento de Infantaria de Porto União dirigiu-se para Joinville, enquanto o 5º Batalhão de Infantaria aderiu, em conseqüência da atuação de Borges de Medeiros.

 

Itararé era, em 1930, um vilarejo pobre com 7 mil habitantes. A população, prevendo conflito, preferiu abandonar suas casas e negócios. Em pouco tempo, as forças legalistas ocuparam as melhores edificações. O Coronel Paes de Andrade instalou o seu posto de comando no prédio da estação.

 

No dia 10, Curitiba foi dominada. Morrera aí num dos episódios do movimento o Major Luís de Araújo Correia Lima, idealizador e patrono dos Centros e Núcleos de Preparação de Oficiais de Reserva (CPOR e NPOR).

 

A vanguarda, constituída do 15º Batalhão de Caçadores e da polícia paranaense, fez contato com Capela da Ribeira, no dia 12. Mesmo antes da resposta ao ultimato enviado pelo General Felipe Portinho, a força paulista retraiu.

 

Agora os revolucionários abordavam a barreira natural de Itararé As tropas legalistas foram dispostas pelo Coronel Arnaldo de Souza Paes de Andrade em duas linhas de defesa: 3 mil homens da Força Pública paulista, 1.600 do Exército e mil voluntários. Havia canhões Krupp.

 

O terreno beneficiava os defensores. O rio, pelo sul, representava obstáculo natural.

 

Do lado rebelde, o Coronel Miguel Costa dispunha de 7.800 homens e 18 canhões Krupp modernos e com bom alcance. Montara seu dispositivo prevendo realizar um ataque frontal, com 4.300 homens comandados pelo Coronel Silva Júnior; um segundo grupamento, com Flores da Cunha, desbordaria pelo norte, visando a Ibiti; o terceiro, pelo sul, comandado pelo Major Alexínio Bittencourt, dispunha de 1.600 homens; a reserva, em posição central, era comandada por Batista Luzardo. Seu quartel-general instala-se em Sengés.

 

Tendo Paes de Andrade recebido reforços de 340 praças, 13 oficiais e 18 metralhadoras, vislumbrou a possibilidade de uma ofensiva sobre Sengés.

 

Combinando a ação frontal do Capitão Heliodoro com a desbordante do Capitão Mário Rodrigues Alves, lançou-se ao ataque, mas Sengés resistiu, não havendo possibilidade de prosseguimento, ocupando a Fazenda Morungava.

 

Miguel Costa, durante a noite, recebeu novas tropas e a essa altura a luta passou a se travar pela posse da fazenda Morungava (2 de outubro). Era necessário melhor posição para desencadear o assalto de Miguel Costa, o que foi conseguido por uma ação noturna preliminar do Tenente Airton Plaisant. De manhã, iniciou-se o ataque com três batalhões: o 1º Batalhão do 8º Regimento de Infantaria no centro; o Batalhão Quim César à esquerda e um outro batalhão do 13º Regimento de Infantaria à direita. O 15º Batalhão de Caçadores, integrado na maioria por estudantes de medicina de Curitiba, aguardava no morro do Cafezal, entrando, em seguida, no confronto. Miguel Costa instalou sua artilharia neste morro disposto a arrasar com os adversários.

 

Paes de Andrade, aproveitando-se do terreno, opôs uma forte resistência e os atacantes tiveram de voltar às posições iniciais. A luta arrastou-se indefinida por 15 dias. Somente a 17 Morungava foi conquistada, abrindo o acesso para Itararé, que desta fazenda distava oito quilômetros. Miguel Costa preparou-se para desfechar o ataque a Itararé.

 

Mas não houve ataque. Entre as conversações que se seguiram ao ultimato de Miguel Costa, chegou a confirmação da ordem da Junta Governativa instalada no Rio de Janeiro para a imediata cessação das hostilidades.

 

Fecho da revolução

 

A revolução obteve vitórias em todos os pontos. Washington Luís pensava em resistir e em conseguir recursos para tolher a progressão dos adversários. Irritava-se quando seus colaboradores se mostravam pessimistas com a situação. Assessores mantinham-no mal informado. A debandada dos Presidentes de Estado deixava ver claramente o sucesso do movimento. Havia resistência em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Bahia e no Pará.

 

A convocação de reservistas não teve repercussão. Os tênues laços que ainda ligavam o povo ao Presidente romperam-se.

 

No Rio de Janeiro, a população apoiava a retirada de Washington Luís e o entendimento com os revoltosos. Os oficiais-generais chegaram a essa mesma conclusão, encabeçando o movimento os Generais Augusto Tasso Fragoso, João de Deus Mena Barreto e José Fernandes Leite de Castro. A 23 de outubro, tropas marcharam em direção ao Palácio Guanabara, onde se achava o Presidente Washington Luís e o seu ministério. Na manhã de 24, aderiram a Vila Militar e Polícia Militar. O 3º Batalhão de Infantaria, sob o comando do Coronel José Pessoa, tomou posição na Praia de Botafogo. A polícia Civil capitulou, sendo postos em liberdade os presos políticos, inclusive o Tenente Cabanas, que se encontrava na Casa de Detenção.

 

Pelas 10 horas da manhã, grande multidão cercava o Palácio do Catete. O Tenente Setúbal pulou as grades do jardim e tomou posse do prédio em nome da Junta Militar; a tropa do Batalhão Naval, comandada pelo Tenente Loiola, não interferiu.

 

Os Generais Tasso Fragoso e João de Deus Mena Barreto apresentaram nesse mesmo dia a Washington Luís uma proposta para que deixasse o governo. O Presidente rejeitou-a. Foi necessário a intervenção do Cardeal Sebastião Leme para que afinal deixasse o Palácio Guanabara, o que ocorreu às 17 horas. Logo depois formou-se uma Junta Governativa constituída pelo General Mena Barreto, pelo General Tasso Fragoso e pelo Almirante Isaías de Noronha.

 

Os revolucionários vitoriosos, tendo à frente Goes Monteiro, após ligações com a Junta, exigiram que o poder fosse entregue a Getúlio Vargas, que também mandou Oswaldo Aranha ao Rio de Janeiro parlamentar com a Junta. Na noite de 28 de outubro, Getúlio chegou a Estação da Luz, em São Paulo. No dia 31, estava no Rio de Janeiro. E, em 3 de novembro, recebeu, da Junta Militar, o governo da República.

 

Caráter transitório da Revolução de 30

 

A Revolução de 1930 e incontestavelmente um marco indelével na marcha da evolução político-social brasileira, mas sua obra não poderia ter caráter definitivo. Pelas suas raízes político-partidárias, não conduzia um programa cuja execução exprimisse o sentido profundo da Revolução brasileira. Daí os desencontros de idéias e princípios; além do mais, trazia no seu bojo remanescentes de outras tentativas, ao lado de políticos militantes liderando as respectivas correntes e de militares idealistas, mas não amadurecidos politicamente.

 

Logo começaram a surgir desentendimentos. De um lado, os que acreditavam nela e esperavam, com o regime discricionário, revolucionar o quadro político-social brasileiro; de outro, os que, sentindo-se frustrados, trabalhavam pela volta do regime anterior.

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