O samba nos anos 50

Reflexo das influências de ritmos e estéticas internacionais e do crescimento vertiginoso da indústria fonográfica, a década de 50 ficou conhecida por muitos como um período de decadência da música popular. A ruptura com as raízes que formavam nossa identidade musical era o principal argumento dos intelectuais conservadores que nessa época lançavam o movimento de resgate de um samba supostamente puro, mais próximo das raízes afro-baianas de tempero carioca. Purismo exacerbado que não reconhecia a música como uma expressão cultural viva e, portanto, passível de mudanças? Talvez. Fato é que o debate entre o tradicional e o moderno na cultura é amplo, controverso, se repete ao longo dos tempos, mas se faz necessário para buscarmos referências e pensarmos os rumos de nossa música. Assim, entre a tradição e a modernização, o samba respira, inspira, se renova, resiste e persiste de gerações em gerações.
por Gustavo Seraphim

O Samba nos anos 50

Samba de morro, samba de roda, samba de breque, samba-canção, samba-enredo, bossa nova

Adoniran Barbosa, Dolores Duran, Cartola, Jamelão, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Radamés Gnatalli, Moreira da Silva, Eliseth Cardoso, Zé Keti, Lamartine Babo, Ismael Silva, Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Bide, Alfredinho, J. Cascata, Rubem, Mirinho, Carlos Lentine, Valdemar, Almirante, Tom Jobim, Vinícius de Morais, Zé da Zilda, Haroldo Lobo, Braguinha, Nássara,

Revista da Música Popular (1954 – 1956)
“A crença em uma suposta crise do panorama musical fez com que se iniciasse um amplo debate centrado na decadência da música brasileira em geral. Um artigo escrito pelo compositor Ary Barroso sintetiza o pensamento do ambiente musical da época, ao mesmo tempo em que muito bem ilustra o projeto da Revista da Música Popular de recuperar a tradição perdida:

1 – Antigamente não havia “gramáticas” em samba. E todos o entendiam.
2 – Antigamente não havia “acordes americanos”
3 – Antigamente na havia “boites”, nem “night clubs”, nem black tie”. E o samba andava pelos cabarets, humilde e sem dinheiro.
4 – Antigamente não havia “fans-clubs”. Então os cantores cantavam sem barulho um samba sem barulho, vindo da Penha, único barulho era o preparatório para o grande barulho que era o Carnaval.
5 – Antigamente as orquestras não tinham disciplina militar das bandas, porque eram bandas autênticas sem pretensão à orquestra. Então o samba saía sem pretensão, mas gostoso.
6 – Antigamente o “compositor” não era “compositor”; era um veículo sonoro de suas emoções. Então o samba saía à rua vestido de brasileiro, gingando com as “porta-estandartes” dos ranchos”
7 – Antigamente não havia parceria de cantores, empresários e “veículos” Então o cantor cantava: não impingia!
8 – Antigamente o teatro era palco dos triunfos populares. Então, o samba vinha da Praça Tiradentes para a cidade e depois para o Brasil.
9 – Antigamente samba era uma coisa, hoje é outra…
10 – Decadência! Decadência! Decadência!”

Outros textos sobre a música brasileira nos anos 50

A velha guarda
“Conjunto vocal e instrumental organizado em 1954 em São Paulo SP. O conjunto surgiu quando o cantor e radialista Almirante promoveu em São Paulo o Primeiro Festival da Velha Guarda, na Rádio Record, reunindo artistas como Pixinguinha, João da Baiana, Donga, Benedito Lacerda, Ismael Silva, Alfredinho Flautim, Caninha e outros.”

Os carnavais de Lalá
“(…) o notável compositor carioca Lamartine Babo, entrou no estúdio da gravadora Sinter em 1955 para gravar seu primeiro LP com as suas melhores produções carnavalescas. Àquela época ele já era um veterano, uma celebridade legítima da cultura brasileira, suas realizações no campo da musica popular já o tinham colocado na história de nossa canção, portanto, ser saudosista ou acometido de saudosismo na realização da gravação de seu disco era um comportamento muito natural. (…) Neste disco temos a verdadeira alma de nossa gente, o espírito brincalhão e zombeteiro que nos caracteriza e que foi captado com maestria por um gênio da raça, Lamartine Babo, atemporal, imortal e fundamental.”

“Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro”
(A voz do morro – Zé Keti)

José “quietinho” é Zé Keti
“Em 1954, ainda trabalhando na construção civil como mestre de obras, sob as ordens do incorporador de prédio André Spitzman Jordan, construtor do célebre Edifício Chopin ao lado do Copacabana Palace, fez sucesso com “Leviana”, samba em parceria com Amado Régis gravado por Jamelão na Continental. Em 1955, sua carreira começou a deslanchar quando seu samba “A voz do morro”, gravada por Jorge Goulart e com arranjo de Radamés Gnattali, fez enorme sucesso na trilha do filme “Rio 40 graus”, de Nelson Pereira dos Santos.”

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