A idade cronológica refere-se aos anos de vida
do jovem em relação ao calendário civil; logo,
pode ser estabelecida mediante diferenças entre
determinada data e sua data de nascimento. Em
contrapartida, a idade biológica corresponde ao
estágio em que determinado indicador biológico se
encontra em seu “continuum” maturacional; logo,
oferece informações sobre sua maturação biológica.
Desse modo, pode-se estimar a idade biológica pela
análise comparativa entre características quantitativas
e qualitativas observadas no jovem sobre o indicador
biológico considerado e as características esperadas
em cada idade cronológica para esse mesmo indicador
biológico. Idade cronológica e idade esperada para
ocorrência de características maturacionais específi
cas
não necessariamente deverão coincidir. As variações
observadas quando da confrontação das características
observadas e esperadas com relação à idade cronológica
real e a idade cronológica em que a característica
esperada do indicador biológico considerado deverá
ocorrer defi
nem o estágio maturacional do jovem.
Na eventualidade de a idade cronológica
apresentada pelo jovem ser inferior à idade esperada
para que a característica do atributo biológico
considerado seja observada, considera-se que
este apresenta estágio maturacional avançado.
Pelo contrário, se a idade cronológica do jovem
for superior à idade esperada para ocorrência do
fenômeno biológico, considera-se que este apresenta
estágio maturacional tardio. No caso do estágio
maturacional esperado, deverá ocorrer coincidência
entre a idade cronológica do jovem e a idade
esperada para ocorrência do fenômeno biológico:
Informações sobre a idade biológica, se não tão
simples e imediatas quanto às da idade cronológica,
tornam-se de fundamental importância na análise
de atributos considerados para acompanhamento
dos jovens pelos profi
ssionais de Educação Física e
Esporte, na medida em que são identifi
cadas relações
de causa e efeito extremamente elevadas entre estágios
de maturação biológica e indicadores morfológicos,
funcionais e motores nas primeiras duas décadas de vida.
jovem – diferentemente do que ocorre com o
crescimento, quando a característica principal é a
hiperplasia e/ou a hipertrofi
a celular (aumento do
número e/ou do tamanho celular) – na maturação
são envolvidos processos de especialização e de
diferenciação celular. É por isso que informações
apenas quantitativas com relação às dimensões de
atributos biológicos considerados podem não refl
etir
os reais estágios de maturação.
Todo indivíduo atinge o estágio adulto, ou seja,
maduro biologicamente nos diferentes tecidos, siste-
mas ou funções, pode, porém, apresentar diferentes
níveis de crescimento físico. De maneira geral, essa é
a distinção fundamental entre evolução em direção
à maturidade (maturação) e dimensões corporais
fi
nais (crescimento físico).
Se, por um lado, a dinâmica dos diferentes
estágios de maturação dos sistemas biológicos é
semelhante em todos os indivíduos jovens, por outro
podem ocorrer variações individuais signifi
cativas
em relação à época em que os estágios maturacionais
mais avançados são atingidos. Consequentemente,
torna-se possível distinguir jovens, de mesmo sexo,
com maior ou menor grau de maturação que outros
de mesma idade cronológica, o que leva a algumas
difi
culdades quando da necessidade de desenvolver
análises mais confi
áveis sobre o processo evolutivo
das características biológicas antes de o indivíduo
alcançar o estágio adulto.
Em vista disso, para o profi
ssional de Educação
Física e Esporte, além da idade cronológica, infor-
mações sobre os estágios de maturação biológica
podem defi
nir-se como de fundamental importância
quando do desenvolvimento de análises de atributos
associados aos aspectos morfológicos e funcionais de
indivíduos jovens.
Recursos utilizados para estimativa da idade biológica
Dentre os inúmeros aspectos que se manifestam
no organismo jovem e que podem traduzir diferen-
tes estágios de maturação biológica, os indicadores
utilizados devem satisfazer cinco condições:
refl
etir mudanças em característica biológica
específi
ca;
alcançar o mesmo estágio fi
nal em todos os
jovens;
132 • Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp.
GUEDES, D.P.
mostrar contínua evolução quantitativa e/ou
qualitativa, de maneira que discretos estágios nesse
“continuum” possam ser identifi
cados;
ser aplicável durante todo o processo de ma-
turação orgânica; e
ser independente de tamanho.
Ao rever literatura especializada na área (C
AME
–
RON
, 1998), verifi
ca-se que os indicadores mais co-
mumente utilizados na identifi
cação da maturação
biológica incluem:
idade de erupção dos dentes temporários e
permanentes – maturação dental;
idade de aparecimento das características
sexuais secundárias – maturação sexual;
idade de ossifi
cação e fusões epifi
siais – matu-
ração óssea; e
idade de alcance de diferentes proporções em
relação à estatura adulta – maturação morfológica.
Estimativas sobre a maturação dental são realiza-
das com o acompanhamento de eventos associados
ao processo de ossifi
cação dos dentes temporários e
permanentes. Em regra, até a sua formação completa
são identifi
cados três estágios de desenvolvimento
da dentição: a) nível de calcifi
cação da cúspide; b)
erupção no nível do rebordo alveolar; e c) erupção
clínica à altura da gengiva. Assim, com o auxílio de
indicadores previamente estabelecidos para cada
idade cronológica, ao identifi
car em que estágio
de desenvolvimento da dentição temporária e/ou
permanente o jovem se encontra, torna-se possível
estabelecer sua idade dental.
Os indicadores utilizados na identifi
cação dos
estágios de maturação sexual estão estreitamente
associados às manifestações hormonais e às mu-
danças fi
siológicas direcionadas ao estágio adulto
e, portanto, caracterizam-se como importante
instrumento de medida envolvido com estimativas
da idade biológica. Seus procedimentos baseiam-se
na observação das características sexuais secundárias:
desenvolvimento mamário e menarca em moças;
desenvolvimento escrotal e da genitália em rapazes;
e desenvolvimento da pilosidade pubiana tanto em
moças como em rapazes.
O recurso mais indicado para análise da maturação
biológica é a estimativa da idade óssea, considerando
que suas informações podem ser identifi
cadas desde
os primeiros meses de vida até por volta dos 17-18
anos de idade e apresentam elevado nível de precisão
e exatidão associado à coleta dos dados. As estimativas
da maturação óssea baseiam-se no pressuposto de que
cada osso inicia sua evolução biológica como centro
primário de ossifi
cação que sucessivamente vai-se
calcifi
cando e se remodelando até adquirir sua forma
fi
nal, com fusão das epífi
ses com o corpo do osso. A
sequência e a cronologia das fusões epifi
sárias podem
ser detectadas com recursos radiográfi
cos de segmentos
específi
cos do corpo. Desta forma, ao se radiografar
uma região óssea os ossos cartilaginosos que ainda não
se calcifi
caram deverão refl
etir imagem mais clara, e
à medida que cada osso cartilaginoso vai avançando
no processo de ossifi
cação e se tornando mais denso,
sua imagem vai-se apresentando mais opaca quando
refl
etida. Como a dimensão da área ossifi
cada do osso
em questão aumenta com a maturação óssea, quanto
maior a área mais opaca apresentada na radiografi
a,
mais elevado o estágio maturacional diagnosticado.
Portanto, a análise da maturação óssea está alicerçada
em dois indicadores esqueléticos: a) quantidade de
ossifi
cações apresentadas pelos ossos; e b) número de
fusões epifi
siárias ocorridas (G
UEDES
& G
UEDES
, 2006).
Observações quanto à maturação morfológica im-
plicam necessariamente o envolvimento de medidas
antropométricas que procurem oferecer informações
relacionadas ao crescimento físico, particularmente
no que se refere à estatura. Associações estatísticas
entre indicadores de maturação biológica e medidas
de estatura se apresentam tão acentuadas que a pró-
pria idade óssea pode ser utilizada como importante
preditora na identifi
cação do comportamento do
crescimento estatural. Neste particular, sob o ponto
de vista esquelético, quanto mais avançado o estágio
maturacional, mais próximo da estatura adulta se en-
contra o jovem. A análise dos aspectos maturacionais
com os recursos da maturação morfológica torna-se
mais atrativa em razão de o acesso às medidas antro-
pométricas ser relativamente mais simples e menos
invasivo que outros indicadores.
Registros na literatura apresentam três opções em
que as medidas da estatura podem ser empregadas
como indicadores de maturação morfológica. A
primeira, mediante verifi
cação da idade, em anos e
meses, com que a estatura observada do jovem se
iguala à estatura esperada para sua idade cronológica
e sexo, indicada por tabelas de referência normativa
relacionada ao crescimento físico. A identifi
cação da
idade cronológica com que ocorre o pico máximo de
velocidade de crescimento da estatura (PVE) tem-se
caracterizado como outra opção associada à maturação
morfológica. Para tanto, torna-se necessário envol-
ver o jovem em sucessivas medidas de estatura por
vários anos, em intervalos de tempo regulares, com
o fi
m de estabelecer a curva de velocidade individual
direcionada à defi
nição do início, da intensidade e
da duração do crescimento máximo da estatura. A
Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp. • 133
Crescimento e desenvolvimento
Desempenho motor
Infância e adolescência são períodos críticos,
extremamente importantes, associados aos aspectos
de conduta e de solicitação motora. Nessa fase do
desenvolvimento humano, além das implicações
de cunho fisiológico relacionadas aos aspectos de
maturação biológica, o organismo jovem encontra-se
especialmente sensível à infl
uência de fatores ambientais
e comportamentais tanto de natureza positiva como
negativa. Assim sendo, o acompanhamento dos índices
de desempenho motor de crianças e adolescentes poderá
contribuir de forma decisiva na tentativa de promover a
prática de atividade física no presente e para toda a vida.
O acompanhamento dos índices de desempenho
motor em adultos não está totalmente descartado;
contudo, em razão do perfi
l biológico apresentado,
oferece informações extremamente limitadas
e de menor aplicabilidade quando de análises
das capacidades motoras. Recomenda-se que
prováveis indicações dos atributos relacionados
ao desempenho motor sejam estabelecidas o mais
precocemente possível, com o fi
m de assegurá-los
em níveis esperados até que o processo de maturação
biológica possa completar todo o seu potencial de
desenvolvimento.
terceira opção empregada para análise da maturação
morfológica refere-se à determinação da proporção da
medida da estatura presente do jovem, estabelecida em
determinada idade cronológica, em relação à própria
medida da estatura fi
nal adulta predita. Esta técnica
obviamente requer conhecimento quanto à medida
da estatura fi
nal adulta predita do jovem, a qual pode
ser estimada mediante análise radiográfi
ca de epífi
ses
ósseas ou por intermédio de modelos matemáticos que
envolvam informações quanto à estatura dos pais (R
O
–
CHE
, W
AINER
& T
HISSEN
, 1975). Neste caso, chama-se
atenção para o fato de que todo processo de predição
deverá gerar erro de estimativa associado; portanto,
na determinação da estatura fi
nal adulta predita não
se pode deixar de reconhecer eventual presença desses
erros de estimativa de alguma magnitude.
Em relação à interdependência dos indicadores
de maturação biológica utilizados, não se pode
ignorar que nem todos os indicadores apresentam
ritmo maturacional na mesma velocidade. Por
exemplo, até o fi
nal da primeira década de vida
o fenômeno biológico relacionado à erupção dos
dentes permanentes já está bem avançado; contudo,
características sexuais secundárias apresentam-se,
nesse momento, em fase de franca imaturidade,
muito mais distante do estágio adulto que a dentição.
Assim, por apresentarem origens embrionárias
diferentes, a maturação dental e a maturação óssea
são substancialmente independentes uma da outra.
Por outro lado, identifi
cam-se outros indicadores de
maturação biológica que podem se associar entre si;
sobretudo na puberdade. Nesse particular, estágios
mais avançados sobre as características sexuais
secundárias (maturação sexual), à idade com que
várias proporções da estatura adulta são alcançadas
(maturação morfológica) e à idade com que diferentes
fusões epifi
siais são completadas (maturação óssea)
estão fortemente relacionados (T
ANNER
, 1986).
Modelos de classi
fi
cação das capacidades motoras
Por meio das informações disponíveis na literatu-
ra, percebe-se a existência de variadas formas de clas-
sifi
cação e ordenamento das capacidades motoras.
Apesar de as diferentes propostas procurarem buscar
fundamentação em princípios fi
siológicos similares
e, portanto, não apresentarem divergências concei-
tuais notáveis entre si, considerando a inter-relação
entre os atributos motores, a proposição de rotinas
de monitoração do desempenho motor depende
fundamentalmente do modelo de classifi
cação das
capacidades motoras considerado.
Os modelos tradicionalmente empregados na
classifi cação das capacidades motoras procuram
reunir as informações em dois segmentos clara-
mente defi nidos: aquelas pertencentes ao grupo
das capacidades motoras condicionantes e as que se
identifi
cam com o grupo das capacidades motoras
coordenativas. O primeiro grupo é constituído pelo
conjunto de capacidades motoras que apresenta
como fator primordial as características da ação
muscular, a disponibilidade de energia biológica e,
por conseguinte, as condições orgânicas do jovem.
134 • Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp.
GUEDES, D.P.
No segundo grupo, o das capacidades motoras co-
ordenativas, o ponto central refere-se aos processos
de controle motor, responsável pela organização e
formação dos movimentos.
Desse modo, as capacidades motoras condicionan-
tes identifi
cam-se com atributos associados à resistên-
cia, à força, à velocidade e às suas combinações. Por
outro lado, as capacidades motoras coordenativas se
fundamentam na assunção, na elaboração e no pro-
cessamento de informações e no controle da execução
dos movimentos por meio dos analisadores táteis,
visuais, acústicos, estático-dinâmicos e cinestésicos.
Por vezes, os atributos relacionados à velocidade
podem ser considerados como capacidade motora
intermediária e não propriamente condicionante,
tendo em vista que, quando solicitados, pode não
existir predomínio de fatores energéticos limitantes,
senão estreita relação e infl
uência de mecanismos
regulativos e, portanto, coordenativos. Os atributos
decorrentes da fl
exibilidade também não devem ser
caracterizados unicamente por fatores condicionantes
ou coordenativos, mas sim pela participação de ambos.
Partindo da suposição de que o desempenho mo-
tor caracteriza-se por elevada especifi
cidade de cada
uma das capacidades motoras isoladamente e subs-
tituindo a noção de desempenho motor geral pelo
conceito de que cada jovem apresenta desempenho
específi
co em cada uma das capacidades motoras,
mais recentemente surgiu outra proposição.
Esse novo modelo baseia-se no paradigma da
aptidão física e classifi
ca as capacidades motoras em
componentes da aptidão física relacionada à saúde
e em componentes da aptidão física relacionada ao
desempenho atlético. Por essa abordagem, a aptidão
física refere-se às condições que permitem ao jovem
ser submetido a situações que envolvem esforços
físicos. Portanto, em relação à capacidade motora
podem ser identifi
cados oito componentes: resistên-
cia cardiorrespiratória, força/resistência muscular,
fl
exibilidade, velocidade, potência, agilidade, co-
ordenação e equilíbrio (C
ORBIN
& L
INDSEY
, 1997).
Pela óptica da aptidão física, aqueles componen-
tes necessários à prática mais efi
ciente dos esportes
– levando em consideração que cada especialidade
esportiva pode apresentar exigências específi cas
– devem ser tratados como componentes da apti-
dão física relacionada ao desempenho atlético. A
aptidão física relacionada à saúde envolve aqueles
componentes que, em questões motoras, podem
ser creditados alguma proteção ao surgimento e
ao desenvolvimento de disfunções degenerativas
induzidas pelo estilo de vida sedentário.
Testes motores
De modo geral, o principal propósito de
acompanhar o desempenho motor é procurar
obter informações do tipo quantitativo que possam
propiciar comparações inter e intra-jovens com o
objetivo de identifi
car comportamento relacionado
aos aspectos de conduta e de solicitação motora.
Dessa forma, em relação às estratégias de coleta das
informações tem-se disponível uma única opção: a
administração de testes motores.
Nesse contexto, a resistência cardiorrespiratória,
a força/resistência muscular e a fl
exibilidade são
componentes que caracterizam a aptidão física
relacionada à saúde. Por outro lado, em adição aos
componentes relacionados à saúde – que também são
fundamentais na área esportiva – os componentes
especifi
camente direcionados à aptidão física rela-
cionada ao desempenho atlético incluem velocidade,
potência, agilidade, coordenação e equilíbrio.
As capacidades motoras associadas aos compo-
nentes da aptidão física relacionada à saúde podem
diferir consideravelmente das capacidades motoras
identifi cadas com componentes relacionados ao
desempenho atlético, pois esses apresentam acen-
tuada dependência genética e demonstram elevada
resistência às modifi
cações do ambiente, enquan-
to aqueles da aptidão física relacionada à saúde
caracterizam-se por apresentar forte infl
uência do
nível de prática habitual de atividade física. Com-
ponentes específi
cos da aptidão física relacionada ao
desempenho atlético estão também estreitamente
relacionados às habilidades exigidas na prática de
grande variedade de esportes.
Quando da elaboração das rotinas de monitoração
do desempenho motor, torna-se extremamente
importante diferenciar os componentes da aptidão
física relacionada à saúde e ao desempenho atlético,
considerando que a extensão de participação com
que cada um desses componentes se apresenta deverá
infl
uenciar na interpretação de seus resultados. Desse
modo, quando do envolvimento de jovens não-atletas,
independentemente de sua idade, torna-se aconselhável
envolver itens do desempenho motor que se relacionem
com os três componentes da aptidão física relacionada
à saúde e apenas com alguns componentes de maior
representatividade associados ao desempenho atlético.
No caso de jovens atletas, pelo contrário, os itens
de desempenho motor abordados deverão estar
relacionados com todo o rol de componentes que se
identifi
cam com o desempenho atlético.
Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp. • 135
Crescimento e desenvolvimento
Os testes motores caracterizam-se pela realização de
uma tarefa motora conduzida em situação que procure
solicitar predominantemente uma capacidade motora
específi
ca. Desse modo, um aspecto importante a
considerar quando da utilização dos testes motores
refere-se à necessidade de tentar estabelecer a variável
fi
siológica que deverá melhor relacionar-se com os
resultados a serem alcançados. No entanto, essa relação
não deverá ser considerada como causa e efeito, pois
os resultados dos testes motores deverão envolver uma
multiplicidade de fatores que não podem ser explicados
apenas pelos aspectos fi
siológicos.
Por sua vez, os testes motores, pelas suas caracte-
rísticas, não devem ser empregados como instrumen-
to que possa determinar componentes fi
siológicos
que infl
uenciam diretamente a capacidade motora
envolvida, mas apenas para servir como indicador
daquele fator fi
siológico presumivelmente solicitado
naquelas circunstâncias previamente elaboradas.
Em vista disso, a seleção e a administração dos
testes motores deverão ser restritas àqueles que são
mais sensíveis e podem responder às variações dos
fatores fi
siológicos desejados. Esse método exige,
portanto, que estudos prévios sejam desenvolvidos
a fi
m de serem evidenciados quais fatores fi
siológicos
os testes motores possam solicitar prioritariamente.
Se, por um lado, os testes motores apresentam
maior facilidade quando de sua administração e têm
como principal vantagem o fato de não exigirem
equipamentos sofi
sticados e com eles ser possível
obter informações com menor demanda de tempo,
por outro, seu ponto fraco reside no fato de que
os aspectos culturais, motivacionais e ambientais
podem facilmente contaminar seus resultados.
Dessa forma, os testes motores passam a apresentar
maior aplicação prática quando utilizados em avalia-
ções comparativas de resultados de um mesmo jovem
em diferentes momentos ou entre jovens que apre-
sentem aspectos culturais e de motivação similares.
Devem, portanto, ser evitadas avaliações comparativas
entre resultados de testes motores administrados em
jovens pertencentes a diferentes realidades em relação
aos hábitos de prática de atividade física.
Ademais, quando da administração de um teste
motor admite-se que a capacidade motora suposta-
mente envolvida com esse teste apresenta interfe-
rência decisiva em sua resposta. Ao examinar seus
resultados, porém, torna-se necessário ponderar que
a tarefa motora defi
nida pode demandar habilida-
des específi
cas do jovem e exigir, portanto, alguma
experiência motora anterior. Consequentemente, a
análise confi
ável da função fi
siológica que possa vir
a interferir na capacidade motora envolvida no teste
pode fi
car prejudicada.
Por intermédio das tarefas motoras, por vezes
torna-se impossível isolar a participação de deter-
minadas capacidades motoras, o que torna os resul-
tados de alguns testes motores dependentes de mais
de uma capacidade motora. Em vista disso, testes
motores têm sido projetados de modo que, pela sua
natureza, alguns deles podem requerer maior núme-
ro de capacidades motoras que outros. No entanto,
com relação à abrangência do desempenho motor,
esta situação não deve tornar esses testes motores
mais relevantes que os demais, tendo em vista a
possibilidade de a menor especifi
cidade de um teste
motor comprometer um diagnóstico mais preciso
dos níveis de desempenho motor apresentados.
No tocante à sua interpretação, os resultados pro-
venientes dos testes motores podem ser analisados,
em relação aos propósitos de análise do desempenho
motor, em valores relativos e/ou absolutos. Quando a
análise dos resultados for realizada com base em valores
expressos em razão da própria unidade de medida,
como distância, tempo, número de repetições etc.,
diz-se que a análise está sendo realizada em termos
absolutos. No entanto, quando os resultados dos testes
motores forem corrigidos por relações matemáticas,
por alguma variável morfológica (peso corporal, esta-
tura, comprimento do membro inferior etc.), diz-se
que análise está sendo realizada em termos relativos.
Por conseguinte, torna-se possível que a análise
do desempenho motor em relação ao sexo e à idade
cronológica possa refl
etir comportamento específi
co
ao se utilizarem os resultados dos testes motores
em termos absolutos, mas, ao se considerarem os
resultados desses mesmos testes motores em termos
relativos, pode-se obter análise signifi
cativamente
diferente da anterior, em razão de as variáveis mor-
fológicas se apresentarem como fator de infl
uência
direta em seus valores. Em vista disso, sugere-se que,
quando da realização de análises comparativas em
relação ao desempenho motor, as diferenças entre
valores absolutos e relativos devem ser consideradas.
Bateria de testes motores
Cada teste motor deverá apresentar informações
com relação a grupo específi
co de fatores associados
à determinada solicitação motora e se constituirá,
portanto, em uma unidade totalmente independente
dentro do rol das capacidades motoras. Por outro
lado, o desempenho motor deverá ser visto como um
constructo multifatorial resultante do comportamento
136 • Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp.
GUEDES, D.P.
apresentado pelo conjunto das capacidades motoras.
Dessa forma, no que se refere à sua avaliação, parece
impossível obter visão mais abrangente sobre o
desempenho motor por meio da administração de um
único teste motor. Em vista disto, tradicionalmente tem-
se recorrido à utilização de baterias de testes motores para
reunir em uma mesma sequência diversos testes motores,
em que cada um deles deverá oferecer informações sobre
uma capacidade motora em particular, e, o seu conjunto,
sobre o desempenho motor.
Grande variedade de baterias de testes motores tem
sido idealizada e está disponível na literatura, o que per-
mite grande número de opções quando da avaliação do
desempenho motor. Todas elas apresentam em comum
a preocupação em envolver um número mínimo de
testes motores e uma sequência, em sua administração,
em que o desgaste funcional induzido pela realização
de um teste motor possa interferir minimamente nos
resultados dos testes motores subsequentes. Neste par-
ticular, sugere-se que o número ideal que deve compor
uma bateria de testes motores deverá estar restrito a
3-4 itens quando esta envolve componentes de apti-
dão física relacionada à saúde, e entre seis e oito itens
quando procura privilegiar componentes de aptidão
física relacionada ao desempenho atlético.
Caso a bateria de testes motores seja idealizada para
ser administrada em um único dia, os testes motores
que procuram oferecer informações sobre a capacidade
motora flexibilidade deverão iniciar a sequência.
Depois, pela ordem, os testes motores que exigem
participação da potência, da velocidade, da agilidade
e da força/resistência muscular. Deve-se completar essa
série com os testes motores que envolvem a resistência
cardiorrespiratória.
Caso, porém, a bateria de testes
motores seja planejada de maneira que os testes motores
possam ser administrados em dois dias separadamente,
sugere-se que, no primeiro dia, se concentrem os testes
motores que possam ser administrados “indoor”, como
é o caso daqueles testes motores que procuram envolver
as capacidades motoras associadas à flexibilidade,
à potência e à força/resistência muscular, e, no dia
seguinte, os testes motores administrados em ambiente
“outdoor”, como os testes de caminhada/corrida de
curta e longa distância.
Essa sequência para administração dos testes
motores justifi
ca-se em razão de as capacidades motoras
fl
exibilidade, potência, velocidade e agilidade serem
mais bem testadas no início de uma série de esforços
físicos seguida por testes motores que procuram
envolver força/resistência muscular, tendo em vista as
implicações fi
siológicas que envolvem essas capacidades
motoras. Além disso, após a administração dos testes
de caminhada/corrida de longa distância recomenda-se
prolongado tempo para recuperação, e, por esse motivo,
sempre estes deverão ser administrados no fi
nal da
sequência de testes motores de uma bateria.
Entre as baterias de testes motores localizadas na
literatura, verifi
ca-se que praticamente todas as pro-
postas disponíveis têm em comum o fato de serem
seguras contra a ocorrência de eventuais acidentes e
simples na administração dos testes motores, exigirem
mínimo de equipamento, permitirem a sua utilização
em ambos os sexos e se ajustarem a ampla faixa etária.
Infelizmente, em razão de as baterias dependerem
em grande parte do protocolo com que os testes
motores são administrados e considerando que seus
idealizadores introduzem diferentes procedimentos
na administração de alguns desses testes motores,
há difi
culdade, senão impossibilidade, de realização
de comparações entre seus resultados, ainda que
aparentemente apresentem testes motores similares.
Outro aspecto que pode comprometer compa-
rações entre resultados de testes motores de jovens
submetidos a diferentes baterias de testes refere-se às
diferenças culturais entre os povos. Neste particular,
o princípio básico na administração de qualquer teste
motor é a tentativa de o jovem oferecer o melhor re-
sultado possível na tarefa motora proposta. Entretan-
to, quando a bateria de testes motores for conduzida
e não houver o devido interesse em obter os melhores
resultados, a análise do desempenho motor poderá ser
irreal. Além disso, em determinados testes motores os
resultados são fortemente infl
uenciados pelos hábitos
de prática de atividade física que envolve movimentos
exigidos no próprio teste motor.
Com relação à reprodutibilidade das baterias de
testes motores, deve-se descartar a hipótese de que, se
a reprodutibilidade de cada teste motor que compõe a
bateria é satisfatória, a reprodutibilidade de toda a bate-
ria de teste motor é aceitável. Com base no pressuposto
de que as baterias de testes motores são compostas
por vários itens destinados a fornecer informações
bem distintas sobre o desempenho motor, e de que,
por sua vez, as baterias de testes motores constituem
instrumento único dependente tanto da disposição
como da inter-relação entre os testes motores que as
compõem, a reprodutibilidade das baterias de testes
motores como unidade é tão importante quanto à
reprodutibilidade de cada teste motor isoladamente.
A reprodutibilidade de uma bateria de testes
motores tem como principal vantagem o fato
de fornecer informações sobre a ocorrência de
eventuais variações nos resultados encontrados em
consequência da disposição de cada um dos testes
Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp. • 137
Crescimento e desenvolvimento
(variação inter-testes), embora sua magnitude seja
também afetada pela inconsistência dos próprios
resultados dos testes individualmente (variação
intra-teste). Variações inter-testes tornam-se fator
importante a se considerar, na medida em que cada
teste motor que compõe a bateria não é administrado
independentemente do outro. Assim, o resultado de
um teste motor pode infl
uenciar o resultado de um
segundo teste motor em proporção tal que este pode
não ser semelhante se for administrado como se não
fi
zesse parte integrante da bateria.
Como informação adicional, a reprodutibilidade
associada à variabilidade entre réplicas de administra-
ção de bateria de testes motores pode ser estimada por
meio de procedimentos de correlação canônica. Ape-
sar de esse recurso estatístico ser bastante complexo
em valores matemáticos, pode oferecer importantes
informações sobre a utilização de uma bateria de testes
motores, como: a) a reprodutibilidade teste-reteste
“ótima” da bateria de testes motores; b) a variabilidade
inter e intratestes entre duas administrações da bateria
de testes motores; e c) a contribuição da variação dos
resultados de cada teste motor na reprodutibilidade
de toda a bateria (W
OOD
& S
AFRIT
, 1987).
Infelizmente, apesar da existência de inúmeras
baterias de testes motores idealizadas com intenção
de avaliar o desempenho motor, verifi
ca-se alguma
difi
culdade em identifi
car a reprodutibilidade de
qualquer uma delas, numa mostra de que, quando
de suas proposições, foi levada em consideração,
entre outros aspectos, apenas a reprodutibilidade
de cada teste motor individualmente e não a repro-
dutibilidade dos testes motores quando estes são
administrados em conjunto com os demais.
Dentre as baterias de testes motores à disposição
na literatura, com relação às capacidades motoras
direcionadas à aptidão física relacionada à saúde, três
delas, de origem norte-americana, vêm recebendo
maior aceitação: a
Physical Best
, idealizada pela
American
Alliance for Health, Physical Education, Recreation and
Dance
(AAHPERD, 1988); a NCYFS (
National
Children and Youth Fitness Study
), preconizada pelo
U.S. Department of Health and Human Services
(R
OSS
& G
ILBERT
, 1985; R
OSS
& P
ATE
, 1987); e a
Fitnessgram
, proposta pelo
Cooper Institute for Aerobics
Research
(M
EREDITH
& W
ELK
, 2010). No que se
refere às capacidades motoras identifi
cadas com a
aptidão física relacionada às capacidades atléticas,
nos Estados Unidos e no Canadá destacam-se as
baterias de testes motores preconizadas pela
American
Alliance for Health, Physical Education, Recreation
and Dance
(AAHPERD, 1976) e pela
Canadian
Association for Health, Physical Education and Recreation
(CAHPERD, 1980). Em
países europeus tem-se
oferecido maior atenção à bateria de testes motores
sugerida pelo programa
Eurofi
t
(C
OMMITTEE
FOR
THE
D
EVELOPMENT
OF
S
PORT
, 1988). Ap
ós estudos para
conciliar aspectos associados à reprodutibilidade e à
garantia de qualidade das informações, idealizou-se
uma bateria de testes motores direcionada à avaliação
do desempenho motor de jovens brasileiros (G
UEDES
& G
UEDES
, 2006).
Análise dos resultados de testes motores
Resultados de testes motores administrados com
o fi
m de desenvolver inferências sobre o desempe-
nho motor de jovens têm sido tradicionalmente
analisados e interpretados pela confrontação com
dados normativos, envolvendo referenciais idealiza-
dos com base em distribuição de percentis. Parece
evidente que avaliações com essas características
tornam-se extremamente úteis quando a intenção
é desenvolver análises intra e interavaliados, o que
permite a visualização precisa da magnitude de
eventuais alterações que possam ocorrer.
Abordagens desse tipo acarretam inferências sobre
localização dos resultados alcançados nos testes motores
diante de pontos específi
cos da distribuição de percentis
estabelecida com base em amostras representativas de
subgrupos populacionais. Contudo, diferentemente
do que se preconiza quando da análise de indicadores
associados ao crescimento físico – em razão da
signifi
cativa participação de aspectos relacionados à
interação entre fatores culturais, habilidade motora
e hábitos de prática da atividade física nos resultados
dos testes motores – indubitavelmente a transferência
de referências normativas de uma realidade para outra
se torna muito temerosa.
Nesses casos, a situação indicada é dispor de refe-
renciais estabelecidos com base em levantamentos que
procuram atender às características específi
cas de cada
subgrupo populacional para que, fundamentalmente,
os jovens, ao terem seus resultados confrontados com
algum referencial, venham a apresentar características
motoras bem similares às da amostra sobre a qual os
referenciais normativos foram idealizados. Em vista
138 • Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp.
GUEDES, D.P.
disso, diferentes opções relativas à proposição de re-
ferenciais normativos estão disponíveis na literatura.
Apesar de ser possível reunir importantes in-
formações com a análise dos resultados dos testes
motores mediante envolvimento de referenciais
normativos atualizados e adequados à realidade do
jovem em questão, seus procedimentos não con-
seguem oferecer subsídios que possam contribuir
com o fi
m de esclarecer se os resultados dos testes
motores efetivamente evidenciam níveis satisfatórios
em relação à aptidão física relacionada à saúde.
Em princípio, mesmo admitindo-se importante
associação entre os indicadores mais elevados de
aptidão física e as condições satisfatórias de saúde em
populações jovens, análises equivalentes às posições
mais elevadas na distribuição de percentis podem
não garantir necessariamente condições satisfató-
rias de saúde, na medida em que as características
da amostra da qual a distribuição de percentis foi
derivada deverão afetar de maneira signifi
cativa a
capacidade de detecção das diferenças.
Assim, as posições de resultados individuais
podem localizar-se no extremo superior da dis-
tribuição de percentis desenvolvida em segmento
específi
co da população que possivelmente venha
a apresentar hábitos de prática de atividade física
inadequados para garantir condições satisfatórias de
saúde, e, ao mesmo tempo e de forma antagônica,
idênticos resultados podem situar-se no extremo
inferior quando confrontados com a distribuição de
percentis derivada com base em segmento da popu-
lação que apresenta comportamentos favoráveis ao
desenvolvimento de melhores condições de saúde.
Com a introdução dos novos conceitos relaciona-
dos à aptidão física e à saúde, admite-se que, quando
as diferenças entre os jovens deixam de ser impor-
tantes, as análises referenciadas por critérios deverão
apresentar vantagens em relação às confrontações com
dados normativos. Nestes casos, os critérios deverão
representar pontos de corte identifi
cados com indica-
dores de aptidão física consistentes com as condições
satisfatórias de saúde, independentemente da posição
em que se encontram na distribuição de percentis.
Dessa forma, ao recorrer às análises referenciadas
por critérios é interessante identifi
car se cada jovem,
individualmente, se torna capaz de alcançar pontos
de corte previamente estabelecidos em relação aos
indicadores de aptidão física que possam assegurar
algum grau de proteção diante do aparecimento e
do desenvolvimento de disfunções hipocinéticas.
A essência da teoria que procura justifi
car a propo-
sição de pontos de corte para indicadores de aptidão
física relacionada à saúde baseia-se na premissa de
que, para ocorrer redução na incidência de disfunções
orgânicas, torna-se necessário alcançar níveis desejá-
veis de resistência cardiorrespiratória, força/resistência
muscular e fl
exibilidade que possam conter eventual
processo degenerativo induzido por hábitos de vida
inadequados com relação à prática de atividade física.
Em oposição ao enfoque oferecido à análise refe-
renciada por norma – em que o objetivo é apresentar
resultados equivalentes aos mais elevados valores de
percentis – os jovens que não alcançam pontos de
corte previamente estabelecidos como indicadores
da aptidão física relacionada à saúde deverão apre-
sentar maior predisposição aos sintomas crônico-de-
generativos, enquanto os que alcançam ou excedem
os pontos de corte estabelecidos demonstram menor
risco neste sentido. Assim, o importante não é com-
parar os resultados apresentados por um jovem com
outros resultados mediante valores normativos, mas
sim verifi
car se seus resultados alcançam os pontos
de corte estabelecidos em relação à saúde.
Neste particular, a maior difi
culdade encontrada
pelos especialistas da área se concentra na determinação
de resultados associados aos indicadores de desempenho
motor que possam ser utilizados como ponto de corte,
garantindo níveis desejados e absolutos necessários à
melhor condição de saúde. Infelizmente, tudo indica
que na atualidade não existe nenhum mecanismo
confi
ável direcionado à proposição de pontos de corte
que possam assegurar, com alguma convicção, níveis
mínimos requeridos à redução dos riscos de disfunções
degenerativas mediante indicadores de aptidão física.
Diante dessa situação incômoda, com base em
pesquisas experimentais, achados clínicos e desig-
nações arbitrárias baseadas em dados normativos
observam-se algumas iniciativas direcionadas à
proposição de pontos de corte relacionados aos
indicadores de desempenho motor associados à
aptidão física relacionada à saúde. Dois dos princi-
pais programas de diagnóstico e acompanhamento
dos níveis de aptidão física relacionada à saúde em
população jovem são o
Physical Best
(AAHPERD,
1988) e o
Fitnessgram
(M
EREDITH
& W
ELK
, 2010).
Se, por um lado, existe consenso entre ambas as
propostas quanto às estratégias de ação empregadas
na proposição dos pontos de corte, por outro se
constata que escores associados aos pontos de
corte sugeridos na tentativa de atender idênticos
testes motores não são similares. Essa discrepância
ocorre em razão de discordâncias entre as duas
propostas de ajustes necessários à correção da
infl
uência dos indicadores de crescimento físico e
Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp. • 139
Crescimento e desenvolvimento
Nos dias atuais, existe maior conscientização
visando a abandonar o conceito tradicionalmente
empregado para defi
nir saúde, e desse modo, pro-
cura-se incorporar um signifi
cado mais abrangente,
que permite exprimir de maneira mais adequada
a multiplicidade de aspectos que a envolve. Neste
sentido, saúde deve ser entendida não somente
como ausência de doenças ou enfermidades, mas,
sobretudo, como um estado favorável de bem-estar.
Assumindo essa concepção de saúde, é evidente
que não basta apenas não estar doente; é preciso
apresentar evidências, atitudes e comportamentos
que afastem ao máximo possíveis fatores de risco que
possam induzir ao aparecimento e ao desenvolvimen-
to de doenças. Ao admitir que algumas doenças se
manifestam no organismo muito antes de ser possível
o seu diagnóstico, e seus sintomas são consequência
de estágios mais avançados de agentes agressivos,
não se pode considerar, por exemplo, que jovens ao
apresentarem índices de crescimento físico aquém do
esperado, ou quantidades de gordura corporal não
compatíveis com os limites admissíveis, ou ainda,
Considerações
fi
nais
alguma defi
ciência em relação ao desempenho motor,
possam demonstrar estado de saúde satisfatório ape-
nas porque, no momento, não estariam apresentando
nenhum sintoma de qualquer tipo de doença.
Com isso em mente, informações relacionadas
com atributos que procuram evidenciar características
de crescimento físico, maturação biológica, desem-
penho motor e suas interações, podem se constituir,
reconhecidamente, em importantes indicadores do
estado de saúde de uma população jovem. Logo,
dentre as muitas razões que estimulam estudiosos
de todo o mundo a desenvolverem estudos nesta
área, inequivocadamente estão aquelas vinculadas à
preocupação de prevenção primária e promoção da
saúde de crianças e adolescentes. Por esse motivo,
em alguns países não é surpresa encontrar grande
variedade de estudos epidemiológicos que procuram
documentar, analisar e compreender aspectos rela-
cionados ao trinômio crescimento físico – maturação
biológica – desempenho motor, fazendo com que,
nessas realidades, já exista uma notável tradição no
desenvolvimento de ações com essa fi
nalidade.
de maturação biológica nos resultados dos testes
motores. Portanto, ao interpretar os resultados dos
testes motores mediante análise referenciada por
critério, faz-se necessário levar em conta que um
mesmo valor, produzido por um mesmo jovem em
um mesmo momento, pode receber julgamento
diferente se analisado frente a uma ou a outra
proposta de ponto de corte.
Apesar do avanço nesse campo, desconhece-se
qualquer tentativa de validação dos pontos de corte até
então sugeridos. Em vista disso, deve-se levar em conta
que análises de escores provenientes de testes motores
mediante pontos de corte relativos aos indicadores
de desempenho motor associados à aptidão física
relacionada à saúde, até então disponibilizadas na
literatura, deverão ser realizadas com alguma reserva.
Abstract
Growth and development applied to Physical Education and Sport
Growth refers essentially to progressive transformation of quantitative nature that occur in human
body dimensions, while development involves both quantitative and qualitative changes, resulting from
aspects related to process itself of physical growth, maturation and, specifi
cally in the case of physical
education and sport, motor performance. Professional physical education and sport are uniquely posi-
tioned to monitor indicators of growth and development, considering its involvement with educational
aspects and health promotion among young people. The objective of this review study was present basic
concepts and current state of the art associated with growth and development applied to research and
professional practice in the area of physical education and sport.
U
NITERMS
: Physical growth; Maturation; Motor performance; Children; Youth.
140 • Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.127-40, dez. 2011 N. esp.
GUEDES, D.P.
ENDEREÇO
Dartagnan Pinto Guedes
R. Ildefonso Werner 177 – Condomínio Royal Golf
86055-545 – Londrina – PR – BRASIL
e-mail: [email protected]
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