Cocaína: o que é, efeitos e riscos para o organismo

 

Segunda droga ilícita mais contrabandeada do mundo representa inúmeros perigos para a saúde e causa dependência química

O que é cocaína?

A cocaína é um alcalóide derivado das folhas de coca (Erythroxylon coca), planta originária dos altiplanos andinos, localizado no centro-oeste da América do Sul, com efeito estimulante no sistema nervoso central – o que pode causar efeitos como euforia e sensação de “poder” ao usuário. É uma das substâncias psicoativas mais utilizadas no mundo de forma recreacional, mas o uso e a comercialização da droga são proibidos no Brasil.

A droga é encontrada em forma de pó (cloridrato de cocaína), pasta, merla e crack. Todos os tipos causam vício e são consumidos de formas diferentes.

Nomes químicos: benzoilmetilecgonina ou éster do ácido benzóico.

Outros nomes: branca de neve, branquinha, pó, coca e melado.

Como a cocaína é feita

Para a obtenção da cocaína, algumas etapas são realizadas. De acordo com o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid), o primeiro passo consiste na maceração das folhas de coca que, quando misturada a determinados produtos químicos como solventes (querosene ou gasolina) e ácido sulfúrico, produz uma pasta de natureza alcalina, denominada pasta base de cocaína.

“As indústrias químicas que fabricam solventes têm consciência da problemática que envolve o uso destes na fabricação de drogas. Há, portanto, uma checagem de toda a venda em grande quantidade. Mesmo assim muitos tambores de solventes orgânicos utilizados na produção e refino da cocaína acabam sendo vendidos no mercado negro”, relata o professor de química Edson Izidro dos Anjos.

pasta da coca é o produto inicial da fase de preparação. “Mesmo contendo muitas impurezas tóxicas, os usuários fumam essa pasta em cigarros chamados basukos”, afirma Matheus Cheibub, psiquiatra especialista em Dependência Química pelo GREA.

“A merla é um produto grosseiro, obtido também das primeiras fases de separação da cocaína, a partir do processamento das folhas da planta. Tem uma consistência pastosa, cheiro forte e apresenta uma tonalidade que varia do amarelado até o marrom”, explica o psiquiatra. Ela é fumada por alguns usuários e possui muitas impurezas.

cocaína, farinha ou pó, conhecida quimicamente como cloridrato de cocaína, é uma substância sob a forma de um sal, solúvel em água e sem presença de impurezas. O uso do pó é por aspiração ou injetável. Para aumentar o lucro do tráfico ilegal, alguns fabricantes/fornecedores da droga, muitas vezes, adicionam talco, ácido acetilsalicílico (aspirina), pó de giz, pó de gesso, entre outras substâncias para “aumentar” a quantidade do produto.

crack é um subproduto da cocaína, ou seja, é o produto final do processamento da substância, contendo cocaína e as impurezas. “A pedra é pouco solúvel em água, mas se volatiliza quando aquecida e, portanto, é fumada em cachimbos”.

Origem

A folha da coca é utilizada há 3 mil anos a.C. pelos incas, que mascavam a planta nos Andes com a intenção de fazer o coração bater mais rápido e acelerar a respiração para combater os efeitos de viver na montanha. Durante as cerimônias religiosas feitas pelos nativos peruanos, também era de costume mascar a folha.

Em 1859, o químico Albert Niemann sintetizou a cocaína pela primeira vez. Mas quando a substância ficou popular entre a comunidade médica, em 1880, não sabiam ao certo os efeitos danosos da droga. Muitas celebridades da época promoviam a cocaína por não conhecerem suas consequências físicas e psíquicas a longo prazo.

Por volta de 1900, quando usar a droga tornou-se um hábito entre muitas pessoas, os hospitais começaram a registrar casos de danos nasais pelo uso da substância. O governo dos Estados Unidos registrou 5 mil mortes em 1912 e só em 1922 a droga foi banida.

Na década de 70, a cocaína era uma exclusividade das classes mais altas. A situação mudou quando os fornecedores colombianos organizaram um contrabando de cocaína para os Estados Unidos e, desde então, a droga, que era apenas usada pelos mais ricos, tornou-se popular entre todas as classes sociais. Com isso, a reputação de droga mais perigosa e que causava mais dependência da América ficou ligada diretamente às pessoas pobres e criminosas. Até hoje, a cocaína é a segunda droga ilícita mais contrabandeada do mundo.

Como a cocaína age no organismo

Os efeitos da droga podem causar certa sensação de prazer ao usuário, estimulando diretamente os sistemas simpático e dopaminérgicos. Mas a duração desses efeitos dependem da via de administração.

A pasta base, a merla e o crack são fumados, utilizando a via pulmonar que absorve rapidamente a substância e chega rapidamente ao cérebro. Os efeitos surgem após cerca de 15 segundos, mas demoram entre 5 e 10 minutos para desaparecerem. Isso faz com que o indivíduo queira repetir a dose.

A cocaína, por ser uma substância fácil de diluir, é administrada de duas formas: pela via endovenosa, quando diluída em água e injetada diretamente na veia, com início da ação dentro de 45 segundos e duração do efeito de 10 a 20 minutos. Quando usada pela via intranasal, leva cerca de 180 segundos para surtir efeito, sendo que ele dura aproximadamente 45 minutos até acabar. Veja no próximo tópico os principais efeitos causados pela droga.

Efeitos físicos e psíquicos da cocaína

A substância age como estimulante do sistema nervoso central e, por isso, é capaz de causar diversos efeitos ao usuário.

Os efeitos físicos a curto e longo prazo são:

  • Aumento da frequência cardíaca
  • Aumento da temperatura corporal
  • Aumento da frequência respiratória
  • Aumento da transpiração
  • Tremor leve
  • Contrações musculares involuntárias (língua e mandíbula)
  • Tiques
  • Dilatação da pupila (midríase)
  • Urgência de urinação
  • Hiperglicemia
  • Salivação intensa e com textura grossa
  • Dentes anestesiados.

Os efeitos psíquicos a curto e longo prazo são:

  • Aceleração do pensamento
  • Inquietação psicomotora
  • Aumento do estado de alerta
  • Insônia
  • Inibição do apetite
  • Labilidade do humor
  • Sensação de poder
  • Ausência de medo
  • Ansiedade
  • Agressividade
  • Delírios.

Riscos do uso da cocaína

A droga tornou-se um problema de saúde pública justamente pelos efeitos que causam dependência química e riscos à vida do usuário. O psiquiatra Matheus Cheibub esclarece que o uso constante da cocaína e os outros tipos da droga citados acima podem causar:

  • Perda de memória
  • Perda da capacidade de concentração mental
  • Perda da capacidade analítica
  • Alterações estruturais de parênquima pulmonar
  • Destruição do septo nasal
  • Perda de peso
  • Cefaleias
  • Síncopes
  • Distúrbios periféricos
  • Silicose
  • Transtornos psicóticos e de humor.

“Dessa forma, o tratamento contra o vício é realizado de forma multidisciplinar com acompanhamento médico e familiar, psicoterapia, terapia ocupacional, entre outras especialidades”, diz Matheus.

Por que a cocaína causa dependência química?

Em busca de “sensações novas” ou até mesmo para se refugiar dos problemas cotidianos, muitas pessoas começam a usar cocaína e seus subprodutos com a falsa ilusão de que isso irá ajudá-la de alguma forma. Mas as chances dessas drogas viciarem no primeiro uso é altíssima – e por isso representam uma grande ameaça para a saúde mental e física.

Como os efeitos da cocaína e derivados surgem e vão embora rapidamente, os usuários costumam repetir com frequência o uso na “sede” de senti-los por mais tempo. Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), a merla e o crack, por serem administrados pela via pulmonar e levados diretamente ao cérebro, como dito anteriormente, podem viciar mais rápido do que a cocaína que é “cheirada” ou aplicada na veia.

Mas isso não quer dizer que a cocaína não seja altamente nociva e também viciante. Pelo contrário: quando o corpo começa a eliminar a droga do organismo, o indivíduo passa a demonstrar um comportamento depressivo. Na tentativa de aliviar a ansiedade e tristeza, ele se droga novamente. Ainda segundo o CEBRID, a sensação que o usuário vivencia pode ser “agradável” a ponto de fazê-lo usar a droga inúmeras vezes até acabar seu estoque e o dinheiro para comprá-la. Não é raro, por exemplo, ver casos de pessoas que vendem seus bens para adquirir drogas. Essa compulsão é chamada de “fissura”, capaz de dominar a pessoa.

De acordo com o especialista Matheus Cheibub, tanto para a cocaína na forma aspirada e injetável quanto para seus subprodutos fumáveis (merla e crack), o mecanismo de ação para a dependência química é sempre o mesmo. “Toda experiência que passamos, seja boa ou ruim, é registrada em uma área da memória do cérebro chamada de hipocampo – e nunca mais é apagada, visto que ninguém esquece o gosto de uma comida gostosa ou do chocolate, por exemplo”, esclarece.

O hipocampo é ligado ao sistema límbico do cérebro – área responsável pelo prazer, emoções e comportamentos sociais -, logo, toda vez que o indivíduo faz uso de cocaína ou dos seus subprodutos são liberados grande quantidades de neurotransmissores que proporcionam sensação de bem-estar. O corpo, consequentemente, faz forte associação desta droga com o prazer proporcionado pela mesma, e é aí que o usuário acaba repetindo a dose.

A medida que a exposição às drogas é repetida, o indivíduo adquire duas propriedades que são condições determinantes para se tornar um dependente: tolerância – quando o corpo necessita de doses cada vez maiores para atingir o efeito desejado com a droga -, e abstinência – quando sinais e sintomas surgem e a pessoa passa a sentir a falta da droga em seu organismo. “Isso acaba se tornando um ciclo, uma vez que o indivíduo fica cada vez mais tolerante à droga e sente um desejo enorme pela mesma, fazendo-o buscar a experiência da sensação de forma repetida para sanar essa vontade”, ressalta o especialista.

O usuário de cocaína pode apresentar alterações comportamentais, físicas e psíquicas, como boca seca, nariz irritado, com coriza e resquícios da droga, além de alucinações e irritabilidade. No caso da merla e do crack, há, ainda, maior preocupação com a perda de peso (entre 8 kg e 10 kg, em média) e também das noções básicas de higiene.

“O diagnóstico de dependência é feito sempre mediante avaliação química, além da realização de exames de triagem (urina, sangue e cabelo), que indicam o uso da substância”, completa o especialista Matheus Cheibub.

Uso da cocaína com outras drogas

De acordo com o psiquiatra Cheibud, o uso de outras drogas estimulantes pode potencializar o efeito e duração da cocaína. “Já drogas depressoras do sistema nervoso central, como é o caso do álcool, diminuem os efeitos indesejáveis da intoxicação da cocaína, fazendo com que o usuário utilize cada vez mais a droga ilícita para atingir o efeito desejado”, esclarece.

Ele ainda explica que outro complicador do uso concomitante da cocaína com o álcool é a formação de um terceiro composto, de forma endógena. Ou seja, quando o usuário ingere o álcool e a cocaína simultaneamente, o fígado metaboliza os dois e produz o cocaetileno – cujos efeitos são mais extensos e de maior durabilidade que a cocaína utilizada isoladamente. Entretanto, essa junção pode provocar problemas cardíacos e levar até a morte.

Uso da cocaína na gravidez

Quando a cocaína é usada na gravidez, independentemente se for a merla, o crack ou o pó, pode trazer sérios problemas ao feto, causando até mesmo o aborto. Isso porque a droga tem ação tóxica direta no desenvolvimento fetal.

Segundo o OBID, a cocaína estimula o sistema noradrenérgico. Ao ativar esse sistema, além de outros problemas, a frequência cardíaca é aumentada e os vasos sanguíneos são contraídos (vasoconstrição), o que reduz a chegada de oxigênio e nutrientes para a placenta e, por conseguinte, para o feto.

“Isso aumenta a chance de aborto, descolamento prematuro de placenta, complicações e malformações fetais, como baixo peso, dificuldades de aprendizado, problemas de visão e audição”, descreve o psiquiatra.

É possível ter overdose de cocaína?

A overdose é considerada uma complicação aguda da cocaína e coloca a saúde em grande risco. Essa sobrecarga é definida como a falência de um ou mais órgãos e caracteriza-se por arritmias cardíacas, convulsões epilépticas generalizadas e depressão respiratória com asfixia. De acordo com o especialista Matheus, a reação depende do organismo de cada indivíduo e da pureza da substância. Os efeitos em altas doses da droga podem causar:

  • Convulsões
  • Depressão neuronal
  • Alucinações
  • Paranóia (geralmente reversível)
  • Taquicardia
  • Mãos e pés adormecidos
  • Depressão do centro neuronal respiratório
  • Depressão vasomotora
  • Morte.

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