Se pensarmos na quantidade de palavras que existem na língua portuguesa, certamente concluiremos que foi com o passar de muito tempo que elas apareceram. Mas de que forma surgem novas palavras?
A língua portuguesa possui dois processos básicos de formação de palavras: derivação e composição.
Derivação:
Consiste, basicamente, na modificação de determinada palavra primitiva por meio do acréscimo de afixos.
Derivação prefixal: acréscimo de um prefixo ao radical.
A derivação prefixal é um processo de formar palavras no qual um prefixo ou mais são acrescentados à palavra primitiva.
Ex.: re/com/por (dois prefixos), desfazer, impaciente.
Derivação sufixal: acréscimo de um sufixo ao radical.
A derivação sufixal é um processo de formar palavras no qual um sufixo ou mais são acrescentados à palavra primitiva.
Ex.: realmente, folhagem.
Derivação prefixal e sufixal: acréscimo de um prefixo e um sufixo num mesmo radical.
A derivação prefixal e sufixal existe quando um prefixo e um sufixo são acrescentados à palavra primitiva de forma independente, ou seja, sem a presença de um dos afixos a palavra continua tendo significado.
Ex.: deslealmente (des – prefixo e mente – sufixo). Você pode observar que os dois afixos são independentes: existem as palavras desleal e lealmente.
Derivação parassintética: ocorre quando a palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo de prefixo e do sufixo.
A derivação parassintética ocorre quando um prefixo e um sufixo são acrescentados à palavra primitiva de forma dependente, ou seja, os dois afixos não podem se separar, devem ser usados ao mesmo tempo, pois sem um deles a palavra não se reveste de nenhum significado.
Ex.: anoitecer ( a – prefixo e ecer – sufixo), neste caso, não existem as palavras anoite e noitecer, pois os afixos não podem se separar.
Derivação regressiva: ocorre quando se retira a parte final de uma palavra derivada. É o processo de formação de substantivos derivados de verbos (1ª e 2ª conjugações); tais substantivos são chamados de “deverbais”.
A derivação regressiva existe quando morfemas da palavra primitiva desaparecem.
Ex.: mengo (flamengo), dança (dançar), portuga (português).
Derivação imprópria: ocorre quando a palavra muda de classe gramatical.
A derivação imprópria, mudança de classe ou conversão ocorre quando palavra comumente usada como pertencente a uma classe é usada como fazendo parte de outra.
Ex.: coelho (substantivo comum) usado como substantivo próprio em Daniel Coelho da Silva; verdegeralmente como adjetivo (Comprei uma camisa verde.) usado como substantivo (O verde do parque comoveu a todos.)
Composição:
Consiste na formação de palavras pela junção de duas delas. A formação de palavras por composição dão-se por:
2.1) Justaposição: (palavras compostas sem alteração fonética).
Como o nome sugere, os dois radicais que formam o composto são colocados lado a lado, sem que haja alteração fonética neles:
arranha-céu, guarda-roupa, pé de moleque, girassol, passatempo.
2.2) Aglutinação: há alteração fonética na formação da palavra.
A aglutinação ocorre quando ao menos uma das palavras primitivas sofre “queda” ou substituição de fonema:
aguardente (água + ardente), planalto (plano + alto), vinagre (vinho + acre), embora (em + boa + hora).
Outros Processos de Formação de Palavras
3.1) Abreviação ou redução
Consiste na eliminação de um segmento de uma palavra a fim de obter uma forma reduzida.
analfa (analfabeto)
apê (apartamento)
auto (automóvel)
boteco (botequim)
3.2) Siglonimização
É um processo de formação de siglas. Trata-se da combinação das letras iniciais de uma sequência de palavras.
modem (modulator-demodulator)
PC (personal computer)
RAM (random access memory)
MS (Mato Grosso do Sul)
p.m. (post meridiem)
PS (post scriptum)
3.3) Onomatopeia
A palavra é formada por meio da imitação de sons. Leia o exemplo, destacado no excerto a seguir, de um dos contos de Sagarana, de Guimarães Rosa.
Seriam bem dez horas, e, de repente, começou a chegar – miar, mugir, xixi, tique-taque… – do caminho da esquerda, a cantiga de um carro de bois.
3.4) Neologismo
Em sentido mais amplo, neologismo designa qualquer palavra ou expressão recém-criada, mas que não se incorporou definitiva ou oficialmente ao léxico da língua. Assim, todas as palavras derivadas e compostas já foram neologismos em algum momento da evolução da língua. O escritor brasileiro João Guimarães Rosa foi um mestre na criação de neologismos, como cabisquieto, velhar, inalcançar.
Veja mais em: Neologismo.
3.5) Empréstimo linguístico
Trata-se da incorporação de palavras provindas de línguas estrangeiras. Geralmente, passam por um processo de aportuguesamento fonológico e gráfico.
Alguns exemplos de empréstimos lexicais:
Alemão: elmo, lança, espeto, gás, guerra, ganso, norte, sul, hambúrguer, realengo, Ricardo, zinco etc.
Árabe: arroz, azeite, alface, almofada, açúcar, arrabalde, até, algodão, alfaiate, armazém, algema, muçulmano etc.
Chinês: chá, chávena, nanquim, pequinês etc.
Basco: cachorro, modorra e muitas outras palavras terminadas em -arro, -arra, -orro
Espanhol: castanhola, cavalheiro, caudilho, ninharia, ojeriza, bolero etc.
Francês: elite, greve, avenida, detalhe, pose, toalete, tricô, guichê, garçom, matinê, menu, bom-tom, abajur, chance, gafe, costume, boné, buquê, crochê etc.
Italiano: maestro, piano, lasanha, espaguete, salsicha, adágio, pizza, parmesão, milanesa, gazeta, carnaval etc.
Inglês: bife, clube, esporte, futebol, voleibol, basquetebol, jóquei, surfe, tênis, náilon, vagão, shopping, show, xampu, pedigree, gol, pênalti etc.
Japonês: biombo, jiu-jítsu, judô, quimono, nissei, samurai, gueixa etc.
Línguas indígenas: tatu, araponga, saci, pitanga, Iracema, Itu, Iguaçu, jiboia, pajé, caboclo, caipira, capiau, capixaba, tapioca, moqueca, mingau, paçoca etc.
Línguas africanas: samba, cafundó, camundongo, curinga, fubá, farofa, quiabo, quilombo, molambo, bamba etc.
Veja mais em: Estrangeirismo.
3.6) Hibridismo
É a combinação de elementos de línguas diferentes para formar palavras.
Alguns exemplos de hibridismos:
abreugrafia (português e grego)
alcoômetro (árabe e grego)
alcaloide (árabe e grego)
Altinópolis (português e grego)
automóvel (grego e latim)
autossugestão (grego e português)