Minhas salas de aula do passado
O que foi prazeroso lembrar? | O que foi desagradável rever? | Descreva uma sala de aula dessa escola lembrada: | |
Na escola 1:
A escola que eu gostei muito |
As aulas, as atividades físicas, as brincadeiras, o respeito, a camaradagem, os amigos, a união do grupo, o nacionalismo e alguns professores. | A rigidez do sistema, as punições, o internato, a ausência da família, alguns professores e o militarismo exagerado. | Professores e alunos disciplinados e empenhados em construir um “saber”. Aulas dinâmicas, sérias e bem orientadas. |
Na escola 2:
A escola que eu não gostei de estudar lá… |
Alguns colegas, a proximidade de casa, as brincadeiras, os jogos e o recreio. | O diretor da escola, o professor, a metodologia, as punições físicas e o abuso de autoridade. | Um professor “todo poderoso”, mas sem autoridade e os alunos amedrontados pelo uso e abuso de um sistema rígido e autoritário. |
2ª parte: Minha Sala de Aula do Presente
Confesso que cheguei tarde,
Na minha sala do presente.
Um sonho organizado em mente,
Que demorou e ainda arde…
Percebi que na tecnologia
Tudo era possível e atraente,
Mesmo numa sala ausente,
Onde demora em ser tarde…
Procuro nesse ambiente,
O saber que me faz gente;
Como filho do conhecimento
Que emerge de um sono distante…
Abraço essa família que não vejo
E desejo-a no calor da minha mão.
Aulas mágicas que levam e trazem;
Perguntas, dúvidas e soluções…
Afinal, a sala de aula é mesmo aqui,
Cheia de música, ruído e gargalhada.
Tudo não passa de um sonho;
Real, presente e duradouro…
Preparado para dar-me o que faltava;
Um futuro semeado pelo presente,
Lançado na plataforma do AVA.
3ª parte:
Minha sala de aula do futuro
Há muitos anos atrás, em Portugal, quando eu ainda frequentava o ensino primário, aconteceu algo na minha sala de aula que recordo até hoje, por tratar-se de um episódio muito triste.
O Mateus era uma criança franzina e aparentava viver no mundo da lua, como muitas outras crianças. Nada do outro mundo. Apenas tinha um ar um pouco mais distraído do que o normal. Por isso, a professora quase todos os dias o chamava a atenção, fazendo crer que não simpatizava muito com ele. Antes pelo contrário. Em vez de procurar conversar com ele para tentar de alguma forma ajudá-lo, todo o dia o ameaçava com castigos, como se aquilo pudesse resolver alguma coisa.
Naquela tarde cinzenta de outono, o Mateus foi chamado pela professora para receber as suas provas corrigidas de aritmética, ditado e redação. Era norma todos os alunos serem chamados a ir junto à mesa da professora, que se encontrava sobre um estrado de madeira, a nível superior.
E naquele dia não foi diferente. Quando o Mateus recebeu as suas provas, a professora dirigiu-se a ele e à turma num tom solene:
– O Mateus, mais uma vez foi muito mal nas provas e por consequência hoje vai ser castigado.
O nosso coleguinha ficou triste e pálido, baixando a cabeça em sinal de vergonha.
– A partir de hoje, quem for mal nas três provas, como é o caso do vosso colega, irá arrepender-se…
A turma ficou em silêncio e nesse momento a professora abriu a gaveta da sua mesa. Tirou dela um objeto comprido que parecia ser feito de cartolina, com um elástico numa das pontas.
– Hoje, e até ao final da nossa aula, o Mateus ficará exposto na janela da nossa escola, para que todas as pessoas o vejam.
Dito isto, ergueu o objeto e colocou-o sobre a cabeça do pobre coitado. Eram umas “orelhas de burro”, recortadas em cartolina e de cor escura. E para culminar aquele macabro episódio, encaixou-as naquela cabecinha de menino, ajustando-as por baixo do queixinho do Mateus, com o forte elástico…
Este é um exemplo drástico e patético sobre aquilo que não deve (pode) acontecer em uma sala de aula. É nossa esperança que situações e recursos como esse sejam para sempre apagados da nossa memória.
A escola atual ainda tem inúmeros problemas para resolver, talvez não mais com esta dimensão, mas com outros parâmetros tão ou mais graves que este.
Gostaria que a nossa escola do futuro fosse um lugar de troca de informações e que a aprendizagem transitasse num levar e trazer de conhecimento. Onde aprender o que é humano se tornasse fundamental, para que daí adviesse todo o tipo de aprendizagem.
O processo de ensino-aprendizagem está deixando de ser humano, quem sabe na iminência de tornar-se um instrumento com o qual nos apropriamos do outro, reduzindo-o a uma mão de obra barata, por sermos donos de um capital intelectual.
É necessário que o saber possua sabor.
O sabor e o saber são um bem querer…
Às vezes, seria bom deixarmos de lado as abordagens muito técnico-científicas, para nos dedicarmos mais a estar com o aluno, simplesmente.
Para que servirá uma sala de aula se não for capaz de nos transportar para além dessa sala?
A matéria prima de todo o processo de aprendizagem são as pessoas, os seus saberes, fazeres e quereres. Existe toda uma riqueza de possibilidades de relacionamento, companheirismo, socialização e troca de experiências. O conhecimento do outro e o respeito pelas diferenças, desejos e visões do mundo.
Os saberes e os fazeres culturais de professores e alunos, podem ser utilizados como matéria prima em ações pedagógicas, ao serem trabalhados através de soluções e alternativas que integrem a satisfação econômica, os valores humanos e culturais, o compromisso ambiental e o empenho comunitário.
A afetividade, as palavras e as atitudes, podem interagir na diversidade existente na sala de aula e assim constituírem uma fonte de riqueza.
Na sala de aula do futuro não será necessário sufocar o lúdico ou eliminar a alegria para que haja disciplina.
A tarefa de todo o educador é alargar o conhecimento, sem fronteiras, para fazer com que o mundo cresça, dentro e fora da sala de aula.