VÍCIOS DA LINGUAGEM

Uma coisa é bonita porque nós temos um padrão de beleza: uma coisa é falsa porque temos um padrão de verdade e essa discorda dele. Assim também, para se falar em erro ou correção gramatical dentro de uma língua, é preciso recorrer a um padrão, um modelo, um critério.

A finalidade essencial de uma língua é a comunicação… entre os membros de uma comunidade que se serve dela. Para isso é necessário que o instrumento(a língua) tenha certa uniformidade e, assim sirva eficientemente a toda a comunidade.

Toda sociedade humana precisa, portanto, de uma linguagem normal de que todos se sirvam, quer falando, quer escrevendo. E até pensando. A correção consiste na obediência a este padrão ou critério lingüistico. Se ele fosse constantemente uniforme, permanente e sem discordância, não haveria os problemas de todos os dias. Mas um padrão lingüistico de correção é somente um ideal, não uma realidade concreta e nem pode ser fixo e muito menos fossilizado.

Há alguns fatores que perturbam a tranqüilidade de um critério lingüístico de correção

1 – Um fator individual: cada um usa e manipula a língua segundo seu modo e para os seus fins, que ultrapassam o fim primordial da comunicação. Assim, cinco marceneiros, cada um usa da mesma plaina, para o mesmo fim, de modos diferentes: cada um, do seu jeito.

E o indivíduo é naturalmente indisciplinado e rebelde às imposições e às normas que o prendem e lhe limitam as liberdades, verdadeiras ou falsas.

2 – Um fator coletivo: embora a língua seja a mesma, os que a usam são diferentes. E se classificam em três camadas culturais:

a) a camada inferior: as massas mais ou menos analfabetas usam de uma língua popular, pobre e rudimentar, sempre utilitária.

b) a camada média ; uma cultura com o mesmo adjetivo. São pessoas já atingidas pelos benefícios da instrução primária e secundária, pessoas que lêem, não só por necessidade, mas por gosto e interesse;

c) a camada superior: representa a língua média entre o que se fala e o que se escreve, uma língua usual, quotidiana mais a língua das melhores obras literárias

Uma língua-padrão recebe contribuições de baixo, de cima e do meio, mas se fixa e se torna padrào de acordo com as camadas superiores, culturalmente superiores. Entra, agora, em ação, um elemento disciplinante, uniformizador, aparentemente estático e conservador, realmente dinâmico e renovador, móvel, vivo e atual: a disciplina gramatical.

A gramática não nasce abstratamente da cabeça do gramático, nem de conchavos ou de estudos feitos em escrivaninhas, alheados da realidade. A gramática ausculta, observa, registra a língua das camadas superiores. E a ratifica com padrão de correção lingüística. Uma gramática viva que acompanhou a língua portuguesa do século XVI e acompanha a língua do século XX ; uma gramática portuguesa de Portugal e uma gramática brasileira da Língua Portuguesa.

Se a gramática nasce assim, torna-se um critério de correção lingüistica. É correto o que está de acordo com a gramática; é errado o que está em desacordo; Indiretamente é correto ou errado o que estiver de acordo ou em desacordo com a língua das camadas culturais superiores.

E… o que procura uma gramática com padrão de correção lingüistica?

1- A maior eficiência da língua com instrumento de comunicação, através do seu domínio fácil e geral.

2- A possível uniformidade entre todos os membros tão desiguais de uma sociedade humana: uniformizar é mais do que conservar; É preservar

3- Uma língua que seja um instrumento fácil, acessível, útil, apto e que sirva a todas as camadas da sociedade sem ser retrógrado, desatualizado, emperrado.

4- O aperfeiçoamento da mesma língua, consagrando aqueles melhoramentos que lhe dão as camadas cultas, ratificando ou retificando as contribuições das outras camadas, salvando a língua da desagregação e da morte.

5 – Adquirir ou conservar aquelas qualidades fundamentais, indispensáveis a uma língua

a) a clareza;
b) a racionalidade;
c) a exatidão
d) a concisão
e) a expressividade;
f) a beleza…

Ou, resumindo num única conclusão: a sua perfeição.

Para além da gramática abrem-se os horizontes da estilística. Embora gramática e estilística sejam distintas e diferentes, não são nem separadas, nem muito menos, contrastante. E a gramática, em lugar de atrapalhar ou enfear o estilo, dá-lhe excelente colaboração. E dizer que ainda existe alguém que afirma que a gramática é um empecilho par um bom escritor …Pergunte isso a Monteiro Lobato:

“Acho a língua uma coisa muito sério, Rangel. Como a nossa mãe mental.”
“A forma perfeita é magna pars numa literatura.”
“O mau português mata a maior idéia e a boa forma até duma imbecilidade faz uma jóia.”
“O escritor que escreve mal é um porco imundo, um fedorento, um chulepento (sic).”
“Mas seja lá como for, proponho estes pontos:[2]

Há erros ocasionais, quase pessoais que não atingem a língua no seu uso comum. Outros são vícios, ofendem as regras usuais da gramática e do estilo e se tornam doenças coletivas, quase epidêmicas.

Enquanto as figuras de estilo trazem realce e beleza, os vícios enfeiam o estilo tirando-lhe as duas coisas. É preciso,portanto, evitar os vícios e praticar as virtudes da língua.

Apenas como finalidade didática, divido assim;

I – Erros de gramática:

a) contra a fonética
b) contra a ortografia
c) contra a morfologia
d) contra a sintaxe.

II – Erros de estilo:

a) contra a clareza
b) contra a concisão
c) contra a originalidade
d) contra a simplicidade
e) contra a harmonia
f) contra a pureza

Erros de Estilo

A) Contra a clareza

I – Ambiqüidade ou anfibologia: consiste na duplicidade de sentido que a expressão pode ter.
O amor de minha mãe me regenerou.
Pode significar: amor materno ou amor filial.

II – A má pontuação é também contra a clareza.
Não pude ver o homem da janela. Queria escrever. Não pude ver o homem, da janela.

B) Contra a concisão:

I – Tautologia; consiste na repetição desnecessária das mesmas idéias.
A vida é muito breve, curta e pequena.

II – O esparramo: pode-se chamar também de verborréia. É a mania de ser longo, na frase ou no discurso inteiro. Falar muita coisa, sem dizer nada.

C) Contra a originalidade

Os chavões, os lugares-comuns, as frases feitas

Outros que não eu merecia o prêmio…
Preencho uma lacuna.
Caráter sem jaça.
Homem impoluto
Vida ilibada.
Perda irreparável.

D) Contra a simplicidade

É o preciosismo, o pedantismo, tanto no emprego de palavras como na construção de frase.

Pouco se me dá que a azêmola claudique; o que me apraz é acicatá-la. (Não me importa que a mula manque, o que eu quero é rosetá-la.)

E ) Contra a harmonia

I – Cacofonia: é o encontro de sílabas que formam palavras ridículas ou indecentes.
Ela lá trina alegremente.
As idéias, como as concebo, são insinuantes.
Ideal, meus fracassos por ti são.

II – Eco; é a repetição de palavras com desagradável rima.
O casamento do Nascimento foi, no momento, um acontecimento, um verdadeiro deslumbramento.

III – Aliteração: desagradável repetição de uma mesma consoante inicial.
Ó fulgida flor fanada!…
O lápis, dentro d’água , fica como que quebrado.

F ) Contra a pureza

Todo estrangeirismo, palavra desnecessária oriunda de outras línguas. Galicismos, espanholismos, inglesismos, italianismos… Bouquet por buquê, ramalhete, corbelha… Chance por ocasião, oportunidade, nuance por nuança, matiz…

Loader Loading...
EAD Logo Taking too long?

Reload Reload document
| Open Open in new tab

BAIXE O TRABALHO AQUI

Latest articles

Previous article
Next article

Trabalhos Relacionados