Trovadorismo na literatura

 

 

Torna-se de fundamental importância enfatizarmos, antes de tudo, que o Trovadorismo foi um estilo de época ocorrido durante a Idade Média. Sendo que esta foi marcada por dois períodos: Alta Idade Média (século V ao XI) e Baixa Idade Média (século XII ao XV).

Durante esta primeira fase medieval, também conhecida como época das trevas, todo o sistema econômico, político e social era voltado para a agricultura de subsistência, regime ora denominado de feudalismo. Nele, o poder concentrava-se nas mãos do senhor feudal (proprietário do feudo – uma grande extensão de terras) que, por sua vez, cedia uma proporção das terras a um vassalo, e em troca recebia proteção militar e judicial em caso de ataques e invasões. Com isto, implantava-se um instinto de total servilismo, esta relação mútua de dependência caracteriza-se como vassalagem.

Era firmado também um pacto de aliança entre os senhores feudais e a Igreja, uma vez que a ideologia dominante fundava-se na concepção de que Deus era o centro do Universo (teocentrismo) e a medida de todas as coisas. Cabia a ela representar no plano terreno as vontades de Deus, pregando dogmaticamente que a renúncia aos bens materiais e aos prazeres era a condição essencial para a salvação da alma, atendendo ao propósito de obter alcance da plenitude, estando no Paraíso.

Tal poder coercitivo fundamentava-se no Santo Ofício (ou Santa Inquisição), que julgava e, na maioria das vezes, condenava sumariamente à morte aquelas pessoas acusadas de heresia, ou seja, o ato de atentar contra os preceitos da fé cristã.

A partir do século XII iniciou-se um novo período fortemente caracterizado pela reativação do comércio, possibilitando o crescimento econômico e renovando a cultura.
Tal período refere-se à expansão propriamente dita do trovadorismo em Portugal, época em que o país conquistou sua independência política, mais precisamente no século XII.

As produções literárias que a ele se concernem são chamadas de cantigas trovadorescas, cuja característica se finda em composições poéticas cantadas e acompanhadas por instrumentos musicais, dentre eles, viola, lira, harpa, flauta, alaúde e pandeiro.

Quem as compunham eram chamados de trovadores, contudo havia uma hierarquia dentre os mesmos, cuja diferença pautava-se pela função desempenhada pela interpretação, funcionando como uma espécie de status. Havia os trovadores, poetas das cortes feudais que compunham as canções sem nenhuma preocupação com retorno financeiro; os jograis, segréis ou menestréis eram homens com condição social inferior, que iam de castelo em castelo, no intuito de entreter a nobreza, exigindo, com isso, alguma forma de pagamento; soldadeira ou jogralesca, moça que dançava, tocava castanhola ou pandeiro e cantava.

Entre as cantigas que se destacaram no presente período figuram-se dois importantes grupos: a cantiga lírica e a cantiga satírica, cujo idioma predominante era o galego-português. A cantiga lírica, oriunda de Provença, região Sul da França, refletia a estrutura da sociedade feudal, na qual a vassalagem voltava-se para as relações amorosas, ora materializadas pelas cantigas de amor em que o falante declara seu amor por uma dama da corte, expresso pela coita de amor, uma espécie de sofrimento em razão da impossibilidade da realização amorosa, haja vista a divergência entre as classes sociais: ela é esposa ou filha de um nobre e ele, um servo. Em virtude dessa não realização, o sentimento corrobora-se em sofrimento por parte do enunciador, tornando-se prisioneiro de uma paixão inatingível.

Quanto aos aspectos formais, as cantigas de amor são constituídas de versos rimados, agrupados geralmente em duas ou três estrofes, dividindo-se em dois tipos: cantigas de amor de refrão e cantigas de amor de mestria (sem refrão).

Outra modalidade da qual se compõe a cantiga lírica é a de amigo, originária da Península Ibérica, retratava a vida nos arredores dos palácios, no campo e nas vilas em formação. Nela o trovador assume o ponto de vista da mulher, apresentando-se como enunciador feminino, havendo uma igualdade social preconizada pelos pares envolvidos.

Apesar de ser cantada por uma figura masculina, a voz que prevalece é a feminina, na qual a figura da mulher não é mais vista sob o plano idealizado, e sim, no concreto. A temática gira em torno da saudade ligada à vida cotidiana, relacionada a um amigo que partiu para a guerra, ao ciúme, à indignação, à vaidade, aos encontros fortuitos, biles e festas.

No que se refere aos aspectos formais, apresentam uma linguagem e estrutura mais simples quando comparada às cantigas de amor. Muitas apresentam diálogos, tendo Deus e os elementos da natureza como receptores da enunciação. Troca-se a refinada corte por ambientes campesinos, nos quais a mulher ocupa uma posição de camponesa.

Já as cantigas satíricas revelam o mundo boêmio e marginal vivido pelos jograis, fidalgos, bailarinas e artistas da corte, o qual era representado por um código de ética próprio, dispondo-se de hábitos e costumes de modo não convencional perante à sociedade vigente.

Entre elas destacam-se dois tipos: a de escárnio e a de maldizer, cuja temática pauta-se pela crítica mordaz a seres sociais, como homens sovinas, padres e bispos devassos, pobretões que viviam de aparência, mulheres feias, adúlteros, bêbados e maus jograis.

As cantigas de escárnio constituíam-se de uma crítica indireta, sutil, retratadas por uma linguagem mais velada, revestidas por um toque de conotação. Neste caso, não era revelado o nome da pessoa criticada.

As cantigas de maldizer eram aquelas em que a crítica se dava de forma direta, mencionando o nome da pessoa; eram compostas por uma linguagem mesquinha, repleta de palavrões que se tendiam para a obscenidade.

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