Resumo: A Queda de um Anjo

 

Banner do livro "A Queda de um Anjo"

Calisto Elói, um morgado minhoto provinciano de elevados valores morais é convidado para ser deputado em Lisboa, acabando assim por se deixar corromper pelo luxo e pelo prazer que imperam na capital.

Como tu estás mudado! Não me pareces o meu homem!. Corta essas barbas; por alma da tua mãe, corta-me essas barbas, que pareces o diabo, Deus me perdoe!.

Publicado em 1866, esta história sobre a corrupção moral é uma dos mais célebre romances satíricos de  Camilo Castelo Branco e também um dos mais divertidos e cómicos. A temática da história é simples: o poder corrompe; e a ostentação, o adultério e a personalidade de “vira-casacas” são corolários dessa corrupção.

O romance descreve, de maneira caricatural, a vida social e política portuguesa e traz ainda um aspecto risível ao tratar, também, do desvirtuamento de valores morais puritanos.

Calisto Elói, morgado de Agra de Freimas, vive em Caçarelhos, no região do Minho, em perfeita harmonia com a sua esposa. O seu conhecimento dos clássicos, aos quais dedicou toda a vida, enche-o de uma sabedoria moralista e conservadora que o faz ser eleito deputado pelo círculo de Miranda. A sua presença em Lisboa e os seus discursos no Parlamento fazem sensação. A moral dos costumes antigos, que defende em detrimento do luxo e dos teatros, a vernaculidade autêntica e concisa do seu discurso, o seu senso comum, têm um impacto cómico em Lisboa, o que é mais irónico pois na realidade fazem sentido. Deste modo, retratando o Parlamento como palco fechado e circular das disputas pessoais que os próprios discursos políticos geram, Camilo troça daqueles que, em vez de tentarem conhecer e resolver os verdadeiros problemas nacionais, troçam da sua personagem.

A contaminação de Calisto é progressiva e advém da sua própria queda na engrenagem do sistema político e no luxo e vícios da sociedade burguesa de Lisboa. Calisto vai alterando a sua maneira de vestir, de falar, de andar e de se exprimir, com novos «meneios, posturas e jeitos». A transição é tão extrema que até muda a posição política miguelista (conservadora) inicial, para a do partido liberal, acabando por se transformar completamente no oposto do que era antes de ser deputado.

Um dos aspetos mais caricatos e cómicos desenrola-se na sua relação com a esposa, Teodora, que é deixada sozinha em Caçarelhos, e que vai comunicando com o marido, por carta, e que não compreende as mudanças operadas no marido.

Camilo Castelo Branco quis, claramente, apresentar com esta obra satírica, um romance critico, algo que se afasta do aspeto ultra-romântico característico do autor e que se aproxima mais do estilo Realista, no entanto a obra não deixa de pertencer à escola literária do Romantismo. Isto acontece porque na continuidade da obra o sentido critico é abandonado, ou aligeirado, dando lugar apenas à descrição cómica exagerada, o que a torna numa parábola humorística de costumes, não tanto de critica social.

Latest articles

Trabalhos Relacionados