RESENHA: APRENDER ANTROPOLOGIA – FRANÇOIS LAPLANTINE

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“Aprender Antropologia” é o nome do livro escrito pelo antropólogo francês, François Laplantine, e publicado no Brasil em 1988, pela Editora Brasiliense, que aborda a área de conhecimento sobre os homens, de acordo com a história e suas perspectivas atuais.

Para entender o presente, a professora do Departamento de Sociologia e pesquisadora do Centro de Estudos Rurais e Urbanos, Maria Isaura Pereira de Queiroz, autora responsável pelo prefácio do livro, acredita que não podemos ignorar o passado, algo que acontece quando se trata do estudo da antropologia em algumas disciplinas ministradas no Brasil – país em construção, com raízes no futuro.

Com esta obra, os leitores podem aprender um pouco sobre a antropologia, tendo conhecimento dos seus conceitos iniciais, um panorama geral da área do saber, sendo recomendada não somente para estudantes e especialistas de Ciências Sociais, mas também outros acadêmicos.

De acordo com François Laplantine, o homem sempre se interessou em observar homens, refletir sobre seus comportamentos e a sociedade, mas foi somente no final do século XVIII que esta ação se tornou um saber científico. A antropologia ou projeto antropológico surgiu na Europa, pois outras regiões permaneciam inexploradas.

O autor do livro explica que nesta época, as sociedades estudadas pela antropologia eram as que ficavam distantes geograficamente, de dimensões restritas, que tiveram poucos contatos com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco desenvolvida em relação a nossa; e nas quais há uma menor especialização das atividades e funções sociais. Ou seja, a antropologia estudava as populações que não pertenciam à civilização ocidental.

Todavia, como é abordado no livro, com a evolução social, essas sociedades primitivas acabaram desaparecendo, fazendo com o que a antropologia tivesse uma crise de identidade, graças ao seu objeto de estudo.

A antropologia passou, então, a considerar as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade, conduzindo uma especialização do saber.  A área foi dividida em 5 campos de estudo, segundo François Laplantine:

– Antropologia Biológica: consiste no estudo das variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo (fatores culturais que influenciam o crescimento e a maturação do indivíduo).

– Antropologia Pré-Histórica: é o estudo do homem através dos vestígios materiais enterrados no solo (ossadas e quaisquer marcas da atividade humana). Visa reconstituir as sociedades desaparecidas, tanto em suas técnicas e organizações sociais, quanto em suas produções culturais e artísticas.

– Antropologia Linguística: é o estudo da linguagem, expressão dos valores, preocupações e pensamentos de uma sociedade, bem como dos meios de comunicação de massa, dialetos e cultura do audiovisual.

– Antropologia Psicológica: consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano.

– Antropologia Social e Cultural: tudo o que constitui uma sociedade (modos de produção econômica, organização política, crenças religiosas, entre outros).

Ainda segundo o autor do livro, mais do que estudar uma sociedade, a antropologia estuda todas as sociedades humanas, suas culturas, diversidades históricas e culturais. Ao estudar outras culturas, aprendemos mais sobre a nossa também.

O projeto antropológico consiste em estudar a humanidade plural, ampliação do saber.

A antropologia enfrenta algumas dificuldades, como a falta de uma palavra correta para definir a área, o que alguns chamam de etnologia, outros consideram antropologia, além de dividir a definição em antropologia social e antropologia cultural. Os autores também não têm certeza do grau de cientificidade atribuído à antropologia (o homem está em condições de estudar cientificamente o homem?). Outra dificuldade está relacionada a origem da Antropologia e sua relação ambígua com a História.

Entre os deveres da antropologia estão:

– Preservação dos patrimônios culturais locais ameaçados  e dos habitantes de diversas regiões. Relação de troca de saberes e fazeres.

– Análise das mutações culturais impostas pelo desenvolvimento acelerado de todas as sociedades contemporâneas.

Segundo o autor do livro, como a antropologia é de interesse de todos, a obra foi escrita em uma linguagem acessível.

A Pré-História da Antropologia

A antropologia em seu período inicial procurava questionar coisas como: teria o homem selvagem uma alma? Por exemplo, quem questionava os índios serem civilizados, os antropólogos realizavam debates. Alguns à favor dos índios, comentando sua ordem política ser até melhor do que a de algumas sociedades, e outros à favor da servidão dos índios, que eram estranhas aos costumes pacíficos e da vida civil.

Até o século XIX, os estereótipos de mau selvagem e bom civilizado ganharam força, com o desejo de expulsão da cultura todos os que não participavam da faixa de humanidade à qual pertencemos e com qual nos identificamos. Os índios, por exemplo, foram julgados por causa de suas crenças religiosas, aparência física, comportamentos alimentares e língua.

Haviam também os especialistas que defendiam a ingenuidade dos povos, comentando que os mesmos cometiam, muitas vezes, menos barbáries do que nós mesmos. Alguns antropólogos acreditavam nesta área de saber uma maneira de fugir da prisão mecânica da cultura e estudar as formas primitivas da vida humana.

As populações selvagens eram sempre vistas por um dos dois extremos, ou eram belos, ou feios; trabalhadores ou preguiçosos; animal ou humano; religioso ou sem alma; anarquista ou comunista.

Diferente dos conceitos pré-antropológicos, que considerava os selvagens como estereótipos, houve a criação de um projeto antropológico, na qual existiu o desenvolvimento de vários conceitos. Mais do que observar o homem como um objeto e analisá-lo, a antropologia busca interpretar as interpretações.

O livro aborda a importância da antropologia, a maneira que os estudiosos enxergavam os selvagens antes de delimitarem os conceitos desta área do saber e a fundação e desenvolvimento do saber relacionado ao homem, seus costumes e culturas.

O autor utiliza uma linguagem simples e acessível, para explicar como a antropologia se transformou ao longo dos séculos e a maneira que o homem era estudado. A proposta do livro é ensinar sobre a antropologia – uma área complementar a outros saberes e que não precisa estar restrito somente para quem é das Ciências Sociais, já que a antropologia pode ajudar a entender melhor o ser humano.

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