O que é Convulsão, o que fazer, causas, sintomas, pode matar?

 

O que é convulsão?

A convulsão é um distúrbio no qual descargas elétricas anormais no cérebro fazem com que os músculos se contraiam e relaxem rapidamente de maneira desordenada. Muitas vezes, o indivíduo perde a consciência durante o processo. Costuma ser confundida com um ataque epiléptico, entretanto, pode ser causada por diversas condições desconhecidas ao paciente.

Os ataques convulsivos costumam durar entre 1 e 2 minutos, podendo chegar até 5 minutos. Quando acaba, o indivíduo muitas vezes nem lembra do que aconteceu e sofre com sensações desagradáveis como cansaço e confusão.

Estima-se que 2% dos adultos tenham tido alguma convulsão em algum momento de suas vidas. Desses, cerca de um terço voltou a ter uma segunda convulsão. Essas convulsões podem ser epilépticas (relacionadas ao Transtorno Epiléptico Idiopático), mas muitas vezes possuem outra causa, sendo chamadas “não-epilépticas”.

Não é raro que o paciente tenha sensações estranhas antes de convulsionar, mas não se pode prever com certeza com quem, como e quando uma convulsão irá acontecer.

Índice — neste artigo você encontrará as seguintes informações:

  1. O que é convulsão?
  2. Como ocorre a convulsão?
  3. Diferença entre convulsão e epilepsia
  4. Quais são os tipos de convulsão?
  5. O que causa uma convulsão?
  6. Convulsão dormindo
  7. Grupos de risco
  8. Como se manifesta uma convulsão?
  9. Convulsão: o que fazer?
  10. Como é feito o diagnóstico da convulsão?
  11. Convulsão tem cura? Qual o tratamento?
  12. Medicamentos
  13. Cirurgias
  14. Outros tratamentos
  15. Prognóstico
  16. Sequelas e complicações
  17. Convulsão pode matar?
  18. Como prevenir convulsões?

Como ocorre a convulsão?

O cérebro é formado por células nervosas chamadas neurônios, que funcionam através de impulsos elétricos e se comunicam por meio de estruturas químicas chamadas neurotransmissores.

O neurônio tende a ficar inerte até que algum estímulo o “dispare”, ou seja, faça com que ele produza e envie um impulso elétrico. Esses disparos liberam neurotransmissores que são captados por outros neurônios (processo denominado sinapse), fazendo com que estes também disparem, e assim sucessivamente.

A convulsão acontece quando há descargas elétricas anormais, em uma espécie de “curto circuito” no cérebro. Dependendo de onde essas descargas ocorrem, elas podem afetar a cognição e os movimentos da pessoa.

No caso da convulsão, as partes afetadas do cérebro são aquelas responsáveis pela movimentação dos músculos. Assim, os músculos do indivíduo passam a trabalhar de acordo com os sinais que o cérebro emite (que são confusos e não obedecem uma ordem), fazendo com que a pessoa perca controle sobre si mesma.

Não raramente, esses disparos fazem com que a pessoa perca a consciência. Por isso, ela pode precisar de ajuda para não se machucar durante o ataque convulsivo.

Diferença entre a convulsão e a epilepsia

A palavra “epilepsia” se refere, geralmente, ao Transtorno Epiléptico Idiopático, no qual a pessoa sofre com diversas crises de atividade excessiva e anormal nas células cerebrais, incluindo, mas não se limitando a convulsões.

Desse modo, a convulsão pode ser considerada um tipo de ataque epiléptico, mas nem sempre está relacionada à epilepsia em si.

Quais são os tipos de convulsão?

Existem diversas maneiras de se classificar as convulsões. Isso porque essas classificações dependem da causa e da área do cérebro onde se inicia o processo convulsivo. Entenda:

Convulsão epiléptica e não-epiléptica

As convulsões do tipo epiléptica não têm nenhuma causa aparente, ocorrendo repentinamente. Já as não-epilépticas são provocadas por distúrbios ou condições que podem estar afetando o cérebro, como lesões ou infecções.

Convulsões parciais ou focais

A convulsão parcial (focal) ocorre quando apenas uma parte do hemisfério cerebral sofre com descargas desordenadas de impulsos elétricos. Esse tipo de convulsão pode, ainda, ser classificado em subcategorias como a convulsão parcial simples e complexa:

  • Convulsão parcial simples: Nesse tipo, as descargas elétricas começam em uma parte do cérebro e se limitam a esse espaço, não se espalhando para outras partes;
  • Convulsões parciais complexas: Ocorre quando as descargas elétricas não ficam confinadas em uma parte do cérebro e passam para as outras partes, causando outros sintomas.

Convulsões generalizadas

Quando as descargas se dão em todas as áreas do cérebro, ocorre o que é chamado de “convulsão generalizada”. Essas convulsões podem ser primárias (descargas se iniciam na parte profunda central do cérebro e se espalham para os dois lados) ou secundárias (começam com uma convulsão parcial simples, que se espalha por todo o cérebro).

Nas convulsões generalizadas, podemos ver mais subcategorias, que são classificadas de acordo com a atividade muscular e partes do corpo afetadas:

  • Convulsões generalizadas tônicas: O tônus muscular aumenta, fazendo com que o músculo se contraia e enrijeça;
  • Convulsões generalizadas atônicas: Caracteriza-se por uma perda completa do tônus muscular, ou seja, há o relaxamento total do músculo, muitas vezes acompanhado da perda de consciência;
  • Convulsões mioclônicas: Provoca espasmos rápidos de um ou de vários membros do corpo, incluindo o tronco (região do tórax e abdome), podendo causar a perda da consciência;
  • Convulsões tônico-clônicas: Provavelmente o tipo mais conhecido, é caracterizado pela alternância rápida entre contração e relaxamento dos músculos, havendo perda temporária da consciência.

Convulsão febril

Ocorre nas primeiras 24 horas de febre, sendo mais comum em crianças menores de 5 anos. É causada pelo aumento da temperatura corporal, que afeta a função cerebral e promove uma resposta incomum.

Felizmente, esse tipo de convulsão é inofensivo e costuma passar quando a febre é resolvida. No entanto, é importante que os pais tomem os cuidados necessários para que a criança não se machuque durante o ataque, além de levá-la ao médico o quanto antes para investigar e tratar a febre.

Convulsão conversiva

Causada por fatores psicológicos como neuroses, o tipo conversivo tem sintomas parecidos com os diferentes tipos de convulsão, mas não há alteração na atividade cerebral.

O que causa uma convulsão?

São muitos os fatores que podem desencadear um ataque convulsivo, podendo variar desde processos metabólicos até lesões cerebrais. Em algumas situações, nunca se sabe a causa do transtorno.

Anormalidades metabólicas

Níveis anormais de açúcar no sangue (hiperglicemia ou hipoglicemia), cálcio, magnésio, vitamina B6 e sódio podem ser fatores desencadeantes para convulsões.

Geralmente, essas anormalidades só são ligadas às convulsões quando ocorrem em crianças e, quando resolvidas, os ataques tendem a cessar. Quando ocorre em um adulto, é provável que a causa seja outra, assim como em crianças que corrigiram as anormalidades e continuam a manifestar a condição.

Lesões cerebrais

Muitas vezes, as convulsões são causadas por lesões cerebrais no momento do parto, malformações ou condições que danificam o cérebro mesmo depois de adulto. Pessoas que sofreram traumatismos cranianos, acidente vascular cerebral ou possuem tumores no cérebro estão em risco de crises a qualquer momento.

Drogas de abuso e fármacos

Não raramente, a utilização de drogas de abuso ou até mesmo dosagem inadequada de certos fármacos podem causar convulsões.

Pessoas que sofrem de alcoolismo, ao parar de beber abruptamente, podem experienciar convulsões.

Convulsões idiopáticas

Quando não é possível identificar uma causa para as convulsões, elas são chamadas de idiopáticas. Pessoas que sofrem com repetidos ataques convulsivos idiopáticos podem ser portadoras do Transtorno Epiléptico Idiopático, mas é sempre recomendado uma investigação mais aprofundada, a fim de encontrar o diagnóstico correto.

Tabela de exemplos

Para compreender as causas de maneira mais objetiva, observe a tabela abaixo:

Causa Exemplos
Febre alta Insolação

Infecções

Infecções cerebrais Abscesso

AIDS

Malária

Meningite

Raiva

Sífilis

Tétano

Toxoplasmose

Encefalite viral

Distúrbios metabólicos Altos níveis de açúcar ou sódio no sangue

Baixos níveis de açúcar, cálcio, magnésio ou sódio no sangue

Outros distúrbios Insuficiência renal ou hepática

Hipotireoidismo

Deficiência de vitamina B6

Falta de oxigênio no cérebro Parada cardíaca

Intoxicação por monóxido de carbono

Afogamento

Asfixia

Vasculite

Lesões e danos estruturais no cérebro Tumor cerebral

Traumatismos cranianos

Hidrocefalia

Hemorragia intracraniana

Acidente vascular cerebral (AVC)

Anormalidades no nascimento Deficiência congênita

Doenças metabólicas hereditárias

Lesão durante o parto

Edema cerebral Eclâmpsia

Encefalopatia hipertensiva

Fármacos Buspirona

Cânfora

Clorpromazina

Ciprofloxacino

Cloroquina

Clozapina

Ciclosporina

Imipenem

Indometacina

Meperidina

Fenitoína

Teofilina

Superdose de antidepressivos tricíclicos

Drogas de abuso Anfetaminas

Superdose de cocaína

Abstinência Álcool

Anestésicos gerais

Sedativos e soníferos

Exposição a toxinas Chumbo

Estricnina

Convulsão dormindo: é possível ter um ataque durante a noite?

Estima-se que cerca de 7 a 45% dos pacientes com epilepsia têm também convulsões noturnas, sendo que algumas dessas pessoas sofrem com os ataques apenas quando estão dormindo, sem ter noção do problema.

Esse tipo de convulsão ocorre, geralmente, nos estágios mais leves do sono (estágio 1 e 2), nos quais há mudanças significativas na frequência das ondas cerebrais. Esses estágios acontecem não apenas ao adormecer, como também ao acordar, então é possível que a pessoa tenha os ataques nas primeiras ou últimas 2 horas de sono.

Trata-se, geralmente, de convulsões parciais que atrapalham a qualidade do sono. O paciente pode sofrer com hipersonia (sono excessivo durante o dia) e despertares súbitos, além de fazer xixi na cama, rolar e cair ou até mesmo atirar seus pertences — como travesseiros e cobertores — para longe.

Por conta destes sintomas, a convulsão noturna é facilmente confundida com outros distúrbios do sono (parassonias). A melhor maneira de diagnosticar o problema é a polissonografia, exame que mede as ondas cerebrais e outras funções vitais durante o sono.

Grupos de risco

Existem algumas pessoas que têm mais risco de sofrer um ataque convulsivo. São elas:

  • Epilépticos: Pessoas que sofrem com epilepsia já apresentam maior predisposição para sofrer um ataque convulsivo (assim como outros tipos de ataques epilépticos), especialmente quando estão sob estresse físico ou emocional, fazem consumo de bebidas alcoólicas, quando não dormem direito, param de beber ou usam sedativos;
  • Crianças: Devido ao sistema nervoso ainda em formação e a possibilidade de lesões durante o parto;
  • Pessoas que sofreram acidentes: Acidentes envolvendo a parte da cabeça podem causar lesões cerebrais, que podem levar a ataques convulsivos. Esses ataques nem sempre aparecem logo após a lesão, mas podem demorar um tempo para se manifestar.

Como se manifesta uma convulsão?

Por conta das representações da mídia, estamos acostumados a pensar que, quando uma pessoa está convulsionando, ela cai no chão e fica se debatendo. Embora essa imagem possa acontecer em alguns casos, nem sempre é assim que o ataque acontece.

É importante ressaltar que os sintomas variam de pessoa para pessoa e de acordo com o tipo de convulsão que ela está tendo. Estima-se que cerca de 70% das pessoas têm apenas um tipo de convulsão, enquanto o restante pode sofrer com dois ou mais tipos.

Sintomas pré-convulsivos

Algumas pessoas têm sintomas pré-convulsivos, chamados “aura”, caracterizado por sensações incomuns, como:

  • Cheiros ou gostos estranhos;
  • Frio na barriga;
  • Sensação de familiaridade (déjà vu) ou de estranheza em situações comuns (jamais vu);
  • Alucinações visuais;
  • Incapacidade de falar e compreender.

Em geral, esses sintomas precedem a falta de consciência.

Após perder a consciência

Quando o indivíduo não está mais consciente, a maneira que a convulsão se manifesta é vista por quem está perto. Essas manifestações incluem:

  • Contrações e espasmos involuntários e descoordenados dos músculos, que podem se assemelhar a tremores, em um ou mais membros do corpo;
  • Se estiver em pé, o indivíduo pode cair no chão;
  • Salivação intensa (baba), que pode assumir uma característica espumosa;
  • Com as contrações involuntárias, o indivíduo pode morder a língua, deixando vestígios de sangue na baba;
  • Palidez da pele e lábios;
  • Se o músculo da língua relaxar, ela pode ir “para trás” e impedir a passagem de ar pela glote, deixando o indivíduo sem respirar, adquirindo uma coloração azulada na pele;
  • Perda do controle da bexiga e do intestino;
  • Contração do maxilar com a mandíbula, o que pode levar a fraturas nos dentes (por uma espécie de bruxismo);
  • Vômitos.

Quando não há perda de consciência

O indivíduo pode:

  • Piscar os olhos;
  • Apresentar olhar fixado (geralmente em direção à própria testa);
  • Mastigar ou bater os lábios (tremor);
  • Mover as mãos, braços e pernas de uma maneira estranha;
  • Emitir sons sem sentido;
  • Não compreender o que está sendo dito;
  • Resistir a tentativas de ajuda.

Após o ataque convulsivo

Após o final do ataque, algumas pessoas podem apresentar dor de cabeça, confusão e cansaço, além da dor de possíveis machucados que adquiriu durante a crise.

Convulsão: o que fazer?

Estar perto de alguém no momento de um ataque convulsivo pode ser uma situação de grande estresse, mas é importante manter a calma e ajudar o indivíduo para impedir que ele se machuque. Algumas dicas de primeiros socorros que ajudam nesse momento são:

  • Ajude-o a se deitar, para impedir que ele caia abruptamente;
  • Afrouxe as roupas do indivíduo, principalmente ao redor do pescoço, abrindo gravatas, colarinhos, cintos, removendo colares, cachecóis, entre outros acessórios;
  • Deite o paciente de lado para evitar que a língua caia para trás, impedindo a respiração, ou que ele se afogue no próprio vômito, se for o caso;
  • Busque colocar uma proteção entre os dentes do paciente, como um pedaço de pano enrolado, tomando o cuidado para não se machucar. Evite objetos “duros” como colheres, que podem atrapalhar mais do que ajudar;
  • Apoie o paciente em vários travesseiros ou objetos macios, a fim de evitar que ele role para o lado e se fira com algum objeto por perto;
  • Remova qualquer objeto perigoso que esteja nas proximidades do paciente. Isso inclui brinquedos, utensílios de papelaria, qualquer objeto sólido e duro;
  • Espere até que o paciente recupere a respiração e a consciência, se for o caso;
  • Não há necessidade de medicações durante ou após as convulsões, salvo em casos de convulsões repetidas sem intervalos ou quando o ataque não para. Nesse caso, deve-se encaminhar o paciente para um pronto atendimento, onde ele será tratado de acordo com a crise;
  • Busque anotar dados como quando a convulsão começou, o que ocorreu antes da convulsão e o tempo de duração do ataque, a fim de passar para o médico responsável pelo paciente.

O que não fazer?

Existem algumas atitudes que parecem certas no momento da convulsão, mas que podem estar erradas e são capazes de colocar em risco a saúde do paciente e de quem está perto. Algumas coisas que não se deve fazer são:

  • Impedir os movimentos: Devido aos impulsos frenéticos, tentar impedir os movimentos do paciente pode levar à lesões musculoesqueléticas;
  • Balançar ou sacudir a pessoa: Gera falta de ar no paciente, que nesse ponto já pode estar tendo problemas para respirar;
  • Colocar a mão na boca do paciente: Por conta das forte contrações involuntárias, o paciente pode machucá-lo;
  • Jogar água no rosto da vítima: Essa técnica, muito utilizada para acordar pessoas dormindo, não ajuda nada em um indivíduo convulsionando. Pelo contrário, ele pode acabar aspirando a água sem querer, causando afogamento.

Quando devo chamar ajuda?

Deve-se chamar ajuda quando a pessoa convulsiona por mais de 5 minutos e não tem sinais de melhora. Nesses casos, dá-se o nome de estado de mal epiléptico, no qual a convulsão não para.

É de extrema importância que haja supervisão médica nesse estado, pois há contrações musculares intensas e, muitas vezes, falta de ar e aumento da temperatura corporal.

Caso não haja tratamento rápido, o coração e o cérebro podem sofrer sobrecarga e danos permanentes, podendo levar ao óbito.

Como é feito o diagnóstico da convulsão?

O diagnóstico da convulsão é geralmente feito por um neurologista, mas muitas vezes pode ser realizado também por um clínico geral ou pediatra. Existem diversas maneiras de diagnosticar a convulsão, sendo a principal o histórico do paciente.

No entanto, o diagnóstico possui outras etapas, que ajudam a descartar a possibilidade de outros problemas, assim como auxiliar na determinação do tipo de convulsão.

Entenda melhor as técnicas empregadas para auxiliar o diagnóstico da convulsão:

Histórico do paciente

O médico irá avaliar o histórico do paciente, ouvindo tanto o que o paciente tem a dizer quanto pessoas que testemunharam o ataque. Por isso, é de extrema importância que as pessoas presentes anotem todos os dados possíveis sobre a crise.

Pode ser perguntado se, após a crise, o paciente recuperou sua consciência normalmente, se houve sonolência, se conseguia falar e responder perguntas, se lembra do que aconteceu, se a movimentação voltou ao normal ou foi prejudicada, entre outras questões relacionadas à recuperação.

Mais perguntas a serem feitas é se o paciente teve qualquer sensação estranha que precedeu o ataque, como uma premonição ou sentimentos de déjà vu, além da possibilidade do ataque ter sido desencadeado por algum estímulo externo como sons e luzes pulsantes.

O paciente deve relatar se tem qualquer condição que seja um fator de risco para convulsões, como AVC, infecções cerebrais, ferimentos na cabeça, entre outros. Deve também falar se usa qualquer tipo de droga, incluindo o álcool, e se parou de fazer o uso recentemente.

Eletroencefalograma (EEG)

O eletroencefalograma registra a atividade elétrica do cérebro por um determinado período de tempo e pode ajudar a ver anormalidades nessa atividade, demonstrada, geralmente, por picos de onda e ondas anormais (como ondas produzidas durante o sono enquanto o indivíduo está acordado).

O problema é que ele não pode diagnosticar a convulsão sozinho, além de que, entre uma convulsão e outra, o cérebro pode não apresentar qualquer tipo de alteração na sua atividade, ocasionando um resultado normal.

Dependendo do caso, pacientes podem ficar internados de 2 a 7 dias até que se consiga fazer um eletroencefalograma que tenha resultados significativos. Nesses casos, o exame pode ser gravado em vídeo.

Caso o paciente faça uso de algum anticonvulsivo, o médico pode pedir que ele pare de tomar o medicamento por um determinado tempo para aumentar a chance de uma convulsão durante o exame. Isso é feito para conseguir identificar onde inicia e qual tipo de convulsão ocorre.

Exames de sangue e de urina

A fim de verificar desequilíbrios químicos, pode-se realizar um exame de sangue ou de urina. Esses desequilíbrios podem ser a causa da crise convulsiva e, quando resolvidos, a pessoa não volta a ter ataques.

O exame de urina, em especial, é capaz de detectar outras drogas que não foram relatadas pelo paciente — muitas vezes por vergonha ou até mesmo por não saber que consumiu aquela substância.

São verificados os níveis açúcar, sódio, cálcio e magnésio no sangue do paciente, a fim de determinar se a função do fígado e dos rins não está alterada.

Eletrocardiograma (ECG)

Feito para medir o ritmo cardíaco, o eletrocardiograma consiste na aplicação de eletrodos no paciente, que são capazes de medir a atividade elétrica do coração.

Caso o paciente tenha um ritmo cardíaco anormal, a possibilidade de que o fornecimento de oxigênio para o cérebro seja insuficiente é grande. Essa condição pode causar perda de consciência e até mesmo convulsão.

Ressonância magnética (IRM)

Trata-se de um exame de imagem que utiliza um campo magnético para criar imagens detalhadas dos órgãos, incluindo o cérebro. É usado, principalmente, para verificar se não há alterações na estrutura do cérebro, como hemorragias, coágulos, tumores, entre outros.

Tomografia computadorizada (TC)

Uma alternativa mais acessível à IRM, a tomografia computadorizada utiliza aparelhos de raios-X que giram em torno do corpo do paciente, tirando radiografias transversais. É capaz de diagnosticar as mesmas condições mencionadas acima.

Punção lombar

Quando há suspeita de alguma infecção cerebral, como meningiteou encefalite, realiza-se uma punção lombar a fim de coletar material para análise.

O material coletado é o líquido cefalorraquidiano, que flui pela medula espinal (massa de nervos que desce do cérebro até a região lombar, responsável pela comunicação entre o cérebro e o resto do corpo), vindo do próprio cérebro.

O exame se constitui em realizar uma punção, com uma agulha oca, entre a 3ª e 4ª ou 4ª e 5ª vértebra lombar, abaixo do término da medula espinal, onde fica armazenado uma porção do líquido a ser analisado. O exame é feito sob anestesia local.

Convulsão tem cura? Qual o tratamento?

Assim como um paciente pode ter uma crise convulsiva apenas uma vez, outro pode continuar tendo crises por toda a sua vida. A possibilidade de cura dos ataques está mais relacionada à condição causadora das crises. Ou seja: a convulsão pode ou não ter cura.

O tratamento costuma ser feito com medicamentos anticonvulsivantes e, em casos mais graves, cirurgias. Entenda:

Medicamentos para convulsão

Os medicamentos são usados para prevenir crises convulsivas e são de uso contínuo, ou seja, não devem ser interrompidos só porque o paciente apresenta melhora na quantidade de convulsões.

São indicados apenas quando a pessoa apresenta mais do que um quadro de convulsão que não seja causado por causas reversíveis (como alterações metabólicas).

Alguns medicamentos prescritos pelos médicos são:

  • Carbamazepina;
  • Valproato de Sódio;
  • Valium (Diazepam);
  • Etossuximida;
  • Gabapentina;
  • Lamotrigina;
  • Gardenal (Fenobarbital);
  • Fenitoína;
  • Primidona;
  • Topiramato.

Atenção!

NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.

Cirurgias para convulsão

As cirurgias são indicadas somente nos casos em que a pessoa tem vários episódios convulsivos e o uso dos medicamentos não surte efeito. Existem dois tipos de cirurgia: as que removem uma porção do cérebro e as que interrompem o caminho do nervo, fazendo com que este perca a conexão com outros nervos e evitando alterações exacerbadas.

Vale lembrar que todas essas cirurgias acarretam riscos muito grandes, uma vez que o cérebro é o principal responsável pela maior parte das funções do nosso organismo. A possibilidade de operação deve ser considerada levando em conta as vantagens e desvantagens, além da vontade do paciente.

Lobectomia

Geralmente indicada para convulsões parciais simples ou complexas, esse tipo de cirurgia remove apenas a parte do cérebro onde a crise se inicia.

O cérebro é dividido em lobos e a cirurgia pode remover o lobo inteiro ou apenas uma parte do mesmo. Em casos extremos, pode-se remover um hemisfério inteiro do cérebro, com uma cirurgia chamada hemisferectomia. Entretanto, dependendo da idade do paciente, ele pode não sobreviver.

Calosotomia

O corpo caloso é uma ponte nervosa que conecta um lado do cérebro ao outro. Na calosotomia, as fibras nervosas que compõem essa ponta são cortadas, não havendo remoção de tecido cerebral.

Essa cirurgia costuma ser mais indicada para crises generalizadas do tipo tônico-clônicas e mioclônicas.

Nem sempre esse procedimento resolve o problema das convulsões, mas os ataques passam a se limitar a apenas um lado do cérebro, pois não conseguem se espalhar para o outro, devido a falta de conexão do corpo caloso.

Felizmente, esse procedimento melhora a concentração do paciente, o que pode ocasionar ganho na função intelectual.

Transecção subpial múltipla

Às vezes, a parte do cérebro onde se originam as convulsões é a mesma responsável por funções importantes, como movimentação e linguagem. Por isso, a remoção dessas áreas não é recomendada.

Nesses casos, pode-se utilizar a técnica da transecção subpial múltipla, que consiste em pequenas incisões no cérebro, nas regiões que auxiliam a propagação dos impulsos elétricos. Danificando essas partes, pode-se evitar crises intensas.

Outros tratamentos

Dependendo da causa da convulsão, outros tipos de tratamento podem ser aplicados.

Se a convulsão é causada por alguma alteração metabólica, como a hipoglicemia, administra-se uma dose de glicose e busca-se o tratamento para a condição que levou o paciente a esse quadro. Não é necessário tratamento com anticonvulsivantes.

Um outro exemplo é no caso da crise conversiva, que deve ser tratada preferencialmente por um psiquiatra, juntamente com um psicanalista ou psicólogo.

Prognóstico

Receber o diagnóstico de convulsões pode ser desconcertante, especialmente quando não se tem muita informação sobre o assunto. Entretanto, vale lembrar que, na maioria dos casos, o prognóstico é favorável. Muitas pessoas conseguem deixar os remédios depois de um tempo, sem que haja reincidências após o término do uso.

Isso se dá devido à plasticidade do cérebro, um fenômeno que faz com que os neurônios se adaptem, alterando tanto a estrutura anatômica quanto funcional do cérebro. Deste modo, o cérebro se recupera, o que muitas vezes leva ao cessamento das convulsões.

Sequelas e complicações da convulsão

Embora seja raro, as convulsões podem causar sérias sequelas.

Lesões graves

Devido à falta de controle, o paciente pode esbarrar ou bater contra objetos cortantes e perfurantes, acarretando em lesões graves. Além disso, devido às contrações e relaxamentos frenéticos, há um risco aumentado de lesões musculares.

Acidentes

Dependendo do momento em que o paciente tem a crise, ele pode se envolver em acidentes, como os de trânsito ou de trabalho. Isso porque os ataques podem ocorrer a qualquer momento e o indivíduo pode perder o controle do carro ao dirigir, se machucar ao operar máquinas no local de trabalho, entre outras situações.

Danos cerebrais

Por conta da sobrecarga de impulsos elétricos, o indivíduo pode ficar com danos cerebrais irreversíveis. Em alguns casos, há diminuição do fluxo de oxigênio para o cérebro, o que pode resultar em necrose de algumas partes do tecido cerebral.

Convulsão pode matar?

Infelizmente sim, a convulsão pode matar. Embora seja raro, não se pode excluir essa possibilidade, que pode ocorrer tanto indireta quanto diretamente.

Ao ter um ataque convulsivo, o paciente pode se afogar com a própria saliva, sangue ou vômito. O risco de se envolver em acidentes graves também é maior, como mencionado acima.

Morte Súbita Inesperada em Epilepsia (SUDEP)

Em indivíduos com as convulsões descontroladas, pode ocorrer uma condição conhecida como Morte Súbita Inesperada em Epilepsia. O paciente é encontrado morto e, na autópsia, não é encontrada nenhuma causa de morte.

Outro fato interessante é que não há evidências de ataques convulsivos a qualquer momento perto da hora da morte, ou seja, não se sabe se o indivíduo morreu durante um ataque convulsivo ou se foi repentino.

Uma teoria do porquê isso acontece é que, algumas vezes, as convulsões podem inibir ou interferir em áreas cerebrais responsáveis por funções vitais, como respiração e batimentos cardíacos. Nesse caso, há dificuldade na respiração e na manutenção do ritmo cardíaco. Assim, o paciente pode morrer asfixiado, por falta de oxigenação no cérebro e no coração, ou por parada cardíaca.

Como prevenir uma convulsão?

Não existe uma maneira específica de se prevenir a convulsão, uma vez que muitas vezes ela pode acontecer sem motivos aparentes. Entretanto, algumas dicas são:

  • Sempre utilize equipamento de proteção adequado ao andar de bicicleta, patins, moto, ou ao realizar qualquer atividade de grande impacto que pode causar ferimentos na cabeça;
  • Utilize cinto de segurança quando estiver no carro ou em qualquer meio de transporte;
  • Caso seja epiléptico, evite a exposição a certos sons e luzes piscando, fatores que podem desencadear uma crise.

A convulsão é um fenômeno que pode acontecer com qualquer um e em qualquer lugar. Por isso, é de extrema importância que as pessoas saibam o que é um ataque convulsivo, o que acontece e como ajudar.

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