Habitação

As casas e demais formas de abrigo constituem, junto com as vestimentas, as mais importantes criações da evolução técnica e intelectual, pois foram elas que tornaram a espécie humana mais adaptável, capaz de sobreviver desde o equador aos pólos.

Habitação é, desde tempos ancestrais, o abrigo usado pelo homem para proteger-se das ameaças do meio ambiente ou de seu semelhante. Definido como lugar em que se habita, o termo se confunde, no uso corrente, com domicílio, residência, moradia, vivenda, casa, apartamento etc. Segundo a Organização das Nações Unidas, trata-se do “meio ambiente material onde se deve desenvolver a família, considerada unidade básica da sociedade”.

Abrigos naturais. A partir do paleolítico inferior, grutas e cavernas começaram a ser aproveitadas como habitações temporárias pelos hominídeos. O Homo neanderthalensis fez uso mais freqüente desses abrigos, durante as fases frias da glaciação de Würm, também ocupados pelo Homo sapiens do paleolítico superior. Alguns grupos humanos contemporâneos conservam o hábito de escavar abrigos em paredões rochosos ou no próprio solo, sempre que sejam suficientemente porosos para não reterem a umidade, ofereçam pouca resistência aos instrumentos utilizados e, principalmente, apresentem tendência à clivagem vertical. Habitações com características do paleolítico se encontram a cinqüenta quilômetros de Paris, na aldeia de Carrières; e também no sul da China e ao redor do Mediterrâneo, onde chegam a constituir verdadeiras aldeias subterrâneas. Semelhantes a estas são as moradias dos matmatas, na Tunísia, com vários andares escavados na rocha, aos quais se acede por escadas externas; casas da Anatólia, edificadas a partir de cones vulcânicos; e as cuevas existentes em Guadix, na Espanha.

Os abrigos naturais apresentavam, no entanto, vários inconvenientes: eram fixos, por vezes mal situados e úmidos, conjunto de circunstâncias negativas para um coletor ou caçador sempre em movimento. Como os próprios antropóides atuais fazem ninhos para dormir (chimpanzé, gorila), e o orangotango chega a cobrir o ninho com uma cúpula de gravetos ou ramos trançados, é de se presumir que os australopitecíneos fizessem o mesmo, o que teria dado origem aos abrigos artificiais.

Abrigos artificiais. Encontram-se na cultura gravetiana do sul da Rússia (paleolítico superior) os primeiros traços de abrigos artificiais de planta ovalada, cada qual com sua lareira, isolados ou conjugados com outros, cujo chão se situa em nível ligeiramente inferior ao do solo circundante. No sítio mesolítico de Campigny (cerca de 12000 a. C.), encontram-se os mais antigos tipos de habitações semi-subterrâneas, com pilares de madeira forquilhados que suportam um madeiramento horizontal de troncos e barrotes. O conjunto é coberto por paus roliços mais finos, e estes são recobertos com terra. No centro há um orifício por onde escapa a fumaça.

Casas desse tipo são vistas também na Sibéria e na cultura pré-histórica de Mogollon, nos Estados Unidos. No neolítico, as construções já são de adobe ou, como no Egito, de palha trançada, em forma ogival, e planta circular. As aldeias neolíticas de Köln-Lindenthal, na Alemanha, e da idade do ferro, na Polônia, são de “casas grandes”, moradias coletivas do tipo de pau-a-pique.

A casa construída tem existência mais recente e sua configuração depende de fatores como os materiais disponíveis, as técnicas de construção dominadas por certo grupo e suas concepções de planejamento e arquitetura, em função das atividades econômicas, do gênero de vida e dos padrões culturais. É na habitação rural que as influências geográficas se apresentam com maior nitidez, não só porque no campo as comunidades humanas têm contato direto com a natureza, mas também por constituírem grupos menos aparelhados tecnicamente e mais presos à tradição. Além disso, a habitação rural é abrigo e também, muitas vezes, local de trabalho e de armazenamento de produtos, de tal forma que revela nitidamente as atividades e necessidades de seus ocupantes. As mais simples utilizam material vegetal praticamente sem elaboração. Constituem-se basicamente de um arcabouço de troncos e ramos de árvores entrelaçados e usualmente amarrados por cipós, forrado ou não com barro, esteiras ou folhas de palmeira. A cobertura é feita de palha, folhas de palmeira ou, em áreas mais evoluídas, de telhas.

Distribuição geográfica. Esse tipo de casa, no Brasil chamado “de pau-a-pique” ou “de barrote”, distribui-se por uma vasta área geográfica que corresponde às regiões tropicais da América, da África e da Ásia, além dos arquipélagos da Indonésia, Melanésia e Polinésia. Nas áreas tropicais de floresta densa, aparece sob a forma de choças de ramagens, com formas variadas. Os telhados só apresentam elaboração maior na Ásia. Em áreas especialmente úmidas ou inundáveis, a casa de barrote pode ser construída sobre estacas (palafitas), como ocorre na orla litorânea da Venezuela, Guianas, golfo da Guiné, Madagascar, planícies fluviais da Amazônia e Sudeste Asiático.

Em regiões tropicais não-florestais da África surgem choças singulares, com arcabouço de forma cilíndrica ou prismática, que se distinguem das demais por apresentarem um vão entre as paredes e a cobertura, como as cabanas típicas da região banhada pelo rio Ubangui-Chari, ao norte da bacia do Congo. As palhoças construídas pelos zulus (cubatas) e os ameríndios do Brasil (ocas) têm forma de cúpulas hemisféricas e, nesse caso, paredes e telhados freqüentemente se confundem e formam uma só peça. No Extremo Oriente são comuns as habitações flutuantes, ou sampanas, nas quais chega a ser instalado comércio.

Modalidades. Ao tipo de habitação das áreas tropicais opõem-se, nas regiões florestais de latitudes médias e elevadas, as casas de madeira. As paredes são de troncos de árvores superpostos, rústicos ou lavrados, e os telhados, recobertos de plaquetas de madeira, ou algumas vezes de ardósia. É o chalé das regiões alpinas, a cabin, da área setentrional da América do Norte, a blockhaus escandinava, a cota finlandesa ou ucraniana e a isbá russa. Podem ser rústicas, como a cota finlandesa, ou ostentar requintes de construção e de detalhes decorativos, como ocorre na península escandinava e nos Alpes. A existência de serrarias nas áreas madeireiras deu origem à casa de tábuas, comum também no sul do Brasil, nas regiões do pinheiro-do-paraná.

Outra matéria-prima oferecida pela natureza é a pedra, que já no Império Romano, no Egito e na Grécia antigos foi amplamente utilizada. A casa de pedra é um tipo de habitação que pode surgir onde quer que a formação geológica forneça materiais suscetíveis de aproveitamento, como o granito e o xisto. Embora exista em todos os continentes, seu domínio específico é o trecho europeu que circunda o Mediterrâneo, em que constitui a residência rural típica e de onde aparentemente se difundiu para outras regiões.

Proveniente de matéria-prima fornecida pela natureza, mas já resultante de certa elaboração, o tijolo nasceu nas regiões desérticas, onde, pela falta de madeira, é o elemento básico da construção de moradias. O tijolo secado ao sol, ou adobe, foi amplamente utilizado pelo homem, mas sua inconsistência tornou-o facilmente destrutível, especialmente sob a ação da chuva. Uma vez cozido, no entanto, passa a ter boa resistência. É, atualmente, um dos materiais mais difundidos e, com o ferro e o cimento, constitui a base da arquitetura dominante nos centros urbanos. Um caso à parte é a casa de taipa, com paredes geralmente muito grossas, construídas com terra umedecida e fortemente socada, muito comum no Brasil colonial.

Existem ainda tipos específicos de habitação, de domínio geográfico nitidamente demarcado. Entre eles destaca-se a tenda, habitação típica dos pastores nômades do Velho Mundo e também utilizada pelos esquimós no verão, quando se tornam nômades. No inverno, quando se sedentarizam, sua habitação é o iglu, construído com blocos de gelo, que se mantém de pé somente na estação hibernal e se dissolve na primavera.

Adaptação às condições naturais. Além da influência que o meio físico exerce sobre a habitação rural mediante o material de construção, sua ação se faz sentir em outros aspectos da moradia. Assim, nos climas tropicais procura-se protegê-la do calor por meio de varandas e pátios internos de aeração. Para enfrentar as chuvas, os telhados são amplos, projetados para além das paredes, em beirais. Nos climas secos e quentes, o pátio com poço central atende também ao abastecimento de água, enquanto a cobertura, tal como ocorre nas casas árabes, não precisando servir para o escoamento das águas, pode tornar-se plana, em forma de terraço. Nas regiões de inverno rigoroso, os telhados são pronunciadamente inclinados, para não acumularem neve. Janelas e portas têm tamanho reduzido, de modo a evitar perda de calor, e, como regra, a lareira domina o conjunto arquitetônico e a sala principal da habitação. A influência das condições naturais é sentida também em territórios freqüentemente atingidos por terremotos, como o Japão, nos quais se adotam casas leves e flexíveis, feitas com armações de madeira e papel.

Casa urbana. Graças à utilização de técnicas avançadas, a habitação urbana tornou-se relativamente independente das condições físicas locais. Nas grandes construções imperam o ferro e o cimento, o que leva ao surgimento de novas concepções arquitetônicas, enquanto técnicas de refrigeração e calefação de ambientes tornam a casa urbana imune aos efeitos climáticos.

Embora não dependa tanto das condições naturais, a casa urbana, no entanto, torna mais evidentes as diferenças sociais. O equipamento técnico fica claramente documentado nas formas e estilos arquitetônicos. Os padrões de vida, muito mais diferenciados, criam profundos contrastes, com habitações de luxo edificadas muitas vezes perto de paupérrimas habitações coletivas, como os cortiços, ou as favelas freqüentes nas metrópoles brasileiras.

A habitação urbana muda de acordo com o gosto de cada época, sem chegar a criar um estilo próprio. Nas cidades européias, entre moradias de linhas modernas de estilo indefinido, vêem-se construções de rara beleza, ou habitações que respeitaram certo estilo tradicional. Nas cidades de tipo americano, no entanto, o individualismo leva à convivência de diversos estilos dentro de uma mesma cidade ou bairro, ou a produção em série inviabiliza toda originalidade.

Uma característica específica da vida urbana, a falta de espaço, afeta a moradia urbana em sua concepção e aspecto. Às vezes, comprimem-se umas contra as outras, em fachadas estreitas e em vários andares, como é comum nos Países Baixos e na Itália. Outras vezes, grandes prédios são subdivididos em várias moradias, com o aproveitamento dos sótãos e águas-furtadas, como é comum em Paris. Outras vezes ainda, as habitações se acumulam em grandes edifícios, os arranha-céus, característicos dos centros comerciais e bancários das cidades americanas, que se tornaram a marca das grandes metrópoles de todo o mundo no século XX.

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