França

 

A história da França, um dos países mais antigos do Ocidente, confunde-se com a história da Europa e do próprio mundo. Na França nasceram o absolutismo monárquico, personificado na figura de Luís XIV, e a revolução burguesa, que marcou o nascimento de uma nova era.

A França, localizada no oeste da Europa, ocupa uma área de 543.965km2. Limita-se ao norte com o canal da Mancha e o mar do Norte; a nordeste com a Bélgica, a Alemanha e Luxemburgo; a leste com a Suíça e a Itália; ao sul com Mônaco e o mar Mediterrâneo; a sudoeste com Andorra e a Espanha; e a oeste com o oceano Atlântico. O território francês, que tem forma hexagonal, mede cerca de mil quilômetros tanto entre os pontos extremos ao norte e ao sul (da cidade de Dunquerque aos Pireneus, na fronteira com a Espanha), quanto a oeste e leste (da península da Bretanha ao rio Reno).

Geografia física

Geologia e relevo. A grande planície européia, que começa na Sibéria ocidental, afunila-se para oeste e termina no sopé dos Pireneus. Assim, as planícies francesas formam uma unidade morfológica: a bacia sedimentar de Paris está ligada pelo rio Poitou à bacia da Aquitânia, a qual, por sua vez, se liga ao vale do Ródano-Saône pelo corredor de Carcassone. Além das bacias sedimentares, os maciços hercinianos e as montanhas alpinas formam os outros conjuntos fisiográficos da França, completando em síntese os traços fundamentais do relevo do continente europeu.

Os maciços hercinianos formaram-se há cerca de 345-225 milhões de anos. Posteriormente, esses relevos foram aplanados pela erosão e ressurgiram pelo dobramento alpino, há aproximadamente 3,5 a 2,5 milhões de anos. Distinguem-se dois ramos: o oriental e o ocidental. O primeiro inclui as Ardennes, no norte, que contêm as estreitas gargantas dos rios Mosa (Meuse) e Sambre; os Vosges, que separam a bacia de Paris da região da Renânia, a leste, cujo ponto culminante é o monte Guebwiller (1.424m); e a parte oriental do maciço Central. O ramo ocidental inclui, além da parte oeste do maciço Central, o maciço Armoricano, no extremo oeste da França, onde se encontra o monte Avaloirs (417m), ponto mais alto das planícies ocidentais.

O imenso maciço Central, onde nasce grande parte dos rios da França, apresenta fenômenos vulcânicos nas linhas de fratura resultantes da orogenia alpina. Por sua extensão, representou um obstáculo para as comunicações com o interior do país e permaneceu isolado durante muito tempo.

As bacias de rochas sedimentares não apresentam grande extensão se comparadas com as do nordeste da Europa e, em conseqüência da orogenia alpina, sofreram diversas compressões que resultaram em elevações e dobramentos em alguns pontos. Entre essas planícies, destaca-se a bacia de Paris, que compreende uma série de planaltos – Brie, Île de France, Vallois – que descem em direção ao interior e à região de Paris-Orléans.

As planícies do Loire se estendem ao longo do rio de mesmo nome que, com seus afluentes, corta os planaltos e colinas da região. A bacia da Aquitânia, menor que a de Paris, é cortada pelo rio Garona e situa-se entre os Pireneus e o maciço Central. O litoral, com mais de três mil quilômetros de extensão, possui um relevo que varia desde a costa retilínea e arenosa do oeste à suave planície que desce em direção ao mar do Norte, depois de passar pelo litoral da Bretanha, onde desembocam vários rios.

As montanhas da idade alpina são os Pireneus, os Alpes e o Jura. Os Pireneus constituem uma barreira natural entre a França e a Espanha, com extensão superior a 450km, interrompida por estreitos passos localizados a grandes altitudes. O lado espanhol é mais elevado que o francês, onde se destaca o pico de Vignemale (3.298m). Os Alpes franceses fazem parte de uma vasta cordilheira que se estende por outros países europeus e estabelece um limite natural entre a França, a Itália e a Suíça. Nessa fronteira, em território francês, se localiza o monte Branco (4.807m), ponto culminante dos Alpes. O Jura localiza-se a noroeste dos Alpes. É uma cadeia de montanhas de 300km de extensão, entre o Ródano e o Reno, cujo pico mais alto é a Crista de Neve (1.723m).

Clima. A localização da França, na parte ocidental do continente europeu, entre o mar Mediterrâneo e o oceano Atlântico, conjugada a sua grande extensão, permite que o país desfrute de grande variedade de climas. A latitude, a direção das cadeias de montanhas e a topografia também contribuem para definir quatro tipos diferentes de climas: oceânico, continental, mediterrâneo e de montanha.

O clima oceânico é característico das faixas costeiras do noroeste, especialmente da Bretanha. A temperatura média é de 11o C, as precipitações são bem distribuídas e freqüentemente acompanhadas de brumas e névoas. A região recebe influência da massa polar úmida e dos ventos que sopram do oeste. Mudanças bruscas de tempo são freqüentes.

O clima continental estende-se principalmente pelas planícies do leste e decorre da influência da massa polar seca, com invernos mais rigorosos e longos, embora ensolarados. As precipitações são menos abundantes e mal distribuídas, com tempestades violentas durante o verão e maior quantidade de chuvas nos maciços. A bacia de Paris apresenta clima intermediário entre o oceânico e o continental.

No sul da França impera o clima mediterrâneo, assim como na planície do Ródano e nas áreas meridionais de algumas cadeias de montanhas, caracterizadas por invernos brandos e verões quentes, com temperaturas que chegam a 35o C. Durante o outono e a primavera registram-se fortes tempestades. No verão, instala-se o ar seco vindo do Saara e os dias se tornam quentes e luminosos. No baixo Ródano, sopra às vezes o “mistral”, vento que vem do norte e torna os dias particularmente frios.

O clima de montanha, característico dos Alpes, Pireneus, Vosges e maciço Central, é marcado por invernos muito longos e muito frios, nevadas fortes e geadas freqüentes. Chove tanto no inverno quanto no verão, sempre curto e fresco.

Hidrografia. Embora não se incluam entre os maiores do mundo, os rios franceses desempenham importante papel na economia do país. Destacam-se pelo potencial energético e pela navegabilidade, pois, sujeitos a clima temperado e úmido, não congelam e correm sempre com apreciável volume de água. Os principais sistemas hidrográficos da França deságuam no Atlântico e no canal da Mancha, onde formam estuários. Estão unidos por uma rede de canais.

O Reno, que nasce na Suíça, percorre 180km da fronteira oriental, estabelece durante parte de seu curso o limite entre a França e a Alemanha. Seus principais afluentes franceses são o Mosa e o Ill. A navegação no Reno, de grande importância, é feita por meio de canais paralelos. O Sena (Seine) nasce na Côte d’Or, passa por Paris e Rouen e segue para noroeste até desembocar no canal da Mancha, no grande estuário em frente ao Havre, após percorrer 776km. É navegável, assim como seus afluentes Aisne e Marne, e se liga à bacia do Reno por uma série de canais.

O maior rio francês em extensão é o Loire, com 1.010km, que não é navegável devido à irregularidade de seu curso. Nasce no maciço Central e desemboca no oceano Atlântico. Entre os principais rios da França, o mais curto (575km) é o Garona, que nasce nos Pireneus espanhóis, drena a região sudeste da França e desemboca no oceano Atlântico, formando com o rio Dordogne um amplo estuário denominado Gironda. O Ródano é o rio mais caudaloso do país. Ligado à bacia do Reno por um canal, atravessa de norte a sul a região de Lyon para desembocar no mar Mediterrâneo.

Os lagos franceses são muitos: lagos de geleiras, localizados nos Alpes (Genebra, Annecy e Bourget) e Pireneus; de origem vulcânica, situados principalmente no maciço Central; e os de barragem, separados do mar, de forma parcial ou total, por cordões arenosos.

Flora. Apesar da devastação a que foi submetida durante séculos, a França tem a quarta parte de seu território recoberto por florestas reconstituídas. A flora mediterrânea ocupa o sudoeste do país, onde predominam florestas de azinheiras, cuja degeneração deu lugar ao maqui – formação arbustiva fechada própria de solos silicosos – e às garrigues, formação estépica, em solo calcário. Nos Alpes marítimos e nos Pireneus orientais ocorrem carvalhos, castanheiros, pinheiros e lariços. Nas altitudes maiores predomina a vegetação alpina.

A flora não mediterrânea apresenta, da Bretanha até o nordeste e na região central da França, o carvalho séssil e a faia européia. Nas regiões oeste e sudoeste ocorrem várias espécies de carvalho, o castanheiro e a bétula. Nas regiões montanhosas prevalecem os abetos, faias, pinheiros e lariços. Acima do limite da floresta, geralmente composta de coníferas, aparece a vegetação alpina.

Fauna. O território francês foi, em tempos remotos, uma encruzilhada onde animais de diversas origens se encontraram e se miscigenaram, o que resultou numa fauna relativamente rica. A fauna selvagem habita sobretudo as montanhas e florestas. Destacam-se a raposa, o javali e o urso, extinto nos Alpes mas ainda encontrado nos Pireneus, onde também há águias.

População

Durante a Idade Média, o território francês foi uma região de trânsito dos muitos povos e movimentos migratórios que percorriam o continente em várias direções. A população francesa resulta de inúmeras contribuições humanas recebidas ao longo da história.

As duas influências dominantes — dos celtas, cuja imigração para a França ocorreu entre os séculos VI e I a.C., e dos romanos, cujo domínio sobre o território se deu do século II a.C. ao V da era cristã — correspondem às diferenciações regionais da França: o norte francês é mais germânico e o sul, mais latino. A heterogeneidade racial, contudo, não impediu que os franceses desenvolvessem um forte sentimento nacionalista.

A língua oficial é o francês moderno, de origem neolatina, que se firmou em todo o país desde a revolução de 1789. Em áreas periféricas do país, línguas diferentes subsistem paralelamente ao francês: o bretão, no oeste da península da Bretanha, o basco, nos Pireneus, junto ao golfo de Gasconha; o catalão, no Roussillon, junto à mesma cordilheira; o dialeto alsaciano, variante do alemão (semelhante ao dialeto suíço), falado na Alsácia; e o flamengo, na fronteira belga. O provençal, de raiz latina, sobrevive apenas como curiosidade literária.

A religião predominante na França é o catolicismo, principalmente no meio rural. Entretanto, apesar de sua vinculação ao Vaticano, a Igreja Católica francesa conserva características nacionais. Assinalam-se ainda minorias de judeus, protestantes (luteranos e calvinistas) e maometanos.

Uma das principais características da demografia francesa é a estagnação da taxa de crescimento da população desde o final do século XIX. Essa situação deve-se a uma série de fatores, como o controle da natalidade, que, na França, foi implantado no final do século XVIII, muito antes das outras nações. Também houve influência das idéias difundidas pela revolução francesa (adoção do divórcio, predominância da vida urbana, individualismo, diminuição do sentimento religioso) e as várias guerras que desde então o país enfrentou, com enorme perda de vidas humanas. Nesse sentido, foi especialmente dramática a segunda guerra mundial, quando morreram cerca de 1,4 milhão de franceses.

Em 1938, o estado iniciou um programa destinado a incrementar a natalidade. Foram postas em prática medidas como ajuda financeira a famílias que tivessem filhos, maiores cuidados sanitários e incentivos psicológicos. Os primeiros resultados dessas medidas surgiram nas décadas que se seguiram à segunda guerra mundial, quando ocorreu acentuado aumento da população, resultado sobretudo da conjugação de três fatores: o retorno de um milhão de franceses ao país, ao final do período de colonização de Marrocos, Argélia, Tunísia e Indochina; aumento da natalidade; e chegada de grande número de imigrantes.

A taxa de natalidade se manteve alta até a década de 1960, quando houve uma redução importante, devida, em grande parte, à difusão dos contraceptivos orais. Ao mesmo tempo, a taxa de mortalidade caiu, devido à melhoria das condições sanitárias.

As conseqüências dessa evolução demográfica se manifestavam na composição da população na segunda metade do século XX. Devido às baixas masculinas provocadas pelas guerras mundiais, o número de mulheres era bem maior que o de homens e o número de pessoas em idade ativa, bastante reduzido se comparado ao número de anciãos e de jovens. A população dependente do trabalho de outros, portanto, era muito elevada.

Os movimentos populacionais, sobretudo a chegada de grandes contingentes de imigrantes, sempre tiveram muita importância na França. A emigração, ao contrário, não é muito significativa. Há dois tipos de imigração: um de caráter político e outro econômico. O primeiro se deve ao liberalismo francês, que admitiu grande número de refugiados políticos. Entre a primeira e a segunda guerras mundiais, três milhões de imigrantes chegaram à França. A imigração de caráter econômico deveu-se à necessidade de mão-de-obra, que permitiu, num primeiro momento, a chegada de pessoas do resto da Europa (italianos, poloneses, espanhóis e belgas). Depois da segunda guerra mundial, juntaram-se aos imigrantes europeus os oriundos das antigas colônias: argelinos, marroquinos e tunisianos, principalmente. A partir de 1974, em função das dificuldades financeiras, a França fechou as portas à imigração.

Devem ainda ser assinalados dois tipos de movimentos demográficos internos. O primeiro, das montanhas para as planícies, provocou o despovoamento de algumas regiões. O outro movimento interno é do campo em direção à cidade, que provocou grande aumento da população urbana. O êxodo rural afetou especialmente Paris, onde, no fim do século XX, quase metade da população havia nascido fora da área metropolitana.

Marselha, Lyon, Toulouse, Nice, Nantes, Estrasburgo, Bordéus, Lille, Saint-Étienne e Grenoble, junto com Paris, são os núcleos que concentram a maior parte da população. As áreas mais despovoadas são as montanhas (Pireneus, Alpes e maciço Central), regiões de solos pobres (Landas e Sologne), e as áreas rurais isoladas. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)

Economia

A França apresenta uma economia muito desenvolvida e é um dos países mais industrializados do mundo. Até meados do século XIX, a economia era essencialmente agrícola, com importantes atividades artesanais. O desenvolvimento dos transportes, na segunda metade do século XIX, acelerou a concentração, em certas áreas, de atividades industriais. Métodos modernos de fabricação em série foram implantados após a primeira guerra mundial.

Depois da segunda guerra mundial, mais exatamente a partir de 1950, o governo francês estabeleceu algumas medidas protecionistas de seus produtos frente aos estrangeiros, que foram paulatinamente abandonadas à medida que a indústria francesa se modernizou, tornando-se mais competitiva. Na década de 1970 a produção industrial cresceu 33% mas, a partir de 1980, estabilizou-se.

Agricultura. A França possui solos excelentes para o cultivo de cereais, o que a torna um dos poucos países europeus com excedentes agrícolas para exportar. A principal região produtora é a bacia de Paris. A tradição agrícola remonta a épocas muito antigas, mas a mecanização do campo alterou a agricultura de subsistência e gerou o êxodo rural, a especialização dos cultivos e a expansão das lavouras. A maior parte das terras cultiváveis é utilizada para a produção de cereais e uva, principais produtos agrícolas do país.

A França está entre os grandes produtores mundiais de trigo e, na Europa, tem uma das maiores produções de arroz – plantado principalmente no sul (Camargue). O milho híbrido, destinado à forragem, é cultivado principalmente na região sudoeste. A produção de cevada (Alsácia e Borgonha) cresceu em função da indústria da cerveja.

É grande a produção de vinhos na França. Destinam-se ao mercado interno, mas há excedente para exportar para todo o mundo. São produzidos basicamente três tipos de vinho: (1) os grandes vinhos, chamados vins d’appellation ou vins de cru, que têm a qualidade controlada pelo governo desde o início do século XX; (2) os “vinhos transformados” (bebidas semelhantes ao vinho): o champagne, o cognac, o armagnac, batizados de acordo com sua região de origem; e (3) os vinhos comuns, ou vins de consommation, vendidos em copos no varejo. Somente os dois primeiros são exportados. Os melhores vinhos franceses provêm dos pequenos vinhedos localizados em áreas específicas: o vale do rio Loire, a Borgonha, as Côtes du Rhône, a Alsácia e o Jura.

A beterraba, plantada no norte para fabricação de açúcar, a batata, frutas, hortaliças e flores também são produtos importantes. Assinala-se ainda o cultivo de plantas aromáticas para a indústria de perfumes.

Pecuária, recursos florestais e pesca. No fim do século XX, o rebanho de bovinos teve crescimento acentuado na França. Com o país situado entre os maiores exportadores de derivados de leite do mundo, a pecuária representava uma importante fonte de divisas. Destacam-se também os rebanhos ovino, para produção de lã e carne, e suíno. Em menor medida, são criadas cabras para produção de queijo.

As florestas primárias da França constituíam-se de carvalhos e faias que foram substituídos por pinheiros e outras espécies de crescimento rápido. Nas regiões montanhosas há grandes florestas de coníferas e, na região das Landas, o pinheiro é muito abundante. O governo central, assim como os governos estaduais, administra um considerável percentual das áreas de florestas do país, mas a maior parte está em mãos de particulares. Junto aos países escandinavos, tradicionalmente madeireiros, a França se destaca como produtora de madeira na Europa.

Devido às grandes extensões litorâneas voltadas para o oceano Atlântico e o mar Mediterrâneo, a pesca é uma importante atividade econômica. Na região norte localizam-se os maiores centros de pesca industrial do país, sobretudo na Bretanha, onde há grandes portos: La Rochelle, Lorient, Concarneau, Douarnenez, Dieppe, Boulogne e Frécamp. No mar Mediterrâneo a pesca é mais artesanal e predominam a sardinha e o atum. Na pesca de alto-mar, são importantes para a economia do país o arenque, atum, linguado e cavala. Na região litorânea do golfo de Biscaia destaca-se a criação de ostras.

Energia e mineração. A nacionalização das minas francesas logo depois da segunda guerra mundial permitiu a modernização das técnicas de mineração, o que aumentou a produtividade do setor. Entretanto, a atividade e o número de trabalhadores têm diminuído, desde 1960, com a progressiva substituição do carvão por outras fontes de energia, como o petróleo.

Produz-se carvão principalmente no norte do país e na Lorena, na bacia do Sarre. O carvão de melhor qualidade encontra-se na bacia de Saint-Étienne e é utilizado em usinas termelétricas e siderúrgicas dessa região ou de Lyon. A França, no entanto, importa carvão, pois a produção interna não atende às necessidades da siderurgia nacional. Há jazidas de petróleo em Parentis, mas a produção insuficiente torna necessária a importação. Essa dependência fez com que os efeitos da crise do petróleo de 1973 fossem bastante graves para a economia francesa.

Entre os países europeus, a França é um importante produtor de minério de ferro. No passado, teve grande importância também a produção de bauxita, que deve seu nome à localidade de Les Baux, perto de Arles. O país possui ainda outros recursos minerais — zinco, sais de potássio, chumbo e ouro. Havia também grandes reservas de gás natural, mas a exploração exaustiva praticamente esgotou esse recurso, que passou a ser importado dos Países Baixos, da Argélia, da Noruega e da antiga União Soviética. O país produz ainda sal-gema, potássio e sal marinho.

As usinas hidrelétricas aproveitam as quedas d’água das regiões montanhosas dos Alpes, Pireneus e do maciço Central, bem como de alguns rios, como o Sena, o Ródano e o Durance. A produção de energia se completa com várias centrais nucleares. A primeira usina atômica da França foi inaugurada em 1956, em Marcoule, no departamento de Gard. Destacam-se ainda a de Chinon e a de Saint-Laurent-des-Eaux. Extrai-se urânio para usos pacíficos e militares na bacia do Loire, na Alsácia e na Côte d’Azur.

Indústria. No fim do século XX, a França era a quarta nação industrial do mundo, depois dos Estados Unidos, Japão e Alemanha. O processo de industrialização tomou impulso no período que se seguiu à segunda guerra mundial, com apoio financeiro decisivo do governo, que também incentivou a fusão de pequenos grupos empresariais, o que resultou em maior concentração industrial. As principais regiões industriais da França são as de Paris, do norte, da Alsácia-Lorena e de Lyon. A indústria siderúrgica se concentra nas proximidades das jazidas de ferro, especialmente no norte e no nordeste. A mecânica pesada francesa encontra-se nas proximidades dos parques siderúrgicos ou dos principais mercados. A indústria de alumínio, obtido a partir do tratamento da bauxita, centraliza-se nas cidades próximas dos Alpes e dos Pireneus.

Destacam-se no parque industrial francês as montadoras de automóveis e aviões, as indústrias mecânicas, elétricas, químicas — com grande concentração financeira — e alimentícias, geralmente situadas perto dos centros urbanos. A França também desenvolveu significativamente a tecnologia de ponta — informática, eletrônica e aeronáutica. Destaca-se o crescimento da indústria de armamentos, em que o país ocupa um lugar importante em nível internacional.

A fabricação de relógios é tradicional na fronteira com a Suíça (Jura) e a confecção de roupas, principalmente femininas, é importante fonte de divisas para o país. A indústria francesa de tecidos (linho, seda, lã e algodão) abastece o mercado interno e produz excedentes para a exportação.

Finanças, comércio e turismo. A unidade monetária francesa é o franco e a emissão de papel-moeda só pode ser feita pelo Banque de France, que concentra a atividade financeira. O estado exerce grande influência no sistema monetário, já que os principais bancos foram estatizados após a segunda guerra mundial. Existem no país ainda bancos comerciais, de crédito agrícola e de poupança.

As sucessivas guerras em que a França se envolveu foram extremamente prejudiciais para suas finanças e o custo de vida. O déficit no comércio exterior e a evasão de reservas em ouro chegaram a tal ponto que, por volta de 1960, exigiram a adoção de uma nova política financeira, com aumento de impostos, cortes em subsídios e despesas militares e empréstimos do Fundo Monetário Internacional. Em 1º de janeiro de 1960 entrou em circulação o novo franco, equivalente a cem vezes o anterior. Apesar das medidas de contenção, o custo de vida é alto.

A reorganização da economia francesa após a segunda guerra mundial levou o país a um lugar privilegiado no comércio internacional. Sua integração à Comunidade Econômica Européia (CEE), em 1958, modificou substancialmente o comércio exterior e orientou suas importações e exportações para os países da CEE e da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Assim, seus principais parceiros comerciais são, no âmbito da CEE, Alemanha, Bélgica, Itália, Luxemburgo e Suíça, além de Estados Unidos, Iraque e Arábia Saudita.

As exportações francesas consistem de produtos siderúrgicos, maquinaria, veículos, tecidos, perfumes, vinhos, materiais elétricos e minério de ferro. O país importa produtos agrícolas tropicais (café e cacau), matérias-primas (algodão, lã, borracha, celulose, cobre, níquel) e petróleo.

O turismo é uma atividade econômica de peso para a economia da França. Distinguem-se dois tipos de turismo: o de verão, concentrado na costa do mar Mediterrâneo (Côte d’Azur), na Bretanha e na Normandia; e o de inverno, nas regiões montanhosas.

Transportes e comunicações. A França possui um sistema de transportes muito desenvolvido, com traçado radial que parte de Paris. A rede rodoviária é, junto com a belga, a mais densa da Europa. A rede ferroviária, cujo traçado é também radial, está nacionalizada e é administrada pela Société Nationale des Chemins de Fer (SNCF). A rede de canais navegáveis, iniciada no século XVII, tem em Paris seu porto principal e transporta carvão, petróleo e derivados, minérios e material de construção. O tráfego marítimo também é intenso e destacam-se os portos de Marselha e Havre.

O transporte aéreo adquire cada vez maior importância, tanto nacional quanto internacionalmente. A Air France é a principal companhia aérea do país. Destacam-se os aeroportos Charles de Gaulle, Orly e Le Bourget, em Paris. O governo controla os serviços de rádio, televisão, telefonia e telegrafia. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)

História

A mais antiga data da história da França é a da fundação, por volta do ano 600 a.C., de Massilia (Marselha), colônia grega no sul do atual território francês, conhecida na época como Gália, que abrangia a região que hoje corresponde à França, Bélgica, norte da Itália e oeste da Alemanha. A região era ocupada principalmente pelos gauleses, povo de origem celta procedente do norte, embora ainda houvesse ligúrios e iberos no território.

Os combates entre gauleses e romanos eram freqüentes mas, até o século III a.C., os primeiros conseguiram diversas vitórias graças à ajuda de outros povos, como os cartagineses. Com a queda de Cartago, no século II a.C., os romanos conquistaram o sul da atual França, transformado em província romana em 121 a.C. Entre 57 e 52 a.C., Júlio César estendeu os domínios de Roma até o Atlântico e atingiu as fronteiras do Reno.

A conquista e anexação da Gália foi facilitada pela desunião das tribos gaulesas. Vercingetórix, único chefe militar a opor resistência aos romanos, foi derrotado e preso em Roma. Depois disso, o imperador Augusto dividiu a Gália em várias províncias, dando grande autonomia a suas cidades.

A civilização galo-romana se desenvolveu paulatinamente durante os três séculos de paz que se seguiram (séculos I a III da era cristã). A vida urbana expandiu-se e a economia diversificou-se com o incremento do comércio e das manufaturas. O traço mais importante da romanização gaulesa foi a adoção do latim como língua. Não obstante, as tribos gaulesas conservaram sua identidade nas comunidades locais e, nos anos 21 e 69, revoltaram-se contra a dominação romana.

A autoridade romana começou a declinar e muitas de suas atribuições foram sendo assumidas pela igreja, cujos bispos e prelados se originavam das principais famílias gaulesas. O cristianismo penetrara na Gália desde o século I, mas sua difusão acelerada data do Edito de Milão (ano 313). As invasões bárbaras encontraram a igreja organizada na Gália e não exerceram a ação devastadora que caracterizaram as invasões de outros pontos do Império Romano.

No século V existiam na Gália três reinos germânicos: o dos francos, que atravessaram o Reno em 447 e se fixaram definitivamente no norte; o dos burgúndios, na bacia do Saône e vales do Loire e do Ródano; e o dos visigodos, cujo rei, Eurico, em 476, separou-se de Roma e apoderou-se da Gália até o Loire, da Provença e de toda a Espanha.

Idade Média. O mais importante dos reinos germânicos foi o dos francos, que prevaleceram desde o final do século V até meados do século VIII. O rei Clóvis — chefe dos francos sálios e iniciador da dinastia merovíngia, cujo nome vem do príncipe franco Meroveu — empreendeu a conquista definitiva de toda a Gália. Sua conversão ao catolicismo — religião da população galo-romana — em 496 ajudou-o a derrotar definitivamente os visigodos e parcialmente os burgúndios. Ocupou os territórios gauleses ao norte dos Pireneus, anexou a Aquitânia e estabeleceu a sede do reino merovíngio em Lutécia, antiga capital romana e futura Paris. Mesmo sem fundar um estado, no sentido moderno, Clóvis lançou as bases do futuro reino da França. Depois de sua morte, o reino foi dividido entre seus quatro filhos, de acordo com o costume franco e a unidade só foi restabelecida por curtos períodos.

A desintegração do reino merovíngio favoreceu o desinteresse dos monarcas que se sucederam e a ascensão política dos mordomos, ou prefeitos do palácio, entre os quais se destacou Carlos Martel, que assumiu o poder no ano 737. Seu filho Pepino o Breve foi aclamado rei pela assembléia dos nobres, em 751, o que deu início à dinastia dos carolíngios.

As conquistas de Pepino o Breve, consolidadas ao longo de 14 anos de guerras ininterruptas, fizeram do trono carolíngio o mais poderoso da Europa. Seu filho Carlos Magno (a quem a dinastia deve seu nome), foi coroado imperador em Roma pelo papa na noite de Natal do ano 800, após expulsar os muçulmanos e derrotar os saxões, ávaros e lombardos. Com a proclamação do império, Carlos Magno criou a primeira grande unidade política surgida no Ocidente após a queda do Império Romano.

O filho de Carlos Magno, Luís I o Piedoso, substituiu o pai e desmembrou o império, ao dividi-lo entre os sucessores: Lotário I (reino franco ocidental), Pepino (Aquitânia) e Luís II (reino da Baviera). A divisão do poder fortaleceu as dinastias locais, que aos poucos foram ressurgindo, e os feudos, que foram transformados em propriedades hereditárias e se tornaram cada vez mais poderosos. O auge das dinastias merovíngia e carolíngia marcou o fim da antiguidade e o início da Idade Média.

Primórdios da nação francesa. No ano 888, o trono do reino ocidental foi ocupado pelo conde de Eudes, primeiro monarca a interromper a linha sucessória carolíngia. A partir de então, a coroa francesa esteve alternadamente nas mãos dos descendentes de Eudes e de Carlos Magno até que, em 987, depois da morte do último rei carolíngio, teve início a dinastia capetíngia, dos descendentes diretos de Eudes, que reinaram até 1328.

Os Capetos da linha direta, como foram denominados os 15 reis da França que durante 341 anos se sucederam no trono de forma ininterrupta (os filhos se seguiram aos pais diretamente), conseguiram reforçar a autoridade real e unificar todo o reino, o que os consagrou como criadores da nação francesa. A dinastia teve início com Hugo Capeto, que reinou de 987 a 996 e assegurou a sucessão dinástica.

Alguns monarcas se destacaram na dinastia dos Capetos. Luís VI (1108-1137) intensificou o processo de urbanização e, em seu reinado, surgiram as rivalidades entre o trono francês e o inglês. Filipe II Augusto (1180-1223) obteve grandes vitórias sobre os reis ingleses Ricardo Coração de Leão e João Sem Terra, ampliou os domínios da França, consolidou o poder real e instalou a capital definitivamente em Paris.

O maior monarca da França medieval foi Luís IX, que participou da sétima cruzada, reorganizou a administração e impôs a justiça real, normalizou a circulação da moeda e fez da Universidade de Paris o maior centro de estudos jurídicos e teológicos da época. O último soberano importante foi Filipe IV o Belo, que pela primeira vez convocou os Estados Gerais, criou o ministério público e aumentou os domínios da coroa.

Os três filhos de Filipe o Belo reinaram sucessivamente. O último deles, Carlos IV o Belo, morreu sem deixar herdeiro varão. O trono foi entregue em 1328 a Filipe VI, filho de Carlos de Valois, irmão de Filipe IV, o que deu início à dinastia dos Valois, ou Capetos indiretos, na terceira transição dinástica da história da França.

O descendente de Filipe IV por via feminina era seu sobrinho Eduardo III da Inglaterra, que aspirava ao trono francês e não aceitou a eleição de Filipe VI. Os atritos desembocaram, em 1337, na guerra dos cem anos, após dois séculos de tranqüilidade e progresso. Em 1453, ao terminar esse período em que ações violentas e esporádicas interrompiam longos períodos de trégua, os Valois se confirmaram no poder. Os ingleses perderam todas as possessões na França, exceto Calais. No fim do século XV, as fronteiras da França se aproximavam das atuais.

Na afirmação da autoridade do soberano francês, no reinado de Carlos VII (1422-1461), destaca-se a atuação de Joana d’Arc, que teve papel decisivo à frente do exército francês nas batalhas de Orléans e Patay (maio e junho de 1429), derrotando os ingleses.

Absolutismo. A autoridade real saiu reforçada da guerra dos cem anos e, à medida que a monarquia subtraía poder da nobreza, a burguesia, que apoiava os soberanos, conquistava maior importância política. Durante o reinado de Carlos VIII (1483-1498), cujos sonhos de glória levaram-no a tentar o restabelecimento do império, tiveram início as guerras da Itália, nas quais o monarca foi derrotado.

Na primeira metade do século XVI, a decadência moral e intelectual do clero favoreceu a difusão do protestantismo e a eclosão das guerras religiosas, que tiveram entre outras conseqüências o envio de Villegaignon ao Rio de Janeiro, durante o reinado de Henrique II (1547-1559), para fundar uma colônia onde houvesse liberdade de culto.

A última das oito guerras religiosas na França terminou com a vitória do protestante Henrique de Navarra, primeiro dos Bourbons, que se converteu ao catolicismo e subiu ao trono com o nome de Henrique IV (1589-1610). Esse monarca promulgou o Edito de Nantes (1598), que garantia aos huguenotes, ou protestantes franceses, a liberdade de culto. As ambições de Henrique IV eram de poder absoluto. Deixou de convocar os Estados Gerais, fixou limites para os poderes dos governadores de província e dos chefes militares e pôs sob sua orientação todas as instituições políticas do reino.

Henrique IV foi sucedido por seu filho Luís XIII que, em 1624, nomeou conselheiro a Armand-Jean du Plessis, cardeal e duque de Richelieu, que deu impulso ao absolutismo monárquico, de acordo com a teoria da origem divina do poder. O rei e seu ministro realizaram profundas reformas. Reduziram os privilégios da nobreza e conseguiram esboçar um estado moderno, centralizado, que exigia a colaboração e a submissão de todos os súditos. Exerceram controle sobre a vida intelectual, artística e religiosa do país e estabeleceram as bases do mercantilismo que, aperfeiçoado no reinado de Luís XIV por seu ministro Jean-Baptiste Colbert, transformaria a França no país mais rico da Europa.

Durante a minoridade de Luís XIV, que tinha cinco anos ao herdar o trono francês, o poder foi confiado à regente Ana d’Áustria, que nomeou como primeiro-ministro Giulio Raimondo Mazzarino, cardeal Mazarin, continuador da política de Richelieu. No entanto, a guerra dos trinta anos, iniciada em 1618, exigia gastos vultosos e a política fiscal passou a gerar muito descontentamento. A nobreza e a alta burguesia se revoltaram no movimento denominado Fronda, cuja pretensão era conter o aumento do poder da monarquia. O fim do conflito, em 1653, foi o triunfo do absolutismo.

A França saiu fortalecida como potência européia da guerra contra a Espanha, entre 1648 e 1659, que terminou com a assinatura da paz dos Pireneus. Dois anos depois, assumiu o poder Luís XIV, o Rei Sol. A autonomia dos conselhos reais, mantida por Mazarin, foi revogada pelo rei, o mais absolutista de todos os soberanos franceses, que sintetizou numa frase a filosofia política do despotismo baseada na teoria do direito divino dos reis: “O estado sou eu.”

Imbuído das idéias mercantilistas, Jean-Baptiste Colbert, ministro das Finanças de Luís XIV, promoveu o comércio, a navegação e a política colonial francesa, que se estendeu do Canadá ao Mississippi e incluiu a Guiana e a costa africana. Durante os 22 anos de sua administração, manteve um programa de estabilidade financeira. O programa de Colbert, que assegurou anos de prosperidade à França, consistia no combate à ociosidade remunerada da nobreza e às guerras desnecessárias, mas teve de conformar-se às extravagâncias da corte suntuosa estabelecida por Luís XIV em Versalhes. Colbert disciplinou o artesanato e criou as manufaturas reais de móveis e tapeçarias (gobelins), espelhos e produtos têxteis.

O reinado de Luís XIV foi marcado por grandes progressos econômicos que, ao final, foram anulados pela revogação do Edito de Nantes e sucessivas guerras. Luís XIV morreu em 1715 e foi sucedido por seu bisneto, Luís XV, durante cujo reinado a burguesia se afirmou e a França perdeu suas colônias na Índia e no Canadá, em conseqüência da derrota para os ingleses na guerra dos sete anos.

A monarquia começava a se enfraquecer e a teoria do direito divino passou a ser contestada. A crise chegou ao ponto máximo no reinado de Luís XVI (1774-1792), quando a situação das finanças se deteriorou e se acentuaram as tensões sociais, o que preparou o povo para acolher os ensinamentos da Encyclopédie, de Jean Le Rond d’Alembert e Denis Diderot, que pregava a soberania da lei e da vontade popular sobre a vontade real.

Durante o século XVIII, os pensadores franceses se puseram à frente do movimento cultural conhecido como Iluminismo. Herdeiros do racionalismo do século XVII e animados pelo progresso das ciências naturais, os filósofos franceses prepararam o caminho das transformações sociais ao divulgar os princípios da razão, da crítica e da liberdade. Estava pronta a base filosófica da revolução francesa. No pensamento político e social do Iluminismo se destacaram o barão de Montesquieu, Voltaire e Jean-Jacques Rousseau.

Revolução francesa. A sociedade francesa do final do século XVIII dividia-se em três segmentos. Dois deles, o clero e a nobreza, exerciam grande influência na vida política e econômica da sociedade, enquanto o terceiro estado, composto pela burguesia, os artesãos e os camponeses, era representado apenas no sistema político.

Em 17 de junho de 1789, reuniram-se em Versalhes os Estados Gerais, que se constituíram em assembléia nacional, da qual, por ordem real, foi expulso o terceiro estado. Teve início, então, o processo revolucionário materializado com a formação da Assembléia Nacional Constituinte, em 9 de julho, e com a tomada da prisão do estado, a Bastilha, no dia 14 do mesmo mês. Os choques entre representantes do povo e o rei, cada vez mais violentos, culminaram com a deposição de Luís XVI em 1792, sua execução no ano seguinte e a proclamação da república.

Começou, então, a época do Terror, caracterizada por um poder legislativo destituído de iniciativa e um executivo forte, com poder de ordenar execuções sumárias, em que se destaca Maximilien de Robespierre, líder do partido jacobino, que depusera o rei. A Grã-Bretanha aproveitou-se da situação de terror para formar uma coalizão contra a França.

Um grupo mais moderado ocupou o poder depois da execução de Robespierre (1794) e, em 1795, a convenção foi substituída pelo diretório criado pela nova constituição e composto de cinco membros. O novo governo, dividido internamente, teve que lutar contra os realistas e contra os jacobinos extremistas e, no plano externo, combateu a coligação da Grã-Bretanha, Áustria e Prússia. O diretório durou quatro anos e, em 9 de novembro de 1799 (18 brumário, no calendário da revolução), foi dissolvido por Napoleão Bonaparte, jovem general que conquistara quase toda a Itália e obtivera grandes vitórias no Egito. Napoleão instituiu o consulado provisório, constituído de três membros, mas no qual o poder se concentrava de fato nas mãos do primeiro-cônsul.

Século XIX. Em 1804, depois de ter sido eleito cônsul vitalício em plebiscito, Napoleão foi coroado imperador dos franceses e instaurou um regime monárquico, embora inspirado nos princípios da revolução. Teve início, então, um período de hegemonia francesa no continente, resultado da intensa atividade militar de Napoleão. O auge do domínio francês ocorreu em 1812 com a submissão da Itália e da Prússia, enfraquecimento da Áustria, concessões da Rússia e combates na Espanha e em Portugal, além de batalhas constantes contra os ingleses. Entretanto, as derrotas das tropas napoleônicas na Espanha e a desastrosa retirada de Moscou fizeram com que outras nações se unissem na luta contra a França.

Napoleão foi vencido em Leipzig em 1813, o que precipitou a queda do império. Abdicou em 1814 e foi desterrado para a ilha de Elba, enquanto Luís XVIII, irmão de Luís XVI, ocupava o trono. A revolução voltava, pelo menos formalmente, ao ponto de partida, com a restauração da monarquia constitucional. Em 1815, Napoleão tentou recuperar o poder, mas foi definitivamente derrotado em Waterloo e confinado na ilha de Santa Helena, no Atlântico sul. Luís XVIII voltou a ocupar o trono e as fronteiras da França se fixaram onde estavam antes da revolução. O governo de Luís XVIII, o primeiro da Restauração, adotou uma política liberal e moderada, mas seu substituto, Carlos X, reinou apoiado pela igreja e pelas forças ultraconservadoras. A revolução burguesa de 1830 obrigou o rei a abdicar em favor de seu neto, Luís Filipe, antes de fugir para o Reino Unido. Membro da casa de Orléans, ramo colateral dos Bourbons, Luís Filipe foi nomeado rei, em vitória da burguesia sobre a aristocracia. Seu reinado deu ao país um período de grande desenvolvimento capitalista e industrial, apoiado por uma política autoritária.

O surgimento de um novo proletariado, o florescimento do pensamento socialista, com intelectuais como Henri de Saint-Simon e Charles Fourier, e o início de uma crise econômica precipitaram a revolução de 1848, após a qual foi proclamada a segunda república, regida por uma nova constituição. Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão I, foi eleito presidente da república, protagonizou um golpe de estado em dezembro de 1851 e, no ano seguinte, proclamou-se imperador com o nome de Napoleão III.

Napoleão III governou de forma autoritária, tentando criar um império colonial e devolver à França a antiga grandeza. Durante o segundo império, foram restabelecidas a liberdade de imprensa e de opinião e a maior parte dos direitos individuais. Destaca-se também o amplo programa de obras públicas no qual se inseriu a construção do canal de Suez.

A política externa, porém, isolou a França na Europa, dominada então pela diplomacia do chanceler prussiano Otto von Bismarck. A rivalidade com a Prússia, cujo poder se expandia na Europa central, precipitou a deflagração da guerra de 1870, a propósito da sucessão espanhola. Depois das batalhas de Sedan e Metz, os exércitos franceses, cercados, foram obrigados a capitular. A França perdeu a Alsácia e a Lorena e comprometeu-se a pagar pesada indenização de guerra. Napoleão III foi capturado e instalou-se a terceira república. O novo período começou com prenúncios de instabilidade política, como a explosão revolucionária da Comuna de Paris, esmagada pelo primeiro governo da terceira república, e a tentativa de golpe do presidente Marie-Edme-Patrice-Maurice de Mac-Mahon em 1877. Uma vez consolidado, o regime optou por uma política colonialista.

Século XX. A disputa entre a França e a Alemanha pela posse da Alsácia e Lorena, as guerras balcânicas, a rivalidade econômica e as ambições imperialistas foram as causas da primeira guerra mundial, iniciada em 1914. A Alemanha invadiu a Bélgica e a França, mas foi detida no Marne. Depois de uma longa ofensiva contra os aliados, os alemães, derrotados, assinaram o armistício em 1918. Pelo Tratado de Versalhes, a França recuperou a Alsácia e Lorena e exigiu, como os outros vencedores, indenizações de guerra. Durante o pós-guerra, os problemas políticos da França se agravaram: instabilidade dos governos, enormes gastos provocados pela guerra e o início da crise econômica mundial de 1929. Entre 1932, auge da crise provocada pela depressão econômica, e 1936, quando o socialista Léon Blum unificou as esquerdas e formou seu governo de Frente Popular, a França teve dez governos diferentes. O ressentimento alemão diante das condições impostas pela França em Versalhes foi uma das causas do crescimento do nacional-socialismo e do início da segunda guerra mundial.

Depois de invadir os Países Baixos, a Bélgica e Luxemburgo, em 14 de junho de 1940, o exército do Terceiro Reich ocupou Paris e, no dia 22, foi assinado o armistício franco-alemão. A França ficou então dividida numa zona ocupada e outra governada pelo marechal Philippe Pétain, com capital em Vichy, manipulada por Hitler. Enquanto isso, de Londres, o general Charles de Gaulle incentivava a resistência da “França Livre” contra a Alemanha e o regime colaboracionista de Vichy. Em 1944, os aliados reconquistaram a França e De Gaulle liderou o governo provisório da nação.

Em 1946 De Gaulle renunciou e aprovou-se uma nova constituição, o que deu início ao período conhecido como quarta república. A situação era dificílima: o país estava destruído após a guerra e as colônias –Madagascar, Indochina, Tunísia e Marrocos — exigiam a independência. O problema mais sério enfrentado pela quarta república, contudo, foi a guerra da Argélia. A divisão do país em torno da política a seguir frente ao movimento argelino pela independência obrigou De Gaulle a voltar ao poder e instaurar a quinta república, em 1958. A nova constituição aumentou as atribuições do presidente e do governo frente à assembléia e foi criada a Comunidade Francesa das Nações (Communauté). Em 8 de janeiro de 1959, o general De Gaulle assumiu a presidência e nomeou os membros do governo. O problema argelino solucionou-se em 1962, quando a colônia conquistou a independência.

Para De Gaulle, a Europa não deveria depender dos Estados Unidos nem da União Soviética, mas constituir uma terceira força mundial liderada pela França. Eleito para um segundo mandato em 1965, retirou a França da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e não mais permitiu instalações militares estrangeiras em território francês. No plano interno, as revoltas de estudantes e trabalhadores, em maio de 1968, repercutiram na economia ao criarem um sentimento de insegurança social e descontentamento.

Em 1969, derrotado num referendo sobre reformas no Senado, De Gaulle renunciou. Nas eleições de 15 de junho de 1969 foi eleito Georges Pompidou, ex-colaborador de De Gaulle, cuja política caracterizou-se pela austeridade econômica, com a desvalorização do franco. Após a morte de Pompidou, em 1974, a presidência foi ocupada pelo candidato centrista Valéry Giscard D’Estaing, que promoveu a reaproximação com os Estados Unidos, mas sua política econômica aumentou o desemprego, a inflação e o déficit da balança de pagamentos.

O presidente seguinte, eleito em 10 de maio de 1981, foi o socialista François Mitterrand que, depois de um período inicial de nacionalizações e aumento dos gastos públicos, estabeleceu uma política mais moderada e mais austera na área econômica. Entretanto, o aumento do desemprego e a inflação alta (15,3% ao ano) permitiram que a direita vencesse sucessivas eleições e finalmente se instalasse como maioria na Assembléia Nacional. O presidente Mitterrand teve de conviver com um primeiro-ministro conservador, o neogaullista Jacques Chirac, que trabalhou para reverter as conquistas socialistas de Mitterrand. Em 1988, porém, Mitterrand derrotou Chirac e formou um novo gabinete socialista, dirigido por Michel Rocard. Este foi substituído por Edith Cresson em abril de 1991, mas, com o revés do partido socialista nas eleições municipais do ano seguinte, o cargo de premier passou a Pierre Bérégovoy. Acusado de corrupção, Bérégovoy foi responsabilizado pela esmagadora derrota socialista nas eleições de 1993. Depois de deixar o governo em fins de fevereiro de 1994, suicidou-se no Dia do Trabalho desse mesmo ano.

Instituições políticas

De acordo com a constituição da quinta república, de 1958, reformada em 1962, o sistema parlamentar francês se compõe da Assembléia Nacional, formada de 577 deputados, eleitos a cada cinco anos, e pelo Senado, composto de 321 senadores eleitos para mandatos de nove anos, com renovação de um terço a cada três anos. A Assembléia exerce o poder legislativo e tem também a função de controlar o governo.

O poder executivo é exercido pelo presidente e por um conselho de ministros presidido pelo primeiro-ministro. O presidente da república é eleito diretamente, por maioria absoluta, para um mandato de sete anos e tem amplos poderes, inclusive o de nomear e demitir o primeiro-ministro e dissolver a Assembléia Nacional. É o comandante supremo das forças armadas. O poder judiciário é independente e compõe-se de tribunais com jurisdição civil, penal, profissional e administrativa.

A organização administrativa da França se estrutura em regiões, departamentos, distritos, cantões e municípios. O território metropolitano se compõe de 95 departamentos, aos quais se somam cinco ultramarinos (Martinica, Guadalupe, Reunião, Guiana Francesa e São Pedro e Miquelon) e quatro territórios de ultramar (Polinésia Francesa, Wallis e Futuna, Nova Caledônia e Mahoré). O país também reclama soberania sobre uma porção da Antártica.

Para facilitar o planejamento regional, os departamentos foram agrupados em 21 circunscrições de ação regional, ou regiões. No plano administrativo, os departamentos estão divididos em 322 unidades, os arrondissements, que se subdividem em 3.208 cantões. Dentre os numerosos partidos políticos franceses destacam-se o Partido Socialista, a Reunificação para a República (gaullista), a União para a Democracia Francesa (centrista), o Partido Comunista e a Frente Nacional (de direita).

No plano internacional, a França faz parte de vários organismos e pertence à Comunidade Européia (CE). No plano militar, o país tentou manter-se independente. Assim é que, embora participando da Organização do Atlântico Norte (OTAN), em 1966, abandonou sua estrutura militar. Faz parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas e, como membro permanente, tem direito de vetar qualquer decisão da maioria. Pertence ainda ao Grupo dos Sete, integrado pelos países mais ricos do mundo.

Sociedade

A França é um dos países mais desenvolvidos da Europa ocidental, mas a distribuição da riqueza não se dá de forma equitativa. Na segunda metade do século XX persistia uma acentuada diferença entre os grupos sociais: os agricultores, por exemplo, recebiam remuneração muito inferior à dos operários de indústrias. Além disso, o desequilíbrio econômico entre as regiões era notável.

Os sindicatos se organizam principalmente de acordo com as tendências políticas e a localização geográfica. Os mais importantes são a Confederação Geral do Trabalho (CGT), de orientação comunista, a Confederação Francesa Democrática do Trabalho, de tendência católica; e a Força Operária, de ideologia socialista.

A previdência social, implantada na década de 1930, só se tornou eficiente depois da segunda guerra mundial. Cerca de oitenta por cento dos franceses se beneficiam do seguro social, que cobre aposentadoria, gastos com médicos e remédios, além de abono para famílias numerosas. Um dos problemas sociais mais sérios da França é a escassez de moradias, agravada pelo estado de conservação das que existem: um terço das residências francesas tem mais de cem anos. Para solucionar o problema, o estado dá créditos e incentivos para a construção de casas.

O sistema educativo francês caracteriza-se pela centralização, embora os acontecimentos de maio de 1968 tenham garantido maior autonomia aos centros universitários. A educação básica é obrigatória e gratuita nos centros de ensino público e divide-se em primária e secundária, cursada por crianças na faixa dos 6 aos 11 anos e dos 11 aos 15 anos, respectivamente. (Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)

Cultura

A vida cultural francesa é das mais intensas e influentes do mundo. Em todas as manifestações culturais e artísticas a França prestou contribuições fundamentais.

A partir do século XI, a arquitetura francesa passou a desenvolver um estilo próprio, o românico, divulgado pelos monges da abadia de Cluny. Entre os séculos XII e XIV manifestou-se o estilo gótico, presente nas catedrais de Chartres, Reims e Notre-Dame de Paris, que alcançou a expressão máxima de seu brilho na Sainte-Chapelle de Paris. Na arte visual, destacam-se os retábulos, iluminuras e a tapeçaria.

A arquitetura do Renascimento seguiu o modelo italiano, embora com características próprias. Na pintura do período, os retratos foram a modalidade preferida. No final do Renascimento verificou-se uma retomada das tendências vindas da Itália, que se manifestaram, no plano pictórico, na preferência por cenas mitológicas, bucólicas e de paisagens com perspectivas clássicas. Durante o reinado de Luís XIV, construíram-se muitos palácios particulares de estilo barroco e realizaram-se importantes projetos urbanísticos (um exemplo é a praça da Vitória) e de jardinagem (jardins de Versalhes e Tulherias, em Paris). Seguiu-se o estilo rococó, no qual se destacaram os pintores Antoine Watteau e François Boucher, e o escultor Jean-Baptiste Pigalle. Os móveis e a tapeçaria foram o ponto alto do estilo rococó.

Nos últimos trinta anos do século XVIII ocorreu um retorno à antiguidade com o neoclassicismo, cujo principal expoente foi Jacques-Louis David, pintor da burguesia revolucionária e, em seguida, pintor oficial de Napoleão. Na arquitetura recuperou-se a pureza e a elegância das construções romanas em obras como o Panthéon, a igreja da Madalena e o arco do Carrossel, em Paris.

Com a chegada do século XIX e o fim do antigo regime, a pintura passou a predominar entre as artes e Paris transformou-se no centro mundial da cultura. Sucederam-se as tendências artísticas: romantismo, com Eugène Delacroix; paisagismo, representado por Théodore Rousseau e Jean-Baptiste-Camille Corot; realismo, cujo expoente máximo foi Gustave Courbet; e impressionismo, com Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Claude Monet, Camille Pissarro, Alfred Sisley e outros grandes inovadores como Edgar Degas, Paul Cézanne, Paul Gauguin e Henri de Toulouse-Lautrec.

A preocupação com a pesquisa permanente levou ao nascimento de novas tendências pictóricas: o fauvismo, com Henri Matisse e Maurice de Vlaminck, o cubismo, com Georges Braque, e o expressionismo, com Georges Rouault e Édouard Goerg. Surgiram posteriormente a pintura ingênua e o surrealismo, que levaram a pesquisa pictórica a outros caminhos. No campo da escultura destaca-se principalmente a figura de Auguste Rodin, que abandonou a tendência realista de François Rude e Jules Dalou e espiritualizou a escultura.

No século XIX a arquitetura seguiu tendências diferentes, como a clássica, a neogótica e a eclética. A utilização do ferro conduziu ao funcionalismo, que teve em Alexandre-Gustave Eiffel seu representante máximo. No século XX a arquitetura foi influenciada pelo aparecimento de novos materiais — concreto armado, aço, plástico — e destacou-se o nome de Édouard Jeanneret, chamado Le Corbusier, que revolucionou a arquitetura mundial com suas idéias sobre espaço.

Na música, entre as principais contribuições francesas estão as canções de trovadores da Idade Média, as inovações na polifonia com Jean-Philippe Rameau, a música impressionista de Claude Debussy e Maurice Ravel e a música concreta do século XX.

O cinema nasceu na França, com os irmãos Louis e Auguste Lumière, inventores do cinematógrafo e os primeiros a realizar um filme. Posteriormente surgiu a figura de Georges Méliès, que foi o primeiro a compreender as possibilidades do cinema no mundo do espetáculo. Na década de 1920 surgiram dois nomes muito importantes para o cinema francês: Jean Renoir e René Clair. A partir de 1960, um grupo de diretores novos passou a exercer influência no panorama mundial, num movimento que se tornou conhecido como nouvelle vague. Entre eles assinalam-se Alain Resnais, Jean-Luc Godard e François Truffaut.

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