Filosofia da história

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PECORARO, Rossano, Filosofia da Historia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2009.
Sobre o Autor:
Rossano Pecoraro é formado em filosofia pela Universidade de Salermo, Itália, e é mestre e doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC – Rio). Atualmente é coordenador executivo do Instituto de estudos Avançados em Humanidade do Centro de Teologia e Ciências Humanas da pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (IEAHu/PUC – Rio), professor do curso de pós-graduação Latu-sensu em filosofia contemporânea da PUC – Rio, coordenador do “Forum Krisis” de Filosofia, Humanidades e Ciências Sociais e membro do Grupo de trabalho (GT) Filosofia da Historia e Modernidade da Anpof. As suas áreas de atuação e pesquisa interdisciplinar são: pensamento contemporâneo, estética, filosofia e teatro, teoria política, filosofia da tecnociência.
Ensaísta e jornalista, publicou, entre outros, Niilismo e (Pós) Modernidade (PUC-Rio/Loyola); Cioran, a filosofia em chamas ( EDIPUCRS); Derrida (in: Os filósofos-Clássicos da filosofia, vol.3, PUC- Rio/Vozes); Niilismo (Zahar, Coleção Passo-a-Passo); Metafisica e poesia nel pensiero di María Zambrano (in: Metafísica nel terzo millennio, Idente); Du Droit À La Justice: Derrida ET Vattimo ( in: Contemporary Philosophy, Atas do XXI Congresso Mundial de Filosofia); Niilismo, metafísica, desconstrução (in: Às margens: a proposito de Derrida, PUC_Rio/Loyola; La filosofia del voyeur. Estasi e scrittura in Emil Cioran (IlSapere). Poesias suas aparecem em Segni d’Autore (MPE). É organizador da obra em três volumes Os Filósofos- Clássicos da filosofia (PUC – Rio/Vozes) e da coletânea Filosofia contemporânea- Niilismo, política, estética (com J. Engelmann, PUC-Rio/Loyola).
A obra é constituída em capítulos, sendo que cada um apresenta uma fase do pensamento de diversos filósofos sobre as teorias que envolvem a Filosofia da Historia.
No primeiro capítulo nos é apresentado ás origens, ou seja, os diversos acontecimentos que necessitavam de um estudo mais elaborado. Mostrando-nos que um acontecimento só é histórico quando é narrado ou registrado por alguém que esteve presente.
E também evidenciando a passagem de historia para filosofia da historia, isto é, da simples narração de acontecimentos para a idéia de um sentido, para a criação de um paradigma explicativo da matéria bruta constituída pela ação dos homens.
O segundo capítulo trata do conceito de providencia e o sentido da historia. Mostra que no começo a teologia da historia surge da experiência de Israel, da lógica da promessa, da esperança no advento do reino de Deus, no fim e no cumprimento da criação, do tempo e da historia. Nessa fase surgem os pensamentos de alguns filósofos como Santo Agostinho, Joaquim de Fiore e Jacques Bossuet, os quais crêem que a Providência guia a história rumo ao seu télos. Guiado por esse tipo de visão Giambattista Vico formula a idéia de que as ações humanas, mesmo parecendo entregue ao caos, ao acaso, ao absurdo, resultam em algomuito maior, possuem ordem e finalidade que vai alem do contingente e do imediato. Em outros termos, a Providencia divina é a força imanente que fundamenta e orienta o movimento da historia usando homens e nações para a realização de seus próprios desígnios.
Já o terceiro capítulo trata da crise que a filosofia da historia cristã entra em meados do século XVIII com a afirmação do iluminismo. É a fase em que os filósofos como Montesquieu, Voltaire, Turgot e Condorcet tem uma visão não religiosa dos acontecimentos humanos e a Providência divina é substituída pela idéia de progresso. Já os pensadores escoceses (Adam Fergunson, Adam Smith, John Millar) apóiam a idéia de que não há mais um Deus guiando e se concentram na lógica, no sentido dos acontecimentos, nas próprias ações humanas, nos interesses individuais e coletivos que as orientam.
O quarto capítulo analisa as grandes teorias da modernidade. Destaca a forma de pensamento baseada no progresso, e a profunda rejeição de qualquer explicação divina e providencialista da historia humana, conforme afirma Frances Pierre-Joseph Proudhon e estimula a reflexão critica do alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o filosofo que recusa tanto os ideais iluministas e as teorias do contrato social como o liberalismo e todas as posições reacionárias que invocam um retorno a sistemas políticos precedentes.
Enfatiza as reflexões de filósofos como Immanuel Kant, o qual tem a idéia de um progresso cultural da espécie humana rumo ao melhor, tão inevitável quantonecessário. Kant acredita também no propósito da natureza, no seu plano obscuro que a espécie humana realizaria ao longo da própria historia, mesmo sem ter nenhuma consciência de estar trabalhando para isso. Nos eventos revolucionários que mostram a tendência da humanidade a progredir moralmente, a reconhecer-se como portadora de idéias mais nobres e elevados. Porem não são a causa do progresso para o melhor, mas sim um indício, uma indicação, o signo histórico do seu advento como inevitável conclusão do devir humano. O que é realmente importante para Kant não é a revolução em si, mas um aspecto poderia dizer um efeito dela.
É nesta fase que surge Johann Gottfried Herder, com a sua teoria de que a evolução da humanidade se dá por fases, que, ao se entrelaçarem em determinadas épocas e situações, dão forma ao progresso e injetam sentido no curso dos acontecimentos históricos. Alem disso, critica duramente as luzes por terem transformado a historia em um processo centralista, unitário e atemporal.
Já Augusto Comte põe em seu centro o culto a humanidade. A sua missão é, portanto, a de efetivar a passagem para o estado positivo de todos os saberes. Ele acredita que uma vez alcançado o fim da própria evolução, o homem poderá, finalmente, viver em uma espécie de idade do ouro, na qual todos os conflitos sociais e políticos terão desaparecido e o bem-estar econômico, social e espiritual apoderar-se á do mundo
E por fim temos a analise de Karl Marx, definida como materialismo histórico, ou seja, a idéia de que asrealizações espirituais do homem (política, religião, artes, filosofia, etc.) seriam determinadas pelos modos de produção de vida material ou, em outros termos, pelas estruturas econômicas das diversas formações sociais em conflito.
O quinto capítulo apresenta as mais diversas criticas as idéias e as noções centrais da filosofia no século XIX, fazendo-a que entre definitivamente em crise no século XX. Diversos pensadores negaram com veemência a presença de qualquer sentido, telos, finalidade progresso, etc. no curso dos acontecimentos histórico-politicos.
Essa é a fase em que a esperança no conceito de providencia se extingue e se acredita que a historia não tem sentido, tampouco a humanidade marcha rumo a algum tipo de aperfeiçoamento. É o tempo de Arthur Schopenhauer, Giuseppe Rensi, Oswald Spengler, Albert Caraco, filósofos que foram marcados pelo seu ceticismo-pessimismo e os quais crêem que não há fim ou progresso na história humana, apenas uma sucessão de estruturas sociais, políticas e culturais que, uma vez exaurido o seu próprio ciclo vital, desaparecem sem deixar nenhum tipo de legado. Apoiado neste contexto Emil Cioran, Talvez o mais radical crítico das filosofias da historia da modernidade, formula sua teoria de que os imponentes sistemas da modernidade nada mais são, em sua essência, do que versões camufladas da concepção teológica-providencial da historia. O pensador destrói quaisquer pretensões de evocar ou atribuir um sentido aos acontecimentos humanos, e diz que a historia não guia ascivilizações rumo aos fins planejados ou esperados, mas as conduz na direção oposta, precipitando-as nos abismos
E por fim, o ultimo capítulo trata das crises das filosofias da historia. Relata o aparecimento em meados do século XIX, sobre as primeiras visões criticas da modernidade que, mediante uma postura teórica relativista e ao considerar a historia um mero objeto de estudo cientifico, põem em xeque os seus paradigmas.
Inicialmente Friedrich Wilhelm Nietzsche acredita que tanto o sentido histórico como a sua negação são necessários à saúde de um individuo, de uma nação e de uma civilização. O que é perigoso e danoso é justamente o excesso de saber histórico, a sua sobrevalorização, a sua transfiguração em ciência, fé ou admiração, que nos levam a acreditar nas nocivas e supérfluas idéias de uma evolução ou de um progresso da espécie humana e das suas realizações culturais, morais e políticas. Não há salvação nem esperanças transcendentes. Partindo dessa análise temos o historiador Leopold Von Ranke, o qual afirma que o curso das ações e fatos humanos não é orientado por um único fim transcendental, mas por leis imanentes que se condensam nas varias épocas históricas, tendo cada uma o seu valor, a sua finalidade especifica em sua própria e peculiar existência.
Entretanto um pouco mais drástico que os pensadores anteriores, o filosofo Wilhelm Dilthey, o maior expoente do historicismo alemão, alega que a filosofia da historia deve ser rejeitada e substituída por uma analise do sujeito histórico,através da qual se tornaria possível, finalmente, compreender o mundo histórico-social.
Outro filósofo que merece destaque dentro deste cenário contemporâneo é Walter Benjamin que com suas afirmações de que o curso das ações e dos fatos humanos, com efeito, não é um processo racional e orientado, mas o caótico desenrolar-se de uma violenta e opressora apologia do presente edificada pelos vencedores. Para ele a historia pode e deve ser escrita de outra maneira. É necessário romper radicalmente com o passado e recuperar a tradição do messianismo judaico mediante a fundação de outro conceito de tempo, do tempo de agora no qual se anuncia a esperança de uma sociedade melhor, mais livre e justa.
Para Arnold Gehlen, o qual, relembrando idéias e questões já presentes no âmbito cultural frances e alemão, teoriza explicitamente as noções de fim de historia e pós-historia, no qual o progresso se torna rotina e se dissolvem as idéias de renovação e transformação. Partindo desse contexto Jean-François Lyotard, define filosoficamente como pós-moderna o mapeamento cultural da atualidade, a cultura e a sociedade do nosso tempo. Dessa forma, a pós-modernidade impõe não só o definitivo abandono da idéia de centralidade do homem e da razão, mas também o da visão providencialista da historia, do plano da natureza, do progressivo esclarecimento da sociedade humana rumo ao melhor.
Dentro dessa discussão contemporânea cabe ressaltar Johan Gustav Droysen que confia à pesquisa histórica à tarefa de esclarecer o presenteatravés do estudo e da compreensão do passado e Alexandre kojève o qual afirma que o momento em que o Estado, conciliando dialeticamente as contradições, os conflitos e as oposições, finalmente será o momento que se ergue com o espaço em que se esgota toda possibilidade histórica. Utilizando as idéias kojevianas e hegelianas, o cientista político Francis Fukuyama, elabora sua tese fundamental, no qual ele afirma que não é mais possível pensar em outras instituições que não sejam as da sociedade atual, liberal-democratica, industrial e capitalista.
A historia e a questão do seu sentido voltam a ser um problema relevante para a filosofia das ultimas décadas, sobretudo em virtude das reflexões de Jürgen Habermas, Gianni Vattimo e Jacques Derrida.
Habermas sustenta que a idéia moderna de historia é um projeto inacabado. A historia não terminou. Novos problemas surgem, contribuindo de modo decisivo para mudar antigos cenários e visões de mundo. Para o filosofo italiano Vattimo, a historia ocidental não deve ser interpretada como a grande marcha da humanidade em direção ao melhor ou ao cumprimento de alguma finalidade. Também em Jacques Derrida as reflexões sobre historia não são expostas de forma ordenada e metódica. A critica desconstrutiva do significado transcendental ou telos ou, em outros termos, de uma visão metafísica e tradicional em que a historia é sempre associada ao esquema linear do desenrolar da presença, do sentido, da finalidade. Não se trata de uma recusa da historia, mas de uma profundadesconfiança em relação ao conceito metafísico da historia, a todo um sistema de implicações de natureza teleológica, escatológica, acumulativa, continuativa, denotativa de verdade, etc.

Conclusão do Resenhista:
O autor nos apresenta sua obra sob os mais diversos pontos de vista de grandes filósofos acerca da historia e do que seria o seu sentido. È evidenciado a linha de raciocínio que ela segue e como vai se modificando com o passar dos anos.
Como no início do estudo sobre a historia, os primeiros pensadores acreditavam com voracidade que ela se orientava segundo a vontade da Providência e dirigia-se a um sentido. Não levando em conta acontecimentos ou pessoas, somente a fé de que Deus guiaria ao rumo certo.
Entretanto alguns anos depois a idéia sobre a divina Providência vai ficando cada vez mais enfraquecida e esse tipo de pensamento logo é substituído por uma ideologia totalmente oposta vinda do Iluminismo, a qual acredita na idéia de progresso e não mais na visão religiosa dos fatos.
Respaldado nessas teorias os filósofos da modernidade rejeitam definitivamente a idéia de Providência a se afirmam no ideal de progresso. Alegam que e evolução da humanidade é algo tão inevitável quanto necessário, e que o homem caminha naturalmente rumo ao seu progresso.
Entrando no século XX, os pensadores evoluem para um pensamento mais radical e começam a ter visões negativas acerca da historia, onde crêem que não há nenhum tipo de sentido ou finalidade nesse processo histórico. Fatos e ações são absolutamenteirrelevantes e a humanidade caminha para o seu próprio fim.
E por fim com a modernidade, sob as mais diversas visões de vários filósofos, começam as criticas contra a idéia de filosofia da historia. Sendo que para alguns os alvos são o excesso de historia e a veneração do passado, já para outros é necessário estudar o passado para uma melhor compreensão do presente.
Crítica do Resenhista:
A obra nos fornece uma apresentação sobre a Filosofia da Historia, a qual de uma forma mais dinâmica trata das teorias de grandes pensadores acerca de suas discussões sobre o modo em que os acontecimentos humanos deveriam ser interpretados.
Com os mais variados exemplos nos mostra e incita a compreender e como encarar os acontecimentos para analisar se, de fato, são relevantes.
E por fim, é uma obra de extrema importância para nos auxiliar a ter algum conceito sobre a matéria, e assim elaborarmos nossas próprias críticas acerca do estudo da Filosofia da História.

Indicações do Resenhista:
A obra tem por objetivo nos apresentar a filosofia da historia, mostrando de uma forma mais resumida o progresso e as modificações que ela passou com o decorrer dos tempos sob a perspectiva de grandes filósofos.
A obra se dirige a estudantes universitários e a pesquisadores a fim de que possam realizar suas pesquisas neste vasto campo da historia. É de grande ajuda aqueles que estão começando, pois, para alguém que não possui qualquer conhecimento sobre a matéria, introduz simplificada a noção de filosofia da historia.

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