Europa

(GEOGRAFIA)

Berço e fonte da cultura ocidental, a Europa foi por séculos o centro político e econômico do planeta e mantém até hoje uma importância fundamental. Seu nome procede da mitologia grega: Europa era a filha de um rei fenício. Atraído por sua beleza, Zeus metamorfoseou-se em touro e levou-a consigo para Creta.

Com superfície de 10.600.000km2, a Europa forma com a Ásia um conjunto de terras contínuas conhecido como Eurásia. Os limites entre a Europa e a Ásia não são claros, mas fatores históricos, étnicos e culturais conferem à Europa uma individualidade bem definida.

Situado no hemisfério norte, o continente europeu ocupa uma posição geográfica privilegiada, pois todas as suas terras ficam na zona temperada, e por isso são mais habitáveis. Em latitude, estende-se desde 71o N, no cabo Norte (Noruega) até 36o S, no cabo Tarifa (Espanha); em longitude, de 65o E, no rio Kara (Rússia), a 9o O, na ponta da Roca (Portugal).

A Europa limita-se ao norte com o oceano glacial Ártico, ao sul com o mar Mediterrâneo, a oeste com o oceano Atlântico e a leste com a Ásia, pela cadeia dos Urais, a margem norte do mar Cáspio, a cordilheira do Cáucaso, os mares de Azov e Negro, os estreitos dos Dardanelos e do Bósforo e as ilhas gregas do mar Egeu. Embora esses limites geográficos excluam a maior parte da Turquia, que, além disso, tem uma cultura islâmica diferente da que predomina na Europa, é comum esse país ser, em sua totalidade, enquadrado no continente europeu.

O mapa da Europa apresenta duas partes nitidamente diferenciadas: a oriental, sólida e continental, e a ocidental, com numerosas penínsulas (Escandinávia, Jutlândia, Balcãs e penínsulas ibérica e itálica) e ilhas (Islândia, ilhas britânicas, Sicília, Creta, Córsega, Sardenha, Baleares e Malta).

A mais extensa massa de água que banha a Europa é o oceano Atlântico, que forma uma série de mares menores: na área setentrional, o Báltico e o do Norte; no sul, o Mediterrâneo e o Negro. Há também um mar interior, o Cáspio. As costas européias são as mais recortadas de todo o planeta. Muitos acidentes, como fiordes, estuários, baías e penínsulas, formam o litoral da Noruega, da Escócia, da Bretanha, da Galícia, da Grécia e da Dalmácia. Já os litorais russo, espanhol do Mediterrâneo e italiano são menos acidentados.

Geografia

Geologia. A evolução geológica do continente europeu começou há três bilhões de anos e prosseguiu, de forma intermitente, até o presente. Na Europa, as rochas pré-cambrianas, cuja idade varia entre três bilhões e 570 milhões de anos, foram sucedidas por rochas das eras paleozóica, mesozóica e cenozóica. O continente europeu só tomou sua forma atual no início da época pliocênica, há aproximadamente cinco milhões de anos. Os tipos de rochas, áreas tectônicas e bacias sedimentares que se desenvolveram ao longo da história geológica da Europa têm acentuada influência nas atividades humanas atuais.

O mapa tectônico da Europa exibe a distribuição das principais unidades tectônicas do continente. A maior área constituída pelas rochas mais antigas é o escudo Báltico, que, desgastado pela erosão, deu origem a uma depressão. As rochas mais jovens estão no sistema alpino, que ainda se preserva na forma de cordilheiras. Entre essas regiões existem bacias de rochas sedimentares que formam suaves ondulações, como a bacia parisiense e o sudeste da Inglaterra, ou extensas planícies, caso da plataforma russa.

O desenvolvimento geológico da Europa pode ser sintetizado como segue. Rochas arqueanas (aquelas com mais de 2,5 bilhões de anos) são as mais antigas do período pré-cambriano e afloram no norte do escudo Báltico, na Ucrânia e no noroeste da Escócia. Duas importantes faixas orogênicas proterozóicas (com 2,5 bilhões a 570 milhões de anos) também se estendem pelas regiões central e sul do escudo Báltico. Esse escudo tem, portanto, uma origem múltipla, com rochas remanescentes de várias faixas orogênicas.

Entre 570 a 500 milhões de anos atrás, uma série de novos oceanos surgiu e seu fechamento deu origem às faixas orogênicas caledoniana, herciniana e uraliana. Há indícios de que essas faixas se desenvolveram como resultado de processos associados ao fenômeno da tectônica de placas, e cada uma delas tem uma história de várias centenas de milhões de anos. Ao se formarem, essas faixas deram origem ao supercontinente Pangéia. Sua fragmentação no início do médio triásico (há cerca de 240 milhões de anos) originou um novo oceano, o mar de Tétis.

O fechamento desse oceano nos começos do período terciário, há cerca de cinqüenta milhões de anos, por processos de subdução e tectônica de placas levou à formação do sistema orogênico alpino, que se estende do Atlântico à Turquia e contém várias faixas orogênicas separadas (que se mantêm como cadeias montanhosas), entre as quais os Pireneus, o Atlas, os Alpes austro-suíços, os Apeninos, os Cárpatos, os Alpes Dináricos e os montes Taurus e Pônticos.

Durante o tempo em que o mar de Tétis esteve aberto (há cerca de 180 milhões de anos), o oceano Atlântico também começou a se expandir, num processo que continua até hoje, ao longo da crista médio-atlântica, que forma, no leito marinho, entre as placas tectônicas norte-americana e eurasiana, enormes cordilheiras e vales submarinos. Ao longo dessa crista, estende-se uma fenda profunda através da qual ascende magma. A Islândia é uma região dessa dorsal que se elevou acima do nível do mar. A atividade tectônica mais recente no continente europeu é representada pelas erupções vulcânicas na Islândia; por vulcões como o Etna e o Vesúvio; e por terremotos, como os que ocorrem no mar Egeu e na Turquia, no sistema alpino, em conseqüência dos choques entre as placas tectônicas dos continentes europeu e africano.

Relevo. De todas as massas continentais, a Europa é a que apresenta a menor altitude média: 340m. Do ponto de vista geomorfológico, definem-se uma Europa setentrional e outra meridional.

Europa setentrional. O relevo do norte da Europa é formado por velhos maciços nivelados e planícies. As montanhas dessa região, junto com algumas mais para o sul, têm origem em dobramentos da era paleozóica. Os maciços montanhosos da Escandinávia, da Escócia e da Irlanda foram levantados durante o dobramento caledoniano, enquanto no período herciniano formaram-se as montanhas inglesas, os Urais, os Vosges, as Ardenas, a floresta Negra, o maciço xistoso renano, o Harz, a floresta da Boêmia e o maciço Central francês. Atualmente, essas montanhas são velhos pedestais rígidos e erodidos, com cumes degradados.

No norte da Europa predominam as vastas planícies. Destacam-se as bacias sedimentares de Londres, Paris, da Suábia e da Francônia, e as planícies de afundamento da Alsácia, do leito médio do Reno, da Bélgica e dos Países Baixos. A mais extensa planície européia é a grande planície oriental, que se estende pela Rússia, Romênia, Polônia e leste da Alemanha.

Europa meridional. A região sul da Europa é, de modo geral, resultado de dobramentos recentes. Foram os movimentos tectônicos do período terciário (orogenia alpina) que deram origem às longas cadeias montanhosas que se estendem desde a cordilheira Penibética, na Andaluzia, até o Cáucaso, num roteiro balizado pelos Pireneus, Alpes, Apeninos, Cárpatos e Balcãs. Nessas montanhas encontram-se os mais altos cumes da Europa, como o monte Branco (4.807m). No fim do período terciário, grandes movimentos de reajuste ergueram essas cadeias dobradas e afundaram as zonas que rodeavam as montanhas (depressões do Guadalquivir, do Ebro, da Aquitânia e planícies bávara, danubiana e panônica).

Clima. A Europa apresenta grande variedade climática. Os diferentes tipos de clima são determinados pela configuração topográfica, que permite a penetração, no interior do continente, da influência moderadora do oceano Atlântico. Distinguem-se três domínios climáticos: o oceânico, o continental e o mediterrâneo.

O clima oceânico se estende pela faixa ocidental desde a Noruega até Portugal. As chuvas são abundantes e bem distribuídas ao longo de todo o ano, e os contrastes térmicos, moderados. Todavia, a latitude e a proximidade do mar geram grandes diferenças de temperaturas, mais frias no norte e no interior do continente.

O clima continental predomina na Polônia, no leste da Alemanha, nas regiões banhadas pelo Danúbio, na Suécia, na Finlândia, nos países bálticos e nas regiões européias da antiga União Soviética. As precipitações, menos freqüentes do que no clima oceânico, concentram-se no verão. As médias mensais de temperatura apresentam grandes contrastes. Assim, entre o mês mais frio e o mais quente, registram-se diferenças de mais de 20o C. Os verões são curtos e quentes e os invernos, determinados pelas altas pressões barométricas, longos e muito frios.

O clima mediterrâneo apresenta na Europa uma extensão excepcional em virtude do longo corredor formado pelo mar Mediterrâneo, que atrai as massas de ar atlânticas no outono e no inverno. As precipitações são escassas e se repartem entre o inverno e as estações intermediárias. As temperaturas são suaves no inverno e quentes nos longos e secos verões. Esse clima abrange sobretudo o sul da França, a Espanha, a Itália e a Grécia.

Hidrografia. Em consonância com os domínios climáticos, a Europa tem três áreas hidrográficas: rios atlânticos, de planícies e mediterrâneos. Os primeiros são coletores de planície que habitualmente desembocam num estuário e apresentam um caudal muito regular durante todo o ano, sendo máximo no inverno (Minho, Sena, Mosa e Tâmisa).

Os rios da planície oriental descrevem abundantes meandros e têm longos trechos navegáveis. O canal mínimo desses rios ocorre no verão, e o máximo na primavera, por fusão das neves, ao passo que no inverno permanecem congelados pelo menos por três meses (Vístula, Dnieper, Dniester, Don, Volga).

Os rios de regime mediterrâneo têm um curso muito irregular, com longuíssimas estiagens de verão. Às vezes recebem águas procedentes dos degelos das neves: (Ebro, Garona, Ródano, Pó). Os regimes do Danúbio e do Reno diferem muito de um trecho para outro.

Vegetação. Acompanhando a diversidade climática, a Europa apresenta cinco regiões botânicas. A tundra é uma região gelada que desenvolve um tapete vegetal composto por arbustos, musgos e liquens. Aparece nas áreas mais setentrionais da Europa (Escandinávia, Islândia, Rússia). A faixa situada ao sul dessa área é coberta pelo bosque boreal de coníferas (pinheiros, abetos, lariços).

O bosque temperado se estende ao longo da costa atlântica (faias, carvalhos, tílias) e limita-se, a leste, com a estepe, cuja vegetação gramínea se prolonga da Hungria à Ucrânia. Ao sul do bosque temperado predominam a vegetação mediterrânea de bosque perenifólio (pinheiros, azinheiras e sobreiros) e formações arbustivas de maquis (em solos graníticos) e garrigue (em solos calcários).

Fauna. A Europa se inclui na região zoogeográfica paleártica. A ação do homem reduziu o número e a extensão geográfica das espécies selvagens européias. Na zona mais setentrional vivem animais de peles finas, como a rena e a foca. Nos bosques temperados habitam o urso pardo, a raposa, o lince e a lontra, enquanto na área mediterrânea abundam lebres, javalis, perdizes e faisões. A montanha apresenta uma fauna peculiar (o alce e o cabrito montês). São abundantes as aves e os pássaros, muitos dos quais migram entre as diversas regiões européias ou entre a Europa e a África.

População

A Europa é o continente de maior densidade populacional do mundo e o que apresenta a mais equilibrada distribuição demográfica. Isso se explica pela disposição favorável de seu território dentro da zona temperada, por seus abundantes recursos e pela antiguidade de sua civilização.

Composição étnica e línguas. À exceção de lapões, búlgaros, turcos, magiares e finlandeses, de origem mongol, os outros povos europeus são caucásicos (brancos). Embora sejam muitas as etnias autóctones (germanos, eslavos, celtas, latinos, helenos, ilírios, bascos), podem-se considerar três tipos raciais principais: o nórdico do norte e do noroeste, dolicocéfalo (crânio ovalado), alto e louro; o mediterrâneo, moreno, dolicocéfalo e de estatura mediana; e o alpino do centro da Europa, braquicéfalo (crânio arredondado) e de constituição robusta.

A maioria das línguas européias procede do tronco indo-europeu. Os grupos mais importantes são: o neolatino ou românico (francês, italiano, espanhol, português, provençal, sardo, reto-romeno, catalão, galego e romeno); o eslavo (russo, polonês, ucraniano, bielorrusso, búlgaro, servo-croata, esloveno, sorábio ou vendo, tcheco, eslovaco); o germânico (alemão, neerlandês, frísio, inglês, dinamarquês, norueguês, sueco, islandês); o celta (irlandês, escocês, galês, bretão); o ilírico (albanês); e o helênico (grego). Dentre as línguas não indo-européias cabe destacar a família fino-úgrica (húngaro, finês ou finlandês, estoniano, lapão e carélio), a altaica (turco), a camito-semítica (maltês) e o basco ou vasconço, este sem relação com nenhuma família lingüística conhecida.

Estrutura demográfica. Comparada com a dos outros continentes, a população da Europa se distribui de maneira mais regular. Não apresenta os contrastes de outras regiões do mundo, pois não há nela concentrações muito extensas nem desertos inabitados. As maiores densidades demográficas, em torno de 300 habitantes por quilômetro quadrado, se observam nos países e regiões mais industrializados: os Países Baixos, o oeste da Alemanha, o Reino Unido, o norte da França, o norte da Itália e a região de Moscou. As zonas mais despovoadas são as nórdicas (Escandinávia e norte da Rússia), enquanto a Europa mediterrânea tem, no conjunto, uma média similar à média geral européia, em torno de 75 habitantes por quilômetro quadrado.

O grau de urbanização é alto, mas desigual. Se nos Países Baixos supera noventa por cento da população, na Romênia ou na Albânia quase não atinge a metade desse número. As concentrações urbanas são muitas; mais de quarenta cidades ultrapassam um milhão de habitantes.

Em seu conjunto, a Europa apresenta os mais baixos índices de mortalidade e de natalidade do planeta, embora existam diferenças entre o norte e o sul. Além disso, o continente experimentou importantes movimentos demográficos em tempos recentes. A partir do século XIX, o crescimento da população se manteve, apesar das grandes perdas demográficas resultantes de guerras e emigrações. Da década de 1830 até o fim do século XX, mais de sessenta milhões de europeus emigraram, sobretudo para a América e a Austrália. A industrialização determinou no século XX importantes fluxos internos de população, do campo para a cidade, e dos países mais atrasados economicamente (Portugal, Grécia, Espanha) para os mais poderosos do ponto de vista econômico (Alemanha, França, Suíça), assim como uma corrente de imigração procedente da África e da Ásia.

Economia

Durante muitos séculos a Europa foi o centro econômico do mundo, graças à iniciativa de seus habitantes e às favoráveis condições geográficas, que permitiram um aproveitamento intensivo da terra, facilitaram as comunicações e contribuíram com as matérias-primas necessárias para a primeira revolução industrial. No século XX, porém, o continente viu declinar seu predomínio em benefício dos Estados Unidos e do Japão. As guerras mundiais travadas em seu próprio território e a carência de petróleo representaram para o continente a perda de sua liderança econômica.

Agricultura, pecuária e pesca. Na Europa, as colheitas agrícolas não se comparam em volume com as da Ásia ou da América do Norte. As culturas incluem a de cereais, sobretudo a do trigo (Ucrânia, França), de baixo rendimento se comparado com o obtido pelos Estados Unidos ou pela Argentina. A cevada se cultiva no limite com o bosque setentrional, e o centeio nos solos arenosos. A colheita de outros cereais (milho, arroz e aveia) é deficiente. Outro produto muito importante é a batata, cultivada em alternância com o centeio.

A produção frutícola é muito variada. Destacam-se as frutas cítricas no Mediterrâneo, a maçã e a pêra nas zonas de clima temperado úmido. Nos países mediterrâneos são muito importantes as videiras, tanto pela quantidade de uvas como pela qualidade dos vinhos, e as oliveiras.

Os problemas agrícolas da Europa decorrem da falta de autonomia do continente no tocante aos produtos tropicais, às gorduras vegetais e aos cereais para forragem. Não podendo concorrer com os outros continentes nessa área, os governos se vêem forçados a subvencionar o cultivo de certos produtos, para evitar a ruína dos agricultores e não depender excessivamente do mercado internacional, sobretudo no que se refere ao trigo.

A pecuária tem maior peso nos países nórdicos, onde é muito desenvolvida e de alta qualidade. A Europa produz leite, queijo e manteiga acima de suas necessidades. Os rebanhos mais importantes são o bovino e o suíno. A avicultura abastece o mercado de ovos e de carne.

A Europa tem grande tradição pesqueira e marinheira. A pesca é uma atividade econômica relevante na Rússia, na Noruega, na Islândia, na Dinamarca e na Espanha. As espécies mais comuns são a sardinha, a cavala, o atum, o arenque, o bacalhau e os moluscos e crustáceos.

Fontes de energia e mineração. A produção energética da Europa é insuficiente, o que exige a importação de grandes quantidades de petróleo. O carvão mineral, recurso energético que teve grande importância nas fases iniciais da revolução industrial, é muito abundante, sobretudo na Rússia, na Polônia, no Reino Unido e na Alemanha. O petróleo só é extraído em quantidades consideráveis na Rússia e no mar do Norte. O gás natural é muito abundante nos Países Baixos, na Rússia, na Romênia e no Reino Unido. Centrais hidrelétricas e nucleares, muito espalhadas por todos os países, complementam a produção de energia.

A Europa tem um subsolo muito rico em ferro (Rússia, Alemanha, Reino Unido, Eslováquia), e isso, juntamente com o carvão, viabilizou uma possante indústria siderúrgica, mecânica e automobilística. O continente, no entanto, não produz em quantidade suficiente bauxita, cobre, estanho, zinco e minerais estratégicos (níquel, cromo ou urânio), embora, graças à importação, se tenha criado uma importante indústria de fundição de metais não-ferrosos.

Indústria. A Europa foi o primeiro continente a realizar a revolução industrial. O país pioneiro foi o Reino Unido, mas nas primeiras décadas do século XIX essa mudança se estendeu por todo o continente. Depois, o imperialismo oitocentista garantiu matérias-primas baratas e mercados seguros para as manufaturas européias, o que contribuiu para acelerar o processo de industrialização. Ao longo do século XX, a Europa foi perdendo seu poderio, mas a criação de organismos econômicos supranacionais, como a Comunidade Econômica Européia, estimulou a recuperação da fatia perdida do mercado.

A indústria européia abrange praticamente todos os campos. Continua sendo muito competitiva nos setores siderúrgico, de construção, têxtil, químico, naval e automobilístico. Além disso, os bosques de coníferas da Rússia, da Escandinávia e da Alemanha abastecem uma potente indústria do papel. Contudo, os setores de ponta das novas tecnologias (microeletrônica, telecomunicações, indústria espacial) apresentam certo atraso em relação ao Japão e aos Estados Unidos. As concentrações industriais mais importantes estão no Ruhr (oeste da Alemanha), na região central da Inglaterra, na zona de Paris e no distrito industrial de Donbass, na Rússia.

Comércio e comunicações. No que se refere ao comércio exterior, há uma nítida diferença entre a Europa oriental, que tem volume menor de transações comerciais, e a Europa ocidental, que ocupa lugar proeminente nas trocas internacionais. A Europa tem como principais parceiros os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e os países do Oriente Médio.

A Europa importa sobretudo matérias-primas, minerais, produtos tropicais, borracha e madeira. Como muitos de seus produtos perderam a competitividade, já na década de 1970 as nações européias passaram a comprar grandes quantidades de manufaturados de alta tecnologia procedentes do Japão e dos Estados Unidos. A exportação européia compreende basicamente manufaturados, automóveis, navios, produtos químicos, produtos ópticos e calçados.

O comércio intra-europeu é comparável ao mantido com os outros continentes. Para favorecer as trocas, firmaram-se na segunda metade do século XX acordos comerciais que se materializaram em organizações como a Associação Européia de Livre Comércio e a Comunidade Econômica Européia.

No campo das comunicações, a área centro-ocidental européia, onde o comércio é intenso, forma a rede terrestre mais densa do planeta. As demais regiões não dispõem de uma rede viária tão densa, mas nem por isso são mal servidas. Nenhum habitante de uma região medianamente importante deixa de contar com ferrovia ou rodovia.

A Europa, com seu perfil acidentado, conta com muitas baías e portos naturais, o que contribui historicamente para desenvolver a vocação marítima dos habitantes do litoral. Os portos de maior movimento comercial são os de Rotterdam (Países Baixos), Antuérpia (Bélgica), Le Havre e Marselha (França), Londres (Reino Unido) e Gênova (Itália). O tráfego aéreo é também muito intenso. Os aeroportos de Moscou, Londres e Paris figuram entre os mais movimentados do mundo. Além disso, o fluxo turístico rumo ao litoral mediterrâneo fortaleceu a aviação comercial e é enorme o número de passageiros que transitam por aeroportos como o de Palma de Mallorca e o de Málaga, na Espanha.

História

O continente europeu atraiu os mais diversos povos, o que resultou numa grande mistura de etnias. É muito provável que seus primeiros habitantes tenham vindo da Ásia. Na verdade, até o século X da era cristã a história européia é fundamentalmente a da formação de colônias de povos indo-europeus e a das relações destes últimos com as duas grandes civilizações do continente: Grécia e Roma.

Antiguidade. O centro das primeiras civilizações européias foi o Mediterrâneo. No século V a.C., as cidades-estados gregas, com Atenas à frente, venceram os persas em seu avanço para o Mediterrâneo e criaram uma civilização muito desenvolvida que sintetizou as culturas orientais e fixou as bases da civilização e do progresso do Ocidente. As diferentes cidades gregas, porém, rivalizavam entre si, o que impediu a criação de um estado nacional. Essas desavenças chegaram a termo na segunda metade do século IV, quando a Macedônia alcançou uma completa supremacia. Alexandre o Grande unificou a Grécia e conquistou a Ásia sul-ocidental. Após sua morte, o vasto império se fragmentou em quatro reinos, mas a cultura helenística manteve a unidade do mundo grego.

A Itália começou a entrar para a história no século VIII a.C., quando os etruscos se estabeleceram no norte e os gregos no sul. A cidade de Roma, fundada pelos latinos, herdou essas culturas e, depois de derrotar os cartagineses no século II a.C., dominou o Mediterrâneo (Mare Nostrum). No século I da era cristã, o Império Romano dominava grande parte do oeste da Europa, habitado por tribos bárbaras romanizadas, o norte da África, o Oriente e a Grécia. No século III deu-se o primeiro retrocesso do império, sob a pressão dos povos bárbaros em sua periferia. Os romanos quiseram assimilar esses povos entregando-lhes terras e confiando-lhes a proteção de suas fronteiras. O cristianismo, transformado em religião oficial do estado por Teodósio I o Grande, em fins do século IV, ficou sendo o único elemento aglutinador do império. No ano 395, com a morte de Teodósio, o mundo romano se fragmentou em duas zonas, o Oriente e o Ocidente. Os bárbaros invadiram o Império do Ocidente, que desapareceu no ano 476, quando foi deposto o último imperador, Rômulo Augústulo. Os anglos e os saxões se instalaram na Inglaterra, os francos se apossaram da Gália (França), os visigodos ocuparam a Espanha e os ostrogodos se estabeleceram na Itália. A zona oriental, o império bizantino, herdou a idéia do Império Romano unitário e cristão. Justiniano, no século VI, tentou reconstituí-lo conquistando a Itália, o sul da Espanha e o norte da África. Entretanto, as invasões continuaram e ameaçaram também o Império do Oriente. Os lombardos ocuparam grande parte da Itália no fim do século VI, e os eslavos e ávaros (ou ábaros) se instalaram nos Balcãs entre os séculos VI e VIII. Bizâncio, em suas possessões européias, ficou reduzida a um conjunto de cidades litorâneas.

Idade Média. As invasões arruinaram a economia européia, que aos poucos se estruturou em unidades agrárias autárquicas em que o trabalho era realizado por servos. Assim, surgia um novo sistema econômico, o feudalismo, que chegaria ao apogeu séculos depois com a desagregação do império carolíngio.

No século VIII apareceu um novo fator que iria modificar o curso da história no Mediterrâneo e na Europa: o Islã. Os muçulmanos, em pleno período de expansão, ocuparam o norte da África e a península ibérica. Em 732 foram derrotados e contidos em Poitiers pelo franco Carlos Martelo. O reino franco se foi consolidando como um poder forte e hegemônico. No ano 800, o rei franco Carlos Magno, cujo poder se estendia a todos os territórios abarcados pela cristandade no ocidente da Europa, foi coroado imperador pelo papa.

Morto Carlos Magno, o poder político de seus herdeiros se desagregou. Os viquingues (também chamados normandos ou “povos do norte”) ocuparam a região que viria a ser chamada Normandia, bem como a Inglaterra; e os húngaros se instalaram na planície da Panônia. O império passou a existir só no nome e o regime feudal se consolidou. Entrementes, o papado disputava com o império a supremacia universal (questão das investiduras), e os príncipes cristãos, sob a proteção do pontífice, empreendiam as cruzadas (séculos XI ao XIII) com a intenção de arrebatar aos turcos os santos lugares.

A partir do século XII, encerradas as invasões e restabelecida a tranqüilidade, ressurgiram as cidades, e com elas a economia comercial. Essa época de prosperidade e de crescimento demográfico foi interrompida pela grande crise do século XIV, com a propagação da peste negra e a eclosão de numerosos conflitos civis e internacionais.

Depois da guerra dos cem anos entre a França e a Inglaterra, entre 1337 e 1453, esses dois países consolidaram seus respectivos estados nacionais. Por outro lado, os reinos cristãos ibéricos expulsaram definitivamente da península os muçulmanos em 1492, enquanto as cidades ricas do norte da Itália (Florença, Veneza e Gênova) tornaram-se importantes centros de cultura humanística e da arte renascentista.

Paralelamente, durante os séculos XIII e XIV, a Europa oriental foi assolada por povos asiáticos, a Rússia pelos mongóis e os Balcãs pelos turcos otomanos, que em 1453 conquistaram Constantinopla e fecharam o acesso ao Mediterrâneo oriental. No fim da Idade Média, a Europa era formada, de fato, pelos territórios cristãos que haviam resistido ao avanço muçulmano. Suas fronteiras não ultrapassavam a Finlândia, a Polônia e o leste da Áustria.

Idade Moderna. No século XV teve início nas cidades ricas da Itália um extraordinário movimento de expansão artística e científica: o Renascimento. Esse fenômeno cultural coincidiu com o início da expansão européia. Em 1492, Cristóvão Colombo descobriu a América, e seis anos depois Vasco da Gama alcançou a Índia pelo mar.

Durante o século XVI, Carlos V (I da Espanha) e Filipe II impuseram a hegemonia espanhola na Europa, ao que se opuseram os outros estados nacionais. Também nesse século a cristandade ocidental se dividiu, devido ao aparecimento do protestantismo, inspirado por Martinho Lutero e João Calvino. Os países europeus travaram então cruentas guerras religiosas.

A paz de Vestfália, firmada em 1648, pôs fim à guerra dos trinta anos, acabou com a hegemonia espanhola em benefício da França e resolveu os problemas religiosos, estabelecendo o equilíbrio entre as diferentes confissões. Durante o século XVII a expansão européia continuou; os holandeses assumiram o controle do império português no Oriente, e franceses e ingleses se instalaram na América do Norte.

No começo do século XVIII, morto o rei espanhol Carlos II sem deixar herdeiro, desencadeou-se uma guerra pela sucessão no trono. Por fim, o francês Filipe de Bourbon (Filipe V) obteve a coroa, mas a Espanha perdeu todas as suas possessões européias pelo Tratado de Utrecht, de 1713. A Grã-Bretanha foi a grande beneficiada, pois manteve o equilíbrio continental enquanto seus comerciantes e navegadores desenvolviam seu império marítimo. Em 1783 os britânicos perderam as 13 colônias americanas mas conservaram o Canadá.

Época das revoluções. A burguesia francesa detinha o poder econômico, mas não participava do político. Em 1789, amparada na ideologia do Iluminismo e apoiada no povo, essa classe social aboliu o antigo regime, absolutista e hierárquico, instituindo um sistema político baseado na igualdade diante da lei, na propriedade e na liberdade. A revolução francesa, porém, radicalizou-se, o que levou à execução do rei. As monarquias absolutistas européias usaram o episódio como pretexto para declarar guerra à França. Em 1799, já sob Napoleão Bonaparte, a França empreendeu uma guerra de conquista que se encerrou com a derrota de Waterloo, em 1815. A queda de Napoleão ensejou a restauração do sistema absolutista em toda a Europa. Contudo, os movimentos revolucionários e nacionalistas se sucederam ao longo do século XIX (1830, 1848 e década de 1860), até que obtiveram a instauração de regimes democráticos e liberais nos países europeus ocidentais e a unificação da Alemanha e da Itália. Também apoiadas nas idéias liberais difundidas pela revolução francesa, as colônias hispânicas da América continental aproveitaram a debilidade do trono espanhol para declarar sua independência.

Já no século XIX a revolução industrial se propagou do Reino Unido para o continente europeu. As indústrias têxteis e siderúrgicas se estenderam por todo o Ocidente europeu e uma rede de ferrovias uniu as cidades do continente.

Colonialismo e conflitos na Europa. Durante a segunda metade do século XIX, depois de perder a maioria de suas colônias americanas, a Europa quis se apossar de novos territórios. As potências européias dividiram a África e se introduziram na China e em outras partes da Ásia. Todavia, os conflitos no continente ainda não tinham chegado a termo.

No final do século, os Balcãs, ocupados pelo império turco otomano, viram surgir importantes movimentos nacionalistas. Os estados europeus com fortes interesses naquela zona, sobretudo o império austro-húngaro e a Rússia, aspiravam ao controle da região. A instabilidade nos Balcãs foi o estopim para a primeira guerra mundial, entre 1914 e 1918, com o assassinato em Sarajevo do arquiduque austríaco Francisco Ferdinando. A grande guerra européia, que se concluiu com a derrota dos impérios centrais (Áustria-Hungria, Alemanha e o império otomano) e que custou dez milhões de mortos, representou o fim da hegemonia européia no mundo. Desintegraram-se os impérios austro-húngaro e otomano e apareceram novos países, como a Tchecoslováquia, a Hungria, a Iugoslávia e a Polônia. Em 1917, a Rússia, após uma série de movimentos revolucionários, transitou da autocracia czarista para o regime socialista. O receio de que a revolução soviética se propagasse levou os governos europeus a apoiar os exércitos dos russos “brancos”, hostis ao estado soviético.

Período entre as guerras e a segunda guerra mundial. Durante a década de 1920, a Europa procurou curar as feridas da guerra, e entre 1924 e 1929 beneficiou-se de um grande desenvolvimento econômico. Contudo, em 1929 sobreveio uma profunda crise internacional, o que contribuiu para desprestigiar o liberalismo e radicalizou as posições políticas, sobretudo em alguns países que se sentiam marginalizados na divisão dos impérios coloniais. Em 1933, a Alemanha nacional-socialista começou a rearmar-se, contrariando as determinações do Tratado de Versalhes, de 1919, e pouco depois a polarização ideológica levou a Espanha a uma guerra civil, entre 1936 e 1939. Em setembro de 1939, a invasão da Polônia pelo exército alemão desencadeou a segunda guerra mundial. Os alemães, aliados aos italianos, assumiram o controle político da maior parte da Europa, embora não conseguissem derrotar o Reino Unido nem a União Soviética. A Alemanha e a Itália se coligaram com o Japão, enquanto os Estados Unidos se juntaram ao Reino Unido e à União Soviética em 1941. Esta última aliança venceu a guerra em 1945.

Dezenas de milhões de mortos, centenas de cidades destruídas e uma enorme dívida financeira foram o resultado de um conflito que acabou definitivamente com a hegemonia européia. Em conseqüência da guerra, a Alemanha e a Europa ficaram divididas em dois blocos, o ocidental (capitalista e democrático) e o oriental (socialista marxista).

Pós-guerra. Temerosos de que a crise econômica do pós-guerra desembocasse numa revolução social, os americanos decidiram em 1947 financiar a recuperação européia mediante o Plano Marshall. A União Soviética e seus aliados recusaram essa oferta e integraram suas economias num organismo multinacional, o Conselho de Assistência Econômica Mútua (Comecon).

Os países da Europa ocidental iniciaram, na segunda metade da década de 1940, a descolonização da Ásia e mais tarde a da África. Contudo, mantiveram nos novos estados independentes uma forte influência cultural, econômica e política, o que foi designado como neocolonialismo.

Ante o crescente confronto entre as duas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética, as nações da Europa ocidental procuraram fortalecer sua posição internacional mediante a criação de organismos políticos e econômicos comuns: o Conselho da Europa (1949), a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (1952), a Comunidade Econômica Européia (1958) etc. A tensão entre os dois blocos se acentuou na década de 1950, durante a chamada guerra fria. Em 1949 fundou-se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliança militar entre os Estados Unidos, o Canadá e diversos países europeus. Os soviéticos responderam com a criação, em 1955, do Pacto de Varsóvia, ao qual aderiram os países socialistas do leste europeu.

Na década de 1960 a Europa ocidental registrou um rápido crescimento econômico, interrompido a partir de 1974 pela súbita elevação dos preços do petróleo, importado em quantidades consideráveis pela maioria dos países europeus. Na década de 1980 foi retomado o crescimento, embora com índices inferiores e níveis de desemprego relativamente altos. Apesar disso, a Europa ocidental era sem dúvida uma das mais prósperas regiões do planeta, superando inclusive, sob determinados aspectos, a América do Norte.

O lado oriental do continente teve um desenvolvimento muito mais lento, em parte pelas dificuldades ocasionadas por uma planificação excessivamente centralizada. Na década de 1980, porém, a União Soviética iniciou um processo de liberalização política e econômica cujo resultado foi o desaparecimento do regime comunista em 1991, e a desintegração da União Soviética como federação e república. Esse processo, acelerado por uma aguda crise econômica e social, favoreceu, a partir de 1989, a democratização dos países da Europa oriental que formavam o antigo bloco socialista e permitiu também a reunificação da Alemanha, quando a antiga República Democrática foi integrada à República Federal da Alemanha. Os chamados países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) se tornaram independentes e posteriormente a Tchecoslováquia se desmembrou na República Tcheca e na Eslováquia. Em meio a uma cruenta guerra étnica, a Iugoslávia se fracionou em vários países: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Eslovênia e Macedônia optaram pela independência, enquanto a Sérvia e Montenegro permaneceram unidas com o nome de Iugoslávia

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