Ética e Moral com base em filósofos

 

Os conceitos de moral e ética, embora sejam diferentes, são com freqüência usados como sinônimos. Aliás, a etimologia dos termos é semelhante: moral vem do latim mos, moris, que significa “maneira de se comportar regulada pelo uso”, daí “costume”, e de moralis, morale, adjetivo usado para indicar o que é “relativo aos costumes”. Já ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de “costume”.

Segundo Adolfo Sánchez Vásquez, tanto ethos como mos indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito”.

Lembrando a afirmação de filósofos como Aristóteles, para o qual o homem é um animal por natureza social, político, e Thomas Morus, que afirmava que “nenhum homem é uma ilha”, podemos afirmar que a moral tem um papel social, afinal, é o conjunto de regras que determinam como deve ser o comportamento dos indivíduos em grupo, mas, ademais, é preciso ressaltar que ela também está relacionada com a livre e consciente aceitação das normas. Dessa forma, o homem ocupa um papel ambíguo, de herdeiro e criador de cultura, só conseguindo ter uma vida autenticamente moral quando, a partir da moral herdada, é capaz de propor uma moral forjada em suas experiências de vida.

Já a ética é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral. Essa reflexão pode seguir as mais diversas direções, dependendo da concepção de homem que se toma como ponto de partida e, ao longo da história, filósofos foram responsáveis por diversas concepções de vida moral, como veremos a seguir.

A concepção de ética e moral ao longo do tempo

No período clássico da filosofia grega, os sofistas rejeitam a tradição mítica ao considerar que os princípios morais resultam de convenções humanas. Embora na mesma linha de oposição aos fundamentos religiosos, Sócrates se contrapõe aos sofistas ao buscar aqueles princípios não nas convenções, mas na natureza, o que se apreende em inúmeros diálogos de Platão, nos quais são descritas as discussões socráticas a respeito das virtudes e da natureza do bem. Resulta daí a convicção de que a virtude se identifica com a sabedoria e o vício com a ignorância: portanto, a virtude não pode ser aprendida.

Platão, como Sócrates, combate o relativismo moral dos sofistas. Sócrates estava convencido que os conceitos morais se podiam estabelecer racionalmente mediante definições rigorosas. Estas definições seriam depois assumidas como valores morais de validade universal. Platão atribui a estes conceitos ético-políticos o estatuto de Idéias (Justiça, Bondade, Bem, Beleza etc.), pressupondo que os mesmos são eternos e estão inscritos na alma de todos os homens. Para Platão a Justiça consiste no perfeito ordenamento das três almas e das respectivas virtudes que lhe são próprias, guiadas sempre pela razão. A felicidade, portanto, consiste neste equilíbrio.

Herdeiro do pensamento de Platão, Aristóteles aprofunda a discussão a respeito das questões éticas, mas, para ele, o homem busca a felicidade, que consiste na vida teórica e contemplativa cuja plena realização coincide com o desenvolvimento da racionalidade.

O que há de comum no pensamento dos filósofos gregos é a concepção de que a virtude resulta do trabalho reflexivo, da sabedoria, do controle racional dos desejos e paixões.

Além disso, o sujeito moral não pode ser compreendido ainda, como nos tempos atuais, na sua completa individualidade. Os homens gregos são antes de tudo cidadãos, membros integrantes de uma comunidade, de modo que a Ética se acha intrinsecamente ligada à política.

Durante a Idade Média, a visão teocêntrica do mundo fez com que os valores religiosos impregnassem as concepções éticas, de modo que os critérios de bem e de mal se achavam vinculados à fé e dependiam da esperança de vida após a morte.

Na perspectiva religiosa, os valores são considerados transcendentes, porque resultam de doação divina, o que determina a identificação do homem moral com o homem temente a Deus.

No entanto, a partir da Idade Moderna, culminando no movimento do Iluminismo, no século, XVIII, a moral se torna laica, ou seja, ser moral e ser religioso não são pólos inseparáveis, sendo possível um homem ateu ser moral, afinal, o fundamento dos valores não está em Deus, mas no próprio homem.

O Iluminismo exalta a capacidade humana de conhecer e agir à luz da razão. No lugar de explicações religiosas, fornece três tipos de justificação para a norma moral: ela se funda na lei natural (teses jusnaturalistas), no interesse (teses empiristas, que explicam a ação humana como busca do prazer e evitação da dor) e na própria razão (tese Kantiana).

A máxima expressão do pensamento iluminista se encontra em Kant, o qual, analisando os princípios da consciência moral, conclui que a vontade humana é verdadeiramente moral quando regida por imperativos categóricos, que são assim chamados por serem incondicionados, absolutos, voltados para a realização da ação tendo em vista o dever.

Nesse sentido, Kant rejeita as concepções que predominam até então, quer seja da filosofia grega, quer seja da cristã, e que norteiam a ação moral a partir de condicionantes como a felicidade ou o interesse. Para Kant, o agir moralmente se funda exclusivamente na razão. A lei moral que a razão descobre é universal, pois não se trata de descoberta subjetiva (mas do homem enquanto ser racional), e é necessária, pois é ela que preserva a dignidade dos homens, o que pode ser sintetizado na seguinte afirmação: “Age de tal modo que a máxima de tua ação possa sempre valer como princípio universal de conduta”.

No século XIX, as relações entre capitalistas e proletariados atingiram níveis agudos de antagonismo, fazendo surgir os movimentos de massa e a tentativa de teorização desses fenômenos. Deriva daí a preocupação empírica em examinar a situação concreta vivida pelos homens nas suas relações sociais. Para Marx, “o modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral”. Isso significa que as expressões da consciência humana – inclusive a moral – são o reflexo das relações que os homens estabelecem na sociedade para produzirem sua existência, e, portanto, mudam conforme mudam os meios de produção.

Ainda no século XIX, Nietzsche faz a análise histórica da moral, critica Sócrates por ter encaminhado pela primeira vez a reflexão moral em direção ao controle racional das paixões, pois, segundo Nietzsche, “nasce aí o homem desconfiado de seus instintos”, e denuncia a incompatibilidade entre a moral e a vida, afinal, para ele, o homem sob o domínio da moral se enfraquece, tornando-se doentio e culpado.

Ao criticar a moral tradicional, Nietzsche preconiza a “transvaloração de todos os valores”. Denuncia a falsa moral, “decadente”, “de rebanho”, “de escravos”, cujos valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo. Contrapõe a ela a moral “de senhores”, uma moral positiva que visa à conservação da vida e dos seus instintos fundamentais.

Também do século XIX, Sartre afirma que:

“O conteúdo [da moral] é sempre concreto e, por conseguinte, imprevisível; há sempre invenção. A única coisa que conta é saber se a invenção que se faz, se faz em nome da liberdade”. A decorrência desse pensamento é a dificuldade em estabelecer os critérios para a fundamentação da moral. Sartre prometeu e não conseguiu cumprir a elaboração de uma ética que não sucumbisse ao individualismo e relativismo já que, segundo ele, “cada homem é responsável por toda humanidade”.

No mundo contemporâneo, a situação da moral e da ética, em síntese, nos lança diante de um impasse: de um lado prevalece a ordem subjetiva das vivências e emoções, a anarquia dos princípios ou a simples ausência deles; de outro lado, a razão dominadora, instrumento de repressão, como nos denuncia Marx e Nietzsche, entre outros.

Conclusão

Dessa forma, conclui-se que, apesar de serem etimologicamente semelhantes, a moral e a ética são distintas, tendo a moral um caráter prático imediato e restrito, visto que corresponde a um conjunto de normas que regem a vida do indivíduo e, conseqüentemente, da sociedade, apontando o que é bom e o que é mal, influenciando os juízos de valores e as opiniões. Em contrapartida, a ética caracteriza-se como uma reflexão filosófica de caráter universalista sobre a moral, a fim de analisar os princípios, as causas, mas, também as conseqüências das ações dos indivíduos para a sociedade.

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