Como diferentes lugares do Brasil comemoram a Páscoa

 

Espetáculo da Paixão de Cristo em Barcarena (Foto: Fábio Costa/ Ag. Pará/ Fotos Públicas)

Páscoa para você significa se entupir de chocolate e ir à missa no domingo? Pois algumas cidades no Brasil tem tradições que vão além disso. A Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) elaborou, em parceria com Marcelo Duarte, autor da série O Guia dos Curiosos, uma pesquisa sobre a celebração da Páscoa pelo país. Confira:

SUL

No Paraná, imigrantes e descendentes ucranianos fazem a paska, um pão caseiro que deve ser receber uma benção na primeira missa do domingo. Outra tradição são as pêssankas, ovos decorados à mão. Os traços desenhados significam bons desejos para o presenteado.

Em Ivoti, cães e gatos são pintados de azul ou cor-de-rosa para anunciar às crianças que a época mais doce do ano está se aproximando. Também por causa da forte influência alemã, a cidade fica cheia de ninhos com ovos de chocolate.

Já em Pejuçara, também no interior do Rio Grande do Sul, os 4 mil habitantes têm orgulho de confeccionar tapetes de fuxicos que serão estendidos dentro das igrejas e nas ruas do centro da cidade.

A Páscoa em Pomerode, a “cidade mais alemã do Brasil”, tem até um nome germânico. A Osterfest dura um mês. Uma serenata (“Osterstüppen”) é organizada na madrugada do sábado para o domingo de Páscoa.

SUDESTE

A tradição da malhação de Judas foi trazida pelos portugueses e consiste em bater num boneco forrado de serragem pelas ruas e depois atear fogo a ele. Em São Paulo, o ponto de maior concentração é a Rua Lavapés, no bairro do Cambuci, onde a malhação é realizada desde 1937.

A comunidade grega, que se concetra principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, costuma pintar ovos cozidos de vermelho. Depois de decorados, duas pessoas fazem um desafio. Cada uma pega um ovo, faz um pedido e batem um contra o outro. Aquela que conservar o ovo intacto tem o desejo realizado.

A história dos tapetes de flores em Ouro Preto começou em 1733, ano da reinauguração da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Os tapetes cobrem os três quilômetros da procissão e os desenhos são feitos com serragem colorida, flores, areia e palha.

A Páscoa Iluminada de Araxá é o maior evento temático de Páscoa do país. Acontece no entorno do Grande Hotel Araxá.

CENTRO-OESTE

Em Pirenópolis, na Semana Santa, as ruas do centro histórico e os casarões do século XVIII são palco das encenações dos rituais da morte e da ressurreição de Cristo. O destaque fica por conta das belas imagens e dos paramentos usados pelos fiéis nas procissões.

No Mato Grosso do Sul, o cardápio do feriado tem influência paraguaia. A famosa chipa, uma versão do pão de queijo temperada com ervas, e a sopa paraguaia, uma torta à base de milho.

Na Cidade de Goiás, acontece anualmente a Procissão do Fogaréu. O ritual começou em 1745 e revive a paixão e morte de Jesus Cristo. Cerca de 20 mil pessoas chegam a participar. À meia-noite de quinta para sexta-feira, 500 homens com tochas saem em procissão, acompanhados pelos sons de tambores. A cidade fica completamente às escuras.

NORDESTE

Três pratos são muito tradicionais na Páscoa do Nordeste. O primeiro deles é o quibebe, um tipo de purê de jerimum, consumido na Sexta-feira Santa. O segundo é o arroz de coco (cozido com leite de coco). E o mais emblemático é o feijão de coco, servido em forma de um caldo bem grosso.

O Piauí é o Estado mais católico do Brasil. São quase 88% da população católica praticante. Por isso, muitos piauienses lembram da quantidade de proibições que cercavam a Semana Santa antigamente. Na Sexta-feira da Paixão, por exemplo, era proibido até tomar banho e pentear os cabelos.

Em Brejo da Madre de Deus, na Fazenda Nova, acontece uma representação da Paixão de Cristo que é considerada o maior espetáculo ao ar livre do mundo. São 100 mil m² cercados por uma muralha de pedra de granito de 4 metros de altura, num cenário que é uma reprodução parcial da Jerusalém dos dias de Cristo.

A mais famosa Procissão do Fogaréu baiana tem lugar em Serrinha. Ela é realizada desde 1930 e foi transformada em Patrimônio Histórico Imaterial da Bahia. Cerca de 30 mil fiéis sobem a colina de Nossa Senhora Santana, o  ponto mais alto da cidade, com velas e tochas.

NORTE

A Procissão do Senhor Morto é realizada por todo o país. O Cristo morto é carregado em procissão. Durante a caminhada, as pessoas que têm algum problema de saúde medem a parte do corpo de Cristo relativa à doença com um pedaço de barbante. Por exemplo: quem está com dores na perna mede a perna. Depois, esse barbante deve ser amarrado em qualquer parte do corpo. Em Belém, a procissão sai da Catedral da Sé em direção à Igreja de São João, com as imagens de Nosso Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores percorrendo as ruas do centro histórico.

Durante a Semana Santa, os católicos de Belém fazem procissões que passam pelas sete igrejas históricas, que ficam na área central da cidade.

Em Barcarena, há a mais famosa encenação da Paixão de Cristo da região Norte. Foi construída uma cidade cenográfica para receber os 130 atores e 200 figurantes que apresentam o espetáculo agora chamado de “Paixão da Amazônia”.

OS SÍMBOLOS

O ovo é um símbolo de nascimento e de renovação da vida. Para antigos povos como romanos, chineses e egípcios, representava a forma do universo. Por isso, eles pintavam ovos de galinhas, que depois eram reverenciados em festas. Passou a fazer parte da comemoração de Páscoa no século XII.

No século XV, as pessoas passaram a presentear os amigos e parentes com os ovos, que eram bentos na missa do Domingo da Páscoa. Inicialmente, eram ovos de verdade, geralmente de galinha. Depois, passaram a ser de porcelana, vidro, pedra, madeira, papel escamas e casco de tartaruga.O uso do chocolate veio só no século XIX, inicialmente na Alemanha.

O coelho era símbolo de fertilidade no antigo Egito. Como se reproduz rapidamente e gera muitos filhotes, o animal representa a fecundidade e o renascimento e, consequentemente, a Igreja, que também pode ter novos discípulos sempre.

A lenda do Coelho da Páscoa foi criada na Alemanha. O coelho como símbolo da festa religiosa chegou ao Brasil com os imigrantes alemães, nos anos 1910.

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