Combate à discriminação racial – uma luta sempre atual

 

Em mais um artigo para a Fórum, Benedita da Silva diz: “O racismo tem assumido diversas formas, desde o genocídio e segregação legal até a discriminação racial praticada socialmente, de modo dissimulando ou nem tanto”

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A ONU instituiu o 21 de março como o Dia Internacional da Eliminação Discriminação Racial porque nessa data, no ano de 1960, na África do Sul, quando vigorava o regime de segregação racial do Apartheid (1948-1994), os moradores do bairro de “Sharpeville”, da cidade de Johanesburgo, fizeram um protesto contra a Lei do Passe, que determinava os locais por onde os negros podiam circular. A polícia abriu fogo contra a multidão, matando 69 pessoas e ferindo 186. O “Massacre de Sharpeville” passou a simbolizar a luta pela eliminação da discriminação racial em todo o mundo.

O racismo e sua consequência natural, a discriminação racial, é uma doença social alimentada pelo capitalismo e introjetada na população em geral, e não apenas branca, mas, sim, por todos os meios, começando pela família, passando pela escola e finalmente disseminada pelos meios de comunicação de massa.

O racismo tem assumido diversas formas, desde o genocídio e segregação legal até a discriminação racial praticada socialmente, de modo dissimulando ou nem tanto.

O poder branco brasileiro tem adotado todas essas formas de racismo. Com o fim da escravidão o que é o isolamento das populações negras nas favelas senão segregação racial? O que significa abandonar essa população à própria sorte, subempregada, sem assistência médica, saneamento e moradia digna e até mesmo sem comida para os filhos senão uma forma de genocídio? E o que dizer da execução sistemática de jovens negros das favelas e periferias, disfarçada de combate ao tráfico, senão genocídio?

E por que os trabalhadores negros, em especial as mulheres negras, ganham menos do que os homens e as mulheres brancas? Por que tantas barreiras sociais, educacionais e culturais para impedir a ascensão social da população negra? O que dizer da ínfima participação de negros na política? Cadê a imagem da maioria negra da população brasileira nos programas de TV, nos anúncios e nas novelas, as quais, quando incluem artistas negros é quase sempre representando empregada ou bandido? E quanto ao estereótipo de bandido como sendo pessoa pobre e negra, usado até mesmo como critério de julgamento por uma juíza, como foi divulgado?

O que significa isso tudo senão formas diferentes da mesma discriminação racial, do mesmo racismo entranhado na chamada sociedade “bem nascida”, que é o sinônimo da palavra grega “eugenia”. Foi esse o termo das teorias anticientíficas do racismo europeu e norte-americano que o poder branco brasileiro importou nas primeiras quatro décadas do século 20. A ideia era branquear a população brasileira com a imigração europeia e com a segregação e mesmo morte lenta da população negra abandonada nas favelas, espécie de “campo de concentração” cercado pelos invisíveis, mas implacáveis, muros da discriminação e preconceito racial.

Depois da derrota do nazismo e das revelações do holocausto, foi criada a ONU e aprovada em 1948 a Declaração dos Direitos Humanos. Nesse novo contexto, a eugenia foi substituída no Brasil pelo conceito, também racista, da “democracia racial”, que não haveria discriminação racial se o negro aceitasse o seu lugar subalterno.

Com a eleição de Lula em 2002, o novo governo popular reconheceu ser o Brasil um país racista e criou diversas políticas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial. Todos os programas sociais de Lula e Dilma às populações negras, e dentro delas as mulheres, eram as prioridades do governo.

O golpe do impeachment que depôs a presidenta Dilma, a prisão de Lula para não ser candidato a presidente e a eleição fraudada de Bolsonaro fizeram voltar o racismo do passado, assumido abertamente por elites intolerantes e antinacionais. É a situação em que nos encontramos agora.

O negro, acostumado a lutar por sua identidade racial e por liberdade desde Zumbi, não se deixa intimidar e organiza a sua luta contra a forma mais radical de racismo, a do fascismo, além do que suprime as liberdades democráticas, mata quem defende direitos humanos e persegue os partidos de esquerda e os movimentos sociais.

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