Colômbia

 

País caribenho, andino e amazônico, a Colômbia associa a riqueza de seus recursos naturais a uma estrutura econômica ainda não desenvolvida. A miscigenação de seus habitantes não diminuiu a intensa influência da cultura e tradição espanholas, que se evidenciam na pureza da língua e na manutenção do catolicismo.

A Colômbia situa-se no ângulo noroeste da América do Sul. Limita-se a leste com a Venezuela e o Brasil, ao sul com o Peru e o Equador, a oeste com o oceano Pacífico e ao norte com o mar das Antilhas ou do Caribe. As duas grandes massas de água estão separadas pelo istmo centro-americano, por cujo extremo oriental se estende a fronteira entre a Colômbia e o Panamá. O território colombiano inclui ainda as ilhas de San Andrés e Providencia, no mar das Antilhas, em frente da Nicarágua, e a de Malpelo, no oceano Pacífico, bem como ilhotas próximas de seu litoral.

Com uma superfície total de 1.138.914km2, a Colômbia tem uma costa de aproximadamente 2.900km, dos quais 1.600 banhados pelo mar das Antilhas e o restante pelo oceano Pacífico. O litoral é recortado por baías, golfos e penínsulas que lhe dão um aspecto muito irregular.

Geografia física

Relevo. Poucos países apresentam tamanha variedade geográfica quanto a Colômbia. Sua topografia acidentada, dominada pela presença dos Andes, além da localização próxima à linha do equador, cria uma extraordinária diversidade de climas, vegetação, solos e paisagens agrícolas.

Ao penetrarem na Colômbia pela fronteira com o Equador, os Andes dividem-se em três ramos: as cordilheiras Ocidental, Central e Oriental. A cordilheira Ocidental estende-se do Equador até a planície do mar das Antilhas, seguindo aproximadamente a linha do Pacífico. Ao sul é franqueada por íngremes camadas paleozóicas e mesozóicas.

A cordilheira Central, a mais alta das três, é separada da Ocidental pelo vale do rio Cauca e da Oriental pelo vale do rio Magdalena. Termina em colinas baixas perto da confluência dos dois rios. Consiste principalmente em arenitos cretáceos e rochas porfiríticas. Os picos mais elevados são o Nevado del Tolima (5.215m), o Nevado del Ruiz (5.300m) e o Nevado del Huila (5.750m). O batólito de Antioquia, a uma altitude média de 2.130m, constitui um prolongamento setentrional da cordilheira Central.

A cordilheira Oriental, formada por dobramentos cretáceos, divide abruptamente a região montanhosa do norte e oeste das extensas planícies baixas que, a partir do sopé da cordilheira Oriental, descem suavemente até os rios Orinoco, a leste, e Amazonas, ao sul. As planícies ocupam metade da área do país. Ao sul, a selva é banhada pelos rios do sistema amazônico.

Embora os Andes constituam a espinha dorsal do território, há também na Colômbia alguns sistemas montanhosos não andinos. O mais notável é a serra Nevada de Santa Marta, ao norte, imponente maciço granítico cujo pico mais elevado, Cristóbal Colón (5.875m), é também o ponto culminante do país e fica somente a quarenta quilômetros do mar.

Clima. Devido à posição geográfica da Colômbia, o clima predominante nas planícies é o equatorial, sem grande variação de temperatura ao longo do ano. Diferenças mais marcantes entre as estações do ano se observam em decorrência do regime de chuvas, que determina a alternância de períodos secos (verão) e chuvosos (inverno) em algumas regiões. Registram-se mais de 2.500mm de precipitações, repartidas regularmente ao longo do ano, na extensa planície amazônica, na maior parte da costa do Pacífico e nas proximidades do istmo do Panamá. No Chocó, região situada entre o Pacífico e a cordilheira Ocidental, onde chove quase diariamente, chegam a registrar-se 8.000mm anuais. Na parte sul da costa do Pacífico e em terras próximas ao golfo de Darién, o índice pluviométrico é também elevado, embora ocorra uma estação seca que se acentua nas planícies do curso inferior dos rios Magdalena e Cauca, a leste da cordilheira Oriental.

A parte leste do litoral do mar das Antilhas apresenta clima mais seco e mais quente que o do restante do país. As zonas montanhosas denotam grande diversidade climática, determinada fundamentalmente pela altitude. Até os mil metros estendem-se as áreas quentes e de mil a cerca de dois mil metros, as temperadas, com temperaturas médias entre 22 e 18 C. Nas áreas frias, situadas aproximadamente entre dois mil e três mil metros, as temperaturas médias oscilam entre 18 e 11o C. Acima das terras frias e até o limite das neves perenes, em torno de 4.800m, encontram-se os descampados onde a prática da agricultura é de todo impossível. De modo geral as chuvas são abundantes nas regiões montanhosas, excetuando-se porém dessa regra alguns vales mais profundos e os altos descampados.

Hidrografia. Menos de dez por cento das águas que correm pelo território colombiano deságuam no Pacífico, em geral levadas por rios caudalosos e curtos que descem a cordilheira Ocidental em grande velocidade, com exceção do Patía, que drena o extremo sul do espaço compreendido entre as cordilheiras Ocidental e Central. Outros rios importantes da bacia do Pacífico são o Baudó e o San Juan. Devido à conformação das cordilheiras andinas, suas águas correm por extensos leitos que, orientados para o norte, despejam-nas no mar das Antilhas; o Atrato corre a oeste da cordilheira Ocidental, levando suas águas ao golfo de Darién; o Cauca, depois de ter seu curso contido entre as cordilheiras Ocidental e Central, desemboca no Magdalena, o grande rio colombiano, que drena com seus afluentes as terras situadas entre as cordilheiras Central e Oriental. O Sinú deságua diretamente no Caribe, enquanto alguns pequenos rios do nordeste da Colômbia deságuam no lago venezuelano de Maracaibo.

A maior bacia fluvial colombiana é a do Atlântico, à qual pertencem os caudalosos Caquetá e Putumayo, afluentes do Amazonas, e o Meta e o Guaviare, que vão ter ao Orinoco no trecho em que esse extenso rio constitui a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela.

A Colômbia possui lagos e lagoas de modesta dimensão, nas zonas andinas, e grandes pântanos nas partes mais baixas das planícies. Entre eles se encontra o pântano formado pelos numerosos braços confluentes dos rios Magdalena, Cauca, César e Nechí, na planície atlântica, e os que são atravessados pelos cursos inferiores do Atrato, junto ao golfo de Darién, e do San Juan, na costa do Pacífico.

Flora e fauna. É notável a variedade da vida vegetal na Colômbia. Já foram detectadas 23 diferentes formações vegetais, distribuídas em faixas verticais e horizontais correspondentes a diferentes altitudes e volumes de chuvas. Assim, na costa do Pacífico se estende uma flora exuberante de manguezais, enquanto nas terras calcinadas de La Guajira crescem cardos e outras plantas adaptadas a regiões áridas.

Savanas e matas tropicais alternam-se nas áreas de Los Llanos; as planícies atlânticas possuem palmeirais e as regiões do Amazonas e do Chocó são cobertas pela densa floresta equatorial. A região andina apresenta uma flora das mais variadas, com árvores como o jacarandá, ébano, e cedro, além de plantas medicinais como a copaíba, salsaparrilha e quina. Apesar de um processo de desmatamento secular e intenso em numerosas áreas, particularmente nas temperadas e frias, ainda existem grandes extensões florestais praticamente virgens.

Diversos animais típicos da fauna amazônica povoam as florestas da Colômbia, entre eles preguiças, tamanduás, várias espécies de macacos, gambás, cutias, pacas, veados e antas. Os principais carnívoros são a onça e o quati. Conhecem-se mais de 1.500 espécies de aves, entre as quais se destacam os tucanos e as espécies migratórias, procedentes da América do Norte. Os rios colombianos são piscosos e apresentam grande variedade de espécies.

População

Composição étnica. Calcula-se em um milhão o número de indígenas que habitavam as terras da Colômbia no começo do século XVI. Com a chegada dos conquistadores, esse número decaiu rapidamente, talvez reduzindo-se à quarta parte. Muitas tribos foram exterminadas, e só a população chibcha deu uma substancial contribuição ao processo de mestiçagem.

Pode-se considerar que metade da população tem ascendentes europeus e indígenas. Cerca de vinte por cento da população é de origem européia, há um número semelhante de mulatos, sobretudo na área caribenha, e existem pequenos grupos de ameríndios e negros. Assim, a Colômbia é um país mestiço, com uma proporção de sangue ameríndio maior que o da Argentina e o Chile, porém menor que o do México ou o Peru. No começo do século XX verificou-se uma moderada imigração de europeus não espanhóis, libaneses, sírios e até chineses e japoneses. Por outro lado, na segunda metade do século verificava-se uma emigração de mão-de-obra qualificada para a Venezuela, os Estados Unidos e outros países.

Língua. O idioma oficial é o espanhol, mas alguns grupos indígenas conservam suas línguas nativas. De modo geral, os colombianos denotam uma grande preocupação com a preservação da língua espanhola que, excetuando-se a área do Caribe, é falada em sua forma mais pura.

Pequenos grupos populacionais falam diversas línguas e dialetos indígenas, como o aruaque, o chibcha, o tupi-guarani, o quíchua e o aimará.

Estrutura demográfica. Apesar das cruentas guerras civis e das deficiências de saneamento, a população não parou de crescer ao longo do século XIX. Em 1900 somava aproximadamente quatro milhões de habitantes, número que duplicou em 35 anos, depois em 27 e ainda mais uma vez em 23 anos.

A causa do rápido incremento demográfico foi a alta taxa de natalidade, que alcançou o máximo na metade da década de 1960. A mortalidade, pelo contrário, caiu rapidamente a partir de 1950. Malgrado a diminuição da natalidade nos últimos decênios do século XX, o incremento da população adquiriu na Colômbia um caráter explosivo muito semelhante ao de outros países da área. A população colombiana é muito jovem, o que provocou problemas de desemprego. Além disso, tem mostrado tendência a concentrar-se nos grandes centros urbanos, o que causou problemas de insuficiência de serviços públicos e deterioração do meio ambiente.

A grande maioria da população colombiana habita a porção ocidental do país, concentrada nas encostas e vales das cordilheiras Central e Oriental e na planície costeira setentrional. A planície do Pacífico apresenta população rarefeita e as vastas planícies e selvas a leste dos Andes são praticamente desabitadas. As principais cidades, além de Bogotá, são Medellín, Cali, Barranquilla, Cartagena, Bucaramanga, Manizales, Pereira, Cúcuta e Ibagué. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)

Economia

Agricultura e pecuária. O café, a maior fonte de riqueza do país, é cultivado sobretudo nas zonas temperadas. A cafeicultura experimentou crescimento permanente a partir do final do século XIX. A economia colombiana, em especial seu comércio exterior, depende muito das oscilações nas cotações internacionais do café, exportado principalmente para os Estados Unidos e Europa. A banana é outro importante produto de exportação e suas grandes plantações, concentradas na costa do Caribe, pertencem a companhias internacionais.

O vale do Cauca produz muita cana-de-açúcar, destinada à fabricação de açúcar mascavo para consumo interno, açúcar refinado para exportação e álcool. Os cereais de maior consumo são o arroz, cujo cultivo se disseminou por grandes áreas no fim do século XX, e o milho, que se planta tanto em terras temperadas e frias como nas regiões mais quentes. Outros produtos agrícolas importantes são mandioca, batata, legumes, hortaliças, frutas cítricas, flores, cacau, fumo, algodão e borracha. Embora a Colômbia importe gêneros alimentícios como o trigo, é auto-suficiente em sua produção agrícola. Grande parte das planícies é destinada a pastos para gado bovino. A suinocultura e a avicultura atingiram bom nível de mecanização.

Mesmo com o intenso desmatamento, metade do território colombiano ainda é ocupada por florestas. O aproveitamento de diversas espécies, e de algumas madeiras de alta qualidade, é limitado por dificuldades de transporte e pelo exíguo investimento de capital nessa atividade.

A pesca é praticada, sobretudo, nas costas do Pacífico e no Caribe, mas o país não possui uma frota pesqueira adequada. São também muito limitadas as atividades pesqueiras nos rios e regiões pantanosas.

Energia e mineração. Os campos de petróleo se acham na fronteira com a Venezuela, na região do Caribe e na bacia do Magdalena. Grandes reservas ocorrem na região amazônica, nas planícies e na costa do Pacífico. O país possui uma das maiores reservas de carvão do mundo. A maior parte da energia elétrica é produzida nos rios andinos, mas somente uma parte do grande potencial hidrelétrico é explorada. Nas áreas costeiras do norte, as centrais termelétricas utilizam gás natural, derivados de petróleo e carvão.

O subsolo é rico em minerais metálicos: extraem-se ouro, prata e platina em jazidas localizadas nas cordilheiras Central e Ocidental e no Chocó. Também se explora ferro, urânio, chumbo, zinco, cobre etc. A produção de esmeraldas, grandes e de boa qualidade, é também importante.

Indústria. No começo do século XX existiam na Colômbia apenas cem estabelecimentos industriais. As duas guerras mundiais e a política de proteção cambial adotada a partir de 1930 permitiram extraordinária expansão industrial e em 1950 a produção nacional atendia a quase toda a demanda de têxteis, calçados, cimento, alimentos etc. As áreas industriais concentram-se em Bogotá, Barranquilla, Medellín e Cali.

Finanças e comércio. O sistema financeiro colombiano é regido pelo Banco da República, responsável também pela emissão da moeda. A maioria dos bancos privados tem sede em Bogotá e em Medellín. Há também bancos regionais.

O mercado interno se concentra em quatro regiões: Bogotá, Medellín, costa do Caribe e vale do Cauca. As dificuldades de comunicação foram propícias ao desenvolvimento de mercados regionais, muito diferenciados e autônomos. No comércio exterior, além do café e da banana, são importantes o fumo, a platina e o açúcar. Entre os principais produtos de importação se encontram máquinas, metais e veículos. Os Estados Unidos são o principal parceiro comercial, tanto importador como exportador.

Transportes e comunicações. A complexa configuração geográfica da Colômbia determina dificuldades de comunicação entre os diversos compartimentos do território. Estradas insuficientes e inadequadas encarecem os transportes comerciais. A maior parte das importações e exportações da Colômbia escoa pelos principais portos marítimos do Caribe — Cartagena, Barranquilla e Santa Marta. Na costa do Pacífico, o porto de Buenaventura, com instalações modernas e boa comunicação com a cidade de Cali, dá saída à produção do vale do Cauca.

A navegação fluvial, que se pratica principalmente nos 1.200km navegáveis do rio Magdalena, e a aviação constituem os principais meios de transporte nas regiões do Orinoco e do Amazonas. O Atrato e alguns trechos do Cauca também são navegáveis. A navegação de cabotagem vale-se da proximidade do canal do Panamá para ligar os portos marítimos do Pacífico e do Caribe.

A rede ferroviária, administrada pelo estado, cobre as regiões mais populosas do país. A principal linha férrea une o porto caribenho de Santa Marta a Bogotá pelo vale do Magdalena. Uma linha secundária vai a Medellín, de onde continua pelo vale do Cauca para o sul e chega a Popayán, com um ramal que vai de Cali ao porto de Buenaventura. Dessa forma Santa Marta, no Caribe, e Buenaventura, no Pacífico, se ligam por via férrea, mas mesmo assim a rede ferroviária é insuficiente para as necessidades do país.

Das três rodovias que cortam o país de norte a sul e constituem os troncos rodoviários oriental, ocidental e central, a mais importante é a primeira, por ser a seção colombiana das rodovias Pan-Americana e Simón Bolívar. A Colômbia foi o primeiro país sul-americano a desenvolver o transporte aéreo em escala comercial, por meio da Sociedad Colombiana-Alemana de Transportes Aereos, surgida em 1920. Várias empresas de aviação comercial servem às linhas domésticas e internacionais. Há mais de 400 aeroportos. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)

História

Culturas pré-colombianas. Diversos povos ameríndios ocupavam o território colombiano antes da conquista espanhola. Nenhum deles deixou registros escritos, o que não permite reconstruir sua evolução com a mesma precisão que se alcançou no estudo das grandes civilizações históricas do Novo Mundo. Ainda hoje, culturas como a de San Agustín, extinta muitos séculos antes da chegada dos europeus, continuam a ser um enigma.

Os povos das regiões planas e litorâneas organizavam-se socialmente como confederações de tribos, levavam vida muito simples e foram extintos pelos colonizadores espanhóis. Já em terras andinas havia culturas mais desenvolvidas, entre as quais se destaca a dos chibchas, que ocupavam os pontos mais altos da parte central da cordilheira Oriental. Cultivavam milho, batata e algodão. Não chegaram a formar um império unitário, mas apresentavam muitos traços culturais comuns. Atingiram grande densidade populacional na savana de Bogotá. Seu centro mais importante era Bacatá, próximo à posterior capital colombiana.

Exploração e conquista espanholas. A primeira expedição européia a avistar terras da futura Colômbia foi a do espanhol Alonso de Ojeda, que em 1499 dobrou o cabo de La Vela, na península de La Guajira. Dez anos depois, o reconhecimento de toda a costa sul-americana do Caribe foi feito por Rodrigo de Bastidas, que em 1525 fundou Santa Marta. Em 1533 Pedro de Heredia fundou Cartagena, que se tornaria uma das principais bases marítimas do império espanhol nas Américas. Até 1539 já haviam sido fundadas todas as cidades importantes do interior colombiano, até mesmo Santa Fe de Bogotá (1538).

Bogotá, que antes da conquista era o principal núcleo dos reinos chibchas, transformou-se em 1550 na audiência de Santa Fe de Bogotá, dependente do vice-reino do Peru e centro administrativo de uma região que abrangia Nova Granada, Popayán, Antioquia, Cartagena, Santa Marta, Riohacha, os llanos de Casanare e San Martín. A partir de 1564, os presidentes da audiência de Santa Fe gozaram de poderes semelhantes aos dos vice-reis. As populações autóctones diminuíram enormemente, exterminadas pelos novos senhores das terras e por doenças por eles transmitidas, como a epidemia de varíola de 1587-1589.

As culturas indígenas se transformaram rapidamente, em contato com a civilização. O catolicismo foi imposto e predominou sobre as religiões autóctones. No século XVII, o chibcha, língua indígena que tivera o maior número de usuários, havia caído em desuso nas zonas mais povoadas do país e a miscigenação granhou forte impulso. Nas planícies do Chocó e na costa do Caribe foram instalados escravos negros, destinados à extração do ouro e ao trabalho nas plantações de cana-de-açúcar.

A Igreja Católica, com a atuação de missionários franciscanos, dominicanos e jesuítas, desempenhou importante papel na catequese e na administração. Em 1620, a Inquisição instalou-se em Cartagena, cidade que logo se tornaria um baluarte do império espanhol.

Vice-reino de Nova Granada. A dependência administrativa de Lima encerrou-se com a criação do vice-reino de Nova Granada, vigente primeiro durante um breve período, de 1717 a 1723, e depois, definitivamente, a partir de 1740. Compreendia a Colômbia, a Venezuela, o Equador e o Panamá e representou o início de uma nova era. Nas décadas seguintes, a coroa espanhola procurou fortalecer o império mediante maior centralização da administração e desenvolvimento do comércio. A população aumentou e começou a consolidar-se uma nova classe social com crescente poder: a dos criollos, descendentes de espanhóis nascidos na colônia.

De 1785 a 1810, os criollos de Nova Granada não ofereceram resistência às reformas políticas e econômicas. Assim, na revolução dos comuneros, os socorrenses opuseram-se às reformas, mas em 1809 propuseram medidas favoráveis ao sistema de livre comércio e à abolição da escravatura. As reformas educacionais desempenharam papel de relevo nessa modificação de perspectiva dos granadinos. Como vice-rei, o arcebispo Caballero y Góngora (1782-1788) concentrou-se principalmente na educação, modernizando os currículos e criando uma escola de minas.

Independência. O antagonismo entre súditos coloniais e metropolitanos e as incertezas quanto ao destino do império, após a invasão da Espanha pela França em 1808, provocaram um conflito que culminou na declaração de independência. Em 1810, as jurisdições de Nova Granada expulsaram as autoridades espanholas, exceto em Santa Marta, Riohacha e os atuais Panamá e Equador. O levante de Bogotá, de 20 de julho desse ano, é comemorado como a data de independência da Colômbia. A rivalidade entre os grupos que propugnavam uma federação e aqueles que tentavam centralizar a autoridade nos novos governos provocou uma série de guerras civis, que facilitou a reconquista, pela Espanha, das Províncias Unidas de Nova Granada, entre 1814 e 1816.

As execuções e castigos praticados pelos espanhóis favoreceram a unidade dos setores libertários. Um grupo refugiado em Casanare, chefiado por Francisco de Paula Santander, iniciou a luta armada, com apoio de Simón Bolívar. Em 1819 realizou-se na cidade de Angostura (hoje Cidade de Bolívar, na Venezuela) uma convenção, com delegados de Casanare e algumas províncias venezuelanas. No mesmo ano Bolívar invadiu Nova Granada e derrotou os espanhóis em Boyacá, em 7 de agosto. Seguiram-se as batalhas de Carabobo (Venezuela), em 1821, e de Pichincha (Equador), em 1822, também vencidas por Bolívar.

Libertado o território colombiano, Bolívar concentrou sua ação no Peru, deixando Santander como vice-presidente da Grande Colômbia. Em 1826, com a expulsão definitiva dos espanhóis do continente, Bolívar regressou a Bogotá, onde suas idéias centralizadoras se chocaram com o federalismo de Santander. Bolívar tornou-se ditador, mas sucessivos atentados e revoltas, além do descontentamento de grande parte de seus antigos partidários, obrigaram-no a renunciar em 1830. Em poucos meses, o que havia sido o vice-reino de Nova Granada fragmentou-se em três estados independentes: Venezuela, Equador e República de Nova Granada, depois Colômbia, na qual estava incluído o território do Panamá.

A partir da guerra civil de 1840-1842 e de hostilidades entre os partidos Liberal e Conservador, instituiu-se uma federação em que o governo central teve poderes muito reduzidos. A constituição de 1858 restaurou um governo nacional forte. A rejeição da constituição pelos liberais levou à chamada “anarquia organizada”, ordenada pela constituição de 1863. Um segmento do Partido Liberal, encabeçado por Rafael Núñez, passou então a defender uma reforma constitucional e aliou-se aos conservadores. Disso resultou a constituição de 1886, pela qual a Nova Granada adotou o nome de República da Colômbia, regida por uma constituição unitária que haveria de manter-se, com modificações, durante todo século seguinte.

O presidente Rafael Núñez devolveu à Igreja Católica os privilégios cuja supressão causara uma guerra civil na década anterior. Com sua morte, novas discórdias civis ocorreram entre 1884 e 1895. Anos depois começaria a mais sangrenta das guerras civis colombianas, a guerra dos mil dias (1899-1903), que deixou o país exaurido. Em 1903 o Panamá declarou-se independente, com apoio dos Estados Unidos, interessados em abrir o canal no istmo centro-americano.

Ciclo do café. O mandato do general Rafael Reyes na presidência da república (1904-1909) marcou o princípio de uma lenta recuperação econômica. Em 1914, a Colômbia reconheceu oficialmente a independência do Panamá e recebeu uma indenização no valor de 25 milhões de dólares, paga pelos Estados Unidos. O aumento do comércio exterior, com a exportação de café e o início da exploração de jazidas, conduziu a um processo de industrialização e prosperidade que seria interrompido pela crise mundial de 1929. Os preços do café, do petróleo e da banana, os principais produtos de exportação, caíram vertiginosamente, o que levou a economia do país ao colapso.

O Partido Conservador, no poder desde o final do século XIX, perdeu em 1930 a presidência da república para o Partido Liberal, que se manteve no governo até 1946. Nas eleições realizadas nesse ano, os liberais se dividiram e lançaram dois candidatos, propiciando a vitória ao conservador Mariano Ospina Pérez. Apesar de vitoriosos na eleição, os conservadores só obteriam o controle do Congresso ao impor, em 1949, o estado de sítio, que durou até 1958.

O assassinato de Jorge Eliécer Gaitán, líder dos trabalhadores e candidato derrotado às eleições presidenciais, em pleno centro de Bogotá, desencadeou a maior rebelião da história da Colômbia, em 9 de abril de 1948. O episódio passou para a história do país com o nome de bogotazo. A violência prolongou-se durante a presidência de Laureano Gómez (1950-1953), que tentou implantar um regime autoritário. Em 1953, o general Gustavo Rojas Pinilla liderou um golpe de estado e, embora louvado como paladino da justiça, foi ainda mais arbitrário que seu antecessor. Numa tentativa de restauração do poder civil, liberais e conservadores formaram a Frente Nacional.

Em 1957 Rojas Pinilla renunciou e um plebiscito incorporou os acordos da Frente Nacional à constituição. No ano seguinte, o presidente Alberto Lleras Camargo instituiu a reforma agrária. Em 1962 assumiu a presidência Guillermo León Valencia. O general Rojas Pinilla foi preso em 1963 sob a acusação de conspirar contra o regime. A crise econômica levou o Congresso a conceder poderes extraordinários a Valencia. A situação continuou a agravar-se no plano político, o que culminou com a reimplantação do estado de sítio em 1965, após distúrbios estudantis.

Em 1966 começou a gestão de Carlos Lleras Restrepo, talvez a mais bem-sucedida da história colombiana. A economia recuperou-se com base num planejamento correto e em reformas políticas essenciais. Ao final de seu governo, a economia apresentava um crescimento anual de 6,9%. Na eleição de 1970, Misael Pastrana Borrero sagrou-se vencedor, derrotando o ex-ditador Rojas Pinilla. Na eleição de 1974, a presidência passou para Alfonso López Michelsen, também liberal, cujo governo enfrentou problemas econômicos. Ainda assim, em 1978 foi eleito outro liberal, Julio Turbay Ayala, contra quem se aliaram manifestações de descontentamento popular e a violência dos movimentos guerrilheiros de esquerda.

Em 1982, elegeu-se o conservador Belisario Betancur Cuartas, mas sua campanha de pacificação nacional foi obstada pelo poder dos traficantes de tóxicos — o chamado cartel de Medellín — que em 1970 se implantara no país como poder paralelo. Em 1989, o presidente liberal Virgílio Barco Vargas lançou uma gigantesca ofensiva contra o cartel de Medellín, após os assassinatos de um ministro do Supremo Tribunal e do principal candidato à eleição de 1990, Luis Carlos Galán Sarmiento. Em 1993, na gestão do presidente César Gaviria Trujillo, o chefe do cartel, Pablo Escobar, foi morto quando era caçado por soldados e policiais. Ernesto Samper, que assumiu a presidência em 1994, continuou a combater o narcotráfico, desta vez buscando desmantelar o cartel de Cali.

Instituições políticas

A Colômbia é uma república unitária dividida em 24 departamentos, quatro intendências e cinco comissariados. O presidente da república designa os governadores dos departamentos, intendentes e comissários. Os departamentos possuem suas próprias assembléias administrativas.

A constituição de 4 de agosto de 1886, objeto de várias emendas, consagra a divisão de poderes. O presidente, eleito para um mandato de quatro anos, exerce o poder executivo. O voto é universal para todos os maiores de 18 anos. O poder legislativo é exercido por duas câmaras: o Senado e a Câmara de Representantes, também eleitos por quatro anos, por sufrágio universal. O poder judiciário é integrado por juízes, tribunais distritais e corte suprema. Os municípios são dirigidos por prefeitos e conselhos eleitos.

Sociedade

A desigualdade na distribuição de renda é uma das causas da instabilidade que caracteriza a sociedade colombiana, país agroexportador subordinado à perversa relação de preços internacionais: baixos para os produtos agrícolas e altos para os produtos industriais. A riqueza se concentra em cidades com bolsões de pobreza alimentados por ondas sucessivas de migrantes rurais. A partir da década de 1970, o país passou a conviver com um extraordinário aumento na produção e exportação de entorpecentes. A formação de poderosas máfias da droga contribuiu para complicar a situação da Colômbia.

Uma característica da sociedade colombiana é sua compartimentação em unidades regionais dotadas de fortes particularidades. Desde os tempos de colônia, cada cidade importante constituiu a seu redor um território de influência, com o que se acentuaram as tendências fragmentadoras. O fenômeno, comum à maior parte da América hispânica, não só causou longas lutas civis como também a independência temporária de cidades como Cartagena e Cali.

Educação e saúde. O índice de alfabetização é alto em comparação com outros países latino-americanos, o que se deve à gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário. No final do século XIX, o analfabetismo apresentava um índice de noventa por cento. Ao terminar a década de 1980, esse índice tinha caído para 12%.

A malária e as infecções parasitárias são endêmicas nas baixadas, sendo comum a ancilostomíase. Cerca de 75% dos hospitais concentram-se nas cidades e atendem a menos de um terço da população.

Religião. Até 1853 o catolicismo foi a única religião permitida, e somente após a reforma constitucional de 1936 efetuou-se completa separação entre igreja e estado. Embora a lei proteja a liberdade de culto, a vida social é fortemente impregnada pela religiosidade tradicional e o clero exerce acentuada influência na sociedade e na política. O número de protestantes, judeus e muçulmanos, assim como os focos residuais das primitivas religiões ameríndias, são muito reduzidos. (Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)

Cultura

Literatura. Nos tempos de colônia, apesar da existência de duas universidades em Bogotá e da prosperidade econômica dos criollos, Nova Granada não conheceu um florescimento literário semelhante ao da Nova Espanha (México) ou do Peru. Nas últimas décadas antes da independência houve grande inquietação cultural, mas não grandes autores. Francisco José de Caldas, Antonio Nariño, Francisco Antonio Zea e Camilo Torres são lembrados mais como heróis da luta pela independência do que como cientistas ou literatos. A maior parte dos escritores do século XIX teve raízes mais locais do que nacionais e praticou com freqüência o costumbrismo, ou literatura de costumes. Jorge Isaacs publicou María, em 1867, um dos romances mais lidos na América espanhola.

No início do século XX destacou-se o poeta parnasiano Guillermo Valencia. Em 1924 publicou-se La vorágine (A torrente), único romance de José Eustasio Rivera, precedente de um gênero tipicamente latino-americano que tomou impulso na segunda metade do século XX. A figura mais destacada da literatura colombiana é Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel em 1982 e autor de Cien años de soledad (1967; Cem anos de solidão). Sua influência foi dominante na literatura do país e de toda a América Latina. Com o realismo fantástico, causou uma renovação no romance colombiano.

Artes plásticas. O povo chibcha era o de cultura mais desenvolvida quando os conquistadores chegaram ao território colombiano. Distinguiram-se na ourivesaria com o emprego da chamada tumbaga, liga de ouro e cobre que podia conter também prata. Domínio ainda maior da ourivesaria tiveram os povos quimbayá, do vale do Cauca. A arquitetura pré-colombiana não se desenvolveu em território colombiano como na América Central e no Peru. A misteriosa cultura de San Agustín, muito anterior à conquista, deixou vestígios notáveis.

A arte colonial está presente nas principais cidades colombianas e se destaca em edifícios históricos, igrejas e conventos de Bogotá. Cartagena possui notável bairro colonial, como o convento de Santo Domingo, a Casa da Inquisição e fortificações projetadas pelo italiano Bautista Antonelli.

A escultura, seguidora da escola sevilhana, tem um de seus exemplos no retábulo-mor da igreja de São Francisco de Bogotá, esculpido na primeira metade do século XVII por autor desconhecido.

A pintura colonial não brilhou tanto em Nova Granada como em Quito ou Cuzco, mas teve sua grande figura, no século XVII, em Gregorio Vázques de Arce y Ceballos, principal representante de um grupo de pintores muito influenciados por Zurbarán e Murillo. Na cidade de Tunga houve grande desenvolvimento da pintura mural nos séculos XVI e XVII.

A partir da década de 1920, a pintura colombiana, ainda então imobilizada pelo academicismo do século anterior, teve um despertar nacionalista, sob influência da pintura mexicana revolucionária. Na segunda metade do século XX, a arte tornou-se mais vinculada aos movimentos internacionais. Tornaram-se bem conhecidos artistas como Alejandro Obregón, Eduardo Ramírez Villamizar e Fernando Botero.

Música. A influência européia foi patente na música colombiana desde a época colonial, quando se destacaram o jesuíta italiano José Dadey, do século XVII, e Juan de Herrera y Chumacero, do XVIII. Enrique Price e José María Ponce de León, compositores do século XIX, foram precursores do nacionalismo musical que chegou a seu momento de apogeu com Guillermo Uribe Holguín, autor romântico de formação européia. Seus principais seguidores, no século seguinte, foram Jesús Bermúdez Silva, José Rozo Contreras, Antonio María Valencia e Carlos Posada Amador.

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