Áustria

 

O império austro-húngaro dos Habsburgos, que sempre viveu em permanente tensão devido aos movimentos separatistas das nações que o constituíam, desmembrou-se em vários estados em 1918, como conseqüência imediata da primeira guerra mundial. Nascia assim a República da Áustria, cuja existência foi temporariamente interrompida pela anexação nazista em 1938, mas recuperou sua independência em 1955. A partir de então, a estabilidade política lhe permitiu iniciar e manter um contínuo progresso econômico.

A Áustria ocupa superfície de 83.855km2 e se situa no centro da Europa. Não dispondo de saída para o mar, limita-se com a oeste com o Liechtenstein e a Suíça, a noroeste com a Alemanha, ao norte com a República Tcheca e a Eslováquia, a leste com a Hungria, ao sul com a Eslovênia, e a sudoeste com a Itália.

Geografia física

Geologia e relevo. Cerca de setenta por cento da superfície da Áustria é ocupada pela cordilheira dos Alpes, que ali alcança a altitude máxima na parte ocidental. É constituída por duas escarpadas cadeias calcárias, os pré-Alpes setentrionais e meridionais, que contornam um maciço cristalino de componentes mais brandos. O pico mais elevado é o Grossglockner (3.797m), na zona dos Altos Tauern, onde também se acham as maiores geleiras dos Alpes orientais, como a de Pasterze, de 32km2. No norte, entre os Alpes e os maciços da Boêmia e Morávia, estende-se o vale do Danúbio e, no extremo leste do país, em torno do lago de Neusiedl, começa a grande planície húngara. No todo, o predomínio das montanhas no relevo austríaco manifesta-se claramente na elevação média do território, de aproximadamente mil metros.

Podem-se distinguir três regiões naturais: (1) a Áustria ocidental, integrada pelos Länder de Vorarlberg, Tirol e Salzburgo, com majestosa paisagem alpina que chega à zona ocidental da Caríntia, a uma parte da Estíria e à vertente oriental dos Alpes; (2) a zona subalpina da Alta Áustria e a parte austríaca do maciço da Boêmia, sulcadas por vales que durante séculos foram as vias de comunicação com o leste e sudeste da Europa; (3) e a região que abrange os Länder de Burgenland e da Baixa Áustria, assim como grande parte da Estíria e da Caríntia, de caráter fundamentalmente agrícola. A cidade de Viena encontra-se em um ponto que é verdadeiro elo de ligação entre a região alpina e as planícies orientais.

Clima. As características climatológicas da Áustria são determinadas por sua situação na zona temperada, por seu regime continental e pela grande influência do relevo. Na parte alpina ocidental verifica-se um clima de montanha, com precipitações abundantes (cerca de mil milímetros anuais), decorrentes das massas de ar úmido que chegam do Atlântico. As regiões orientais, por sua vez, estão submetidas a um clima continental, mais seco e de maior amplitude térmica. Predominam os ventos de oeste, carregados de umidade, embora nos vales inferiores sopre o Foehn (vento quente e seco), na primavera e no verão.

Hidrografia. Quase todo o território austríaco pertence à bacia hidrográfica do Danúbio, se bem que esse rio atravesse o norte do país, de oeste para leste, em uma extensão que não ultrapassa 350km. É uma etapa de seu curso alto, o que torna difícil a navegação. Também de oeste para leste se estende a linha dos picos alpinos, a partir da qual correm os afluentes do Danúbio da metade setentrional da Áustria, no sentido sul-norte, enquanto vão em sentido oposto os da metade meridional. Apresentam todos um regime complexo: as cheias ocorrem no verão, em conseqüência das chuvas e da fusão tanto da neve como do gelo, e no inverno as águas diminuem muito.

São numerosos na Áustria os lagos de origem glaciária, sobressaindo pela beleza os da região de Salzkammergut. Duas outras bacias lacustres parcialmente localizadas em terras austríacas são as dos lagos de Neusiedl, na fronteira com a Hungria, e de Constanza, partilhada com a Alemanha e a Suíça.

Flora e fauna. Com mais de dois terços de sua superfície cobertos de bosques e de prados, a Áustria é o país centro-europeu de mais alta densidade florestal. A espécie mais difundida é o abeto, mas também há faia e carvalho em grande quantidade.

A fauna austríaca é a peculiar a toda a Europa central. Os animais selvagens são principalmente o urso pardo, a águia, o falcão e outros rapinantes, espécies protegidas por legislação específica. A caça, principalmente de gamos, é limitada a certas épocas do ano. Os rios são ricos em trutas, carpas, lúcios e percas.

População

A língua oficial e mais falada na Áustria é o alemão. Outros idiomas são usados por minorias: o servo-croata e o húngaro em Burgenland, o esloveno no sul da Caríntia e o tcheco em alguns pontos de Viena. De um modo geral, o alemão austríaco é considerado mais brando e melodioso que o da Alemanha. O dialeto falado no oeste, particularmente no Vorarlberg, é parecido com o da Suíça, e o do leste é semelhante ao da Baviera. A grande maioria da população é católica. Existem também judeus e protestantes.

Desde a segunda metade do século XV a taxa de natalidade e a expectativa de vida mantiveram-se em crescimento constante. Paralelamente, aumentou a urbanização e verificou-se um deslocamento cada vez maior da atividade econômica da agricultura para a indústria e o setor de serviços, sobretudo nos estados ocidentais. O quase completo extermínio da população judia vienense, durante o período nazista, teve uma contrapartida demográfica na imigração para Viena de grandes contingentes da população do campo e de refugiados da Europa oriental.

Nas últimas décadas do século XX, mais da metade dos austríacos viviam nas cidades. Viena reunia aproximadamente a quinta parte da população total. Graz, segunda cidade em tamanho, é o principal núcleo de comunicação com os países balcânicos, enquanto Innsbruck permanece como centro de toda a região ocidental. Salzburgo, terra de Mozart, ganhou fama mundial por seus festivais de música e seus monumentos barrocos. Linz é um dos centros industriais mais importantes do país. Klagenfurt acha-se na encruzilhada dos caminhos para a Itália e a Iugoslávia. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)

Economia

Na segunda metade do século XIX começou o desenvolvimento da Áustria contemporânea, que se acelerou depois da segunda guerra mundial. Em 1945 a economia experimentara intenso retrocesso e a produção industrial situava-se muito abaixo dos níveis alcançados antes do conflito, mas estes chegaram a triplicar nas três décadas seguintes. Para essa arrancada, a Áustria contava basicamente com importantes jazidas de diversos minerais.

Agropecuária. Aproximadamente 45% do território austríaco é apropriado à produção de alimentos. Como decorrência dos programas de modernização agrícola iniciados depois da guerra, obtiveram-se grandes melhoras no rendimento da terra e implantou-se em toda parte uma agricultura de caráter intensivo. A pequena propriedade prevalece, embora existam grandes unidades de exploração florestal. Boa parte das planícies cultiváveis é dedicada à pecuária.

Fontes de energia e mineração. A Áustria conta com excelentes jazidas de ferro na Estíria e na Caríntia, além de reservas menores de chumbo, zinco, linhito e sal. É o maior produtor mundial de magnesita, cuja exploração se concentra na Caríntia. Graças a seu relevo e hidrografia, o país é um dos principais produtores europeus de energia elétrica, parte da qual se exporta para a Alemanha, República Tcheca e Itália. Mas importa petróleo, pois sua produção é bem menor que o consumo.

Indústria. Os esteios da economia austríaca são os setores da indústria e comércio. A notável produção de ferro e aço não exclui a importação do primeiro, pois os recursos internos, apesar de representativos, não se mostram suficientes. Ocupam também lugar de relevo as indústrias de transformação do alumínio, de petroquímica, material de transportes, maquinaria, automóveis e outros bens de consumo. A indústria têxtil, tradicionalmente importante, teve seu crescimento renovado depois da segunda guerra mundial.

Comércio e comunicações. A balança comercial da Áustria mantém-se negativa e o déficit é em parte compensado com a receita proveniente do turismo. Os principais fornecedores e clientes são a Alemanha e a Suíça, seguidos pelo conjunto da Comunidade Econômica Européia e pelos países que antes integravam a União Soviética. A situação estratégica do país converte-o em núcleo fundamental das relações entre o leste e o oeste da Europa, função que preenche com eficiência graças a uma densa rede de comunicações, tanto por rodovia como por estrada de ferro. Pelo Danúbio também se transportam passageiros e mercadorias entre a Alemanha e o mar Negro. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)

História

Os primeiros habitantes conhecidos do território que viria a converter-se na Áustria foram os artífices da civilização pré-histórica de Hallstatt. Mais tarde, ao sul do Danúbio, os romanos criaram as províncias de Récia, Nórica e Panônia. Foram acampamentos romanos que deram origem às principais cidades austríacas, entre as quais a própria Viena (Vindobona). Depois das invasões dos bárbaros a paz foi restabelecida nesses territórios quando Carlos Magno, no início do século IX, protegeu seu império com a criação da chamada Marca de Leste. No final do século XI, essa marca ou fronteira, já conhecida como Áustria, passou para a casa de Babenberg, e em 1278 ficou ligada aos Habsburgos, que, graças a uma hábil política de casamentos, ampliaram consideravelmente suas possessões.

Áustria, Estíria, Caríntia, Carníola e Tirol reuniram-se a partir de 1522 sob a autoridade hereditária dos Habsburgos, que haviam adquirido (1453) o título de arquiduques da Áustria. No decorrer dos séculos XVI e XVII, a Áustria manteve-se como um baluarte da cristandade diante do império otomano. Enquanto em seu interior se continha a implantação do luteranismo, o país expandiu-se para leste. De 1687 a 1699 a coroa dos Habsburgos incorporou a Hungria e a Transilvânia.

O estado austríaco. Durante o século XVIII os Habsburgos consolidaram o estado, com um perfil cristão e absolutista. A imperatriz Maria Teresa, que reinou de 1840 a 1870, concentrou em Viena os organismos políticos e administrativos criados por seus antecessores e instituiu medidas de centralização que, embora causassem descontentamento nas diferentes províncias, seriam ainda ampliadas por seu filho José II, representante do despotismo esclarecido.

O império da Áustria e a Áustria-Hungria. As situações decorrentes da revolução francesa e do império napoleônico levaram a Áustria a participar das coalizões européias que de 1792 a 1815 se articularam contra a França. Foi uma época de sucessivas perdas territoriais. Em 1804 Francisco II dos Habsburgos proclamou-se imperador da Áustria, com o nome de Francisco I, e dois anos depois dissolveu o Sacro Império Romano-Germânico. Em 1851 convocou-se o Congresso de Viena, para proceder à divisão da Europa e sustar as manifestações de idéias liberais e nacionalistas: graças à ação do chanceler Klemens von Metternich, o estado austríaco recuperou então a maior parte de seus antigos domínios. A política interna de Metternich, nitidamente conservadora, fez da Áustria o bastião do absolutismo europeu, embora isso não impedisse que entre 1830 e 1848 os movimentos liberais e nacionalistas ganhassem força. Com a revolução de 1848, Metternich teve de fugir, do mesmo modo que o imperador Francisco I, que alguns meses mais tarde abdicou em favor de seu sobrinho Francisco José.

A constituição liberal de 1849 foi anulada em 1851, impondo-se um regime ainda mais centralizador que o de Metternich, que reforçou a unidade do exército e a autoridade da polícia. Por volta de 1866 a Áustria mostrava-se francamente empenhada em desempenhar papel preponderante na Confederação Germânica e, não o conseguindo, concentrou seus esforços na melhoria de suas relações com húngaros e eslavos.

Em 1867 estabeleceu-se o império austro-húngaro, oficialmente Áustria-Hungria, liderado por Francisco José. Tratava-se de um conglomerado plurinacional com fortes tensões internas e com uma política externa imperialista em relação à Europa central e balcânica. O desencadeamento da primeira guerra mundial (1914-1918) acelerou a decomposição do império dos Habsburgos.

A República da Áustria. A partir do verão de 1917 os movimentos nacionalistas tornaram a situação do império insustentável e Carlos I (sobrinho de Francisco José I, a quem sucedera em 1916) teve de renunciar à coroa em 11 de novembro de 1918. No dia seguinte proclamou-se a República da Áustria Alemã, que a partir de setembro de 1919 passou a chamar-se República da Áustria. O novo estado, reduzido a seu núcleo inicial germânico, teve de enfrentar desde os primeiros dias a desastrosa herança da guerra. Depois de quatro anos de esforço bélico e do desmembramento do estado, eram patentes o caos e o desastre econômico.

As eleições para a assembléia constituinte, em fevereiro de 1919, deram a vitória, por escassa margem, ao Partido Social Democrata. Em outubro de 1920 foi promulgada uma constituição que vigorou, com pequenas modificações, até 1938. Nas eleições desse ano ganhou o Partido Cristão Social, que manteve o predomínio, de forma quase constante, até o fim da primeira república, marcada por conflitos entre socialistas e conservadores, bem como pelas tentativas dos nacionalistas para união com a Alemanha.

Por volta de 1930 o país passou a ser sacudido por graves conflitos internos, suscitados principalmente pelos grupos nazistas. Em 1933 o governo de Engelbert Dollfuss dissolveu o Parlamento e implantou um regime autoritário. Houve o malsucedido levante socialista (1934) e a abolição dos partidos, menos o da Frente Patriótica de Dollfuss, que, assassinado pelo nazismo, foi sucedido por Kurt von Schuschnigg. Este, embora se esforçasse pelo apoio dos aliados, acabou assinando com Hitler (1936) um acordo que favorecia a Anschluss (anexação). Em março de 1938 o chanceler austríaco anunciou um plebiscito sobre a incorporação à Alemanha. A reação de Hitler foi imediata, invadindo o país, que se converteu em província do Reich.

A segunda república. Como parte da Alemanha, ao final da segunda guerra mundial a Áustria foi ocupada pelos aliados, e só em 1955 reconquistou sua soberania. Nos anos seguintes, para recuperar-se economicamente, industrializou-se ainda mais, dando grande impulso ao setor de serviços. Conheceu anos de orientação e governo socialista, mas a partir do início da década de 1980 caminhou principalmente de acordo com um projeto liberal. Em 1986 Kurt Waldheim foi eleito presidente, sucedido em 1992 por Thomas Klestil.

Instituições políticas

De acordo com a constituição de 1920 (reformada em 1929, suspensa em 1934 e novamente posta em vigor em 1945), a Áustria é uma república federal democrática. Seu Parlamento compõe-se de duas câmaras, o Conselho Nacional (Nationalrat), eleito a cada quatro anos por sufrágio universal, e o Conselho Federal (Bundesrat), formado por representantes dos nove estados federais. A mais alta autoridade do estado é o presidente da república, eleito por sufrágio universal por um período de seis anos. O presidente nomeia o chanceler federal (primeiro-ministro), geralmente o chefe do partido político majoritário, e pode dissolver o Conselho Federal. Cada estado tem sua própria assembléia e um chefe administrativo.

A união compõe-se de nove estados ou Länder: Viena, Burgenland, Estíria, Caríntia, Salzburgo, Baixa Áustria, Alta Áustria, Tirol e Vorarlberg.

Sociedade

Superados os difíceis anos do pós-guerra, o nível de vida dos austríacos experimentou notável elevação a partir de 1966. Para tanto, muito contribuiu a política de entendimento entre o governo, os sindicatos e as organizações empresariais, tendente a evitar greves e lock-outs. Os representantes dos diversos setores econômicos e do poder político têm atuado de maneira coordenada para conter o desemprego e controlar a inflação.

Os austríacos gozam de um amplo sistema de previdência social, que cobre praticamente toda a população e oferece três tipos principais de benefícios, além de assistência médica: seguro contra acidentes e desemprego, auxílio-maternidade e pensões por aposentadoria. É a educação, porém, um dos maiores trunfos do país. Desde 1862 tornou-se obrigatória a escolarização dos 6 aos 14 anos de idade, ampliada para nove anos a partir de 1962. Desde 1972 todos os livros escolares são gratuitos. As universidades da Áustria incluem-se entre as mais antigas de língua alemã. A de Viena foi fundada em 1365.

Cultura

A Áustria é herdeira de longa tradição cultural, que no caso da arquitetura e da poesia remonta à Idade Média, e no da medicina aos séculos XVIII e XIX. Terra de extraordinário folclore musical e de compositores como Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Schubert e inovadores como Arnold Schönberg, Alban Berg e Anton von Webern (Escola de Viena), ou de um criador de valsas como Johann Strauss o Moço, ainda atraiu para seu meio outros gigantes e intérpretes de todos os tempos como Ludwig van Beethoven, Johannes Brahms, Gustav Mahler.

Ali também teve início uma das mais importantes tendências da filosofia contemporânea, o neopositivismo do chamado Círculo de Viena, e consolidou-se a mais profunda perspectiva das ciências humanas, a psicanálise dos vienenses Sigmund Freud, Alfred Adler e Otto Rank.

Na literatura, há autores de língua alemã peculiarmente austríacos, como os dramaturgos Franz Grillparzer e Johann Nestroy, o escritor Arthur Schnitzler, ou expressionistas como o próprio Franz Kafka, que, nascido em Praga, morreu perto de Viena, e o poeta George Trakl. Na pintura moderna, é hoje célebre em todo o mundo o também expressionista Oskar Kokoschka, e o vienense Gustav Klimt retratou a mulher e o amor com um colorido delirante.

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